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Crônica, política e derivações

Para que servem os ciclos, uma retrospectiva focal

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Por Paulo Rosenbaum
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Países celebram chegada do ano-novo

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 Nas várias civilizações o ano novo é um construção cultural. Observando a natureza, tudo tem ritmo e duração. Existe uma infinidade de ciclos: biológicos, meteorológicos, psicológicos e espirituais. Neste sentido, o tempo é uma espécie de régua que mensura e avaliza a duração, enquanto a intensidade impõe a cadencia. Esta característica do tempo é análoga à natureza dupla da luz, onda e partícula. Nosso organismo é um exemplo de que somos devedores de uma certa anarquia que se autocontrola. Funcionamos graças aos sistemas de retroalimentação que operam os ritmos do corpo. Os chamados biofeedbacks determinam a homeostase (estado saudável) ou a falta dela nos sujeitos. No final das contas, os ciclos são uma disritmia "controlada" responsável pela auto-regulação como já intuia o pré socrático Filolau de Crótona. Isso vale para o bioma, o clima, os organismos e também para a política. Este foi um ano em que um ciclo de governo e de gerenciamento político pode estar chegando ao término. Ainda que o executivo e o legislativo tenham repetido sua habitual e decepcionante inércia histórica.

De que outro modo qualificar o dislate quando o chefe de uma das casas legislativas ressarça a União como se fizesse grande favor? Que a linguagem do executivo, auto-eloquente e triunfalista, sirva para ocultar a gravidade da situação da economia? Por outro lado o julgamento do mensalão mostrou um vigor contracorrente. A última e única com alguma autonomia frente a um poder que nem renega mais a sanha partisã e totalitária. As manifestações de junho de 2013 foram, de longe, o acontecimento impactante das últimas décadas. Fenômeno que mereceria monopolizar qualquer retrospectiva. Com sorte, teremos alguns minutos nas agendas televisivas contra o dobro para campeões do automobilismo.

No caso das juninas, a perplexidade inicial dos analistas revelou-se diretamente proporcional à surpreendente capacidade com que a sociedade é capaz de reagir sob situações transbordantes. Não eram só os R$ 0,20, nem os 51 bi dos estádios, nem a cascata de desmandos do poder central. O verdadeiro caldo? O péssimo gerenciamento ao qual os cidadãos estão sendo submetidos. Por sua vez, as redes sociais e o tempo real acabaram com o mito da mansidão bovina dos trópicos. A docilidade nunca existiu e sequer era inata. Era um fim de ciclo, e como todo término, uma morte simbólica. É que algo precisa desaparecer para acomodar o novo. E alguém duvida dos transbordamentos que nos aguardam? Se tudo tem uma finalidade não seria diferente na teleologia dos ciclos.

Uma das funções do ciclo é evitar o colapso. Assim como alguém com muita dor "desliga" seus sistemas biológicos para preservar a vida, o ano de 2013 será apagado para que possamos entrar com fôlego e vida na nova fase: que seja sem os traumas da morte, nem as dificuldades dos recomeços.

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