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Crônica, política e derivações

Oaristo

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Por Paulo Rosenbaum
Atualização:

 

 

IBGE: brasileiro casa mais vezes e uniões duram menos

 

 

 Foto: Estadão

 

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Oaristo - diálogo amoroso entre marido e mulher

Estevam trouxe o copo e sem limpar a poeira do criado mudo, empurrou, com a falange esticada, o copo para ela. Sem esperar o fim do ato, Mirta alcançou a água e debruçou seu lábio sobre ele. Ambos caíram inutilizados pelo tempo. E de novo, a certeza, o destino, as cartas retiradas e a omissão generalizada concederam a trégua. O armistício que dura mil anos depois de uma temporada de abraços. O beijo da tarde adiou o referendo, até que a noite explicou a decisão: ficariam juntos até que algo muito claro ou muito obscuro se revelasse. "Molto chiaro", ela repetiu baixinho.  Eles afinal atravessaram as manobras de todos que torcem para as médias estatísticas, o glossário do IBGE, as chances da monogamia contra as extensas ofertas contra ela. Mais do que 25 anos juntos estavam além das probabilidades. Mas só conseguiam o entusiasmo no cultivo das discrepâncias que aprenderam a enxergar. Completamente distintos, tinham a mesmíssima fome. Serviam-se das terras e cultivos. Estranhos em suas assimetrias culturais e gostos eles se encontravam nas marés vazantes só para enxergar o que lhes era comum nas praias lisas, nas areias que estalavam as bolhas salinas.  Assombravam-se com a dispersão de gente procurando gente. Homens e mulheres ansiosos e atentas para encontrar o que eles já tinham. Não parecia muito. Não parecia, mas era tudo.

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