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Crônica, política e derivações

Seis milhões - Dia das vítimas do holocausto

Por Paulo Rosenbaum
Atualização:

PUBLICADO NA COLETÂNEA "A PELE QUE NOS DIVIDE", Quixote-Dô, Belo Horizonte 2018

SEIS MILHÕES I Os seis estão bem aqui. posso senti-los? sob meus pés, regulares, como todas as descidas, rítmicos como gelos. intensos como arestas No declive de gênero fantasiados de corporações ?nos trens improvisados, como máquinas de extração enquanto metrificavam judeus a IBM e a Krupp? acendiam os fornos da despensa Do trem, digo? não era noite ou fumaça e de todos os dias, o carrasco detinha ?os trilhos da proficiência Não vi campos,?nem sinais de gritos, ou angústia das vítimas senti cada parada ,? cada pequena que viveu nas cavernas preservadas nas coleções intactas? ou na predação canônica A seleção naturalmente objetivada pela negação da naturalidade. Não me interessa que não vi, (nem quem não viu), Nem quem soprou seu silêncio para o vapor da constância, de quem preferiu as mãos? que alimentam quem dizima. Só saberemos quando vivermos nos esconderijos desacreditados na sonolência de nossos dedos ou nas qualidades extintas, como nós, extintos.   Não importa (nunca importou) o cultivo, mas a produção, o apreço por resultados, o rastreamento de objetos que com vida ou sem melancólica será,   Aí temos o protocolo superado a experiência romântica sustentada na escala Enquanto o mundo pensa em paz, Na calma capturada do carvão dos ossos A travessia que importa Usa força do solo como tingimento, E, como furos em flautas ?alternam sons com acendimento de vela perfiladas, nas presenças sem sequência.?na curva do mundo Na atenuação final de vidas em estudo Porque nossos olhos retêm ?o não expresso E, como trens, invadimos o mundo com troncos negros Na matéria que se impõe como referendo do espírito, Agulham nossos dias com palheiros e, à latitude da ilusão. Aterram o assombramento   Tudo, tudo mesmo ?é para que essa perplexidade gere totens ?e olhos sem braços nos alcancem? em noite de cristais, pogroms ou vidraças nos nomes que esfacelem a realidade, que, sem chances, observa ?a violência do descuido   Mas a noite, sim, anônima Impõe a presença Recontada ao infinito Mesmo que cada grão do carbono esgotado Entupa de maturidade as nações   Achamos que, ?do tabuleiro de onde estiver, deves absorver tuas regras.   II   Para infortúnio geral Somos um passado atento Seis milhões nas curvas Assistidos com a brutalidade da demora O esquecimento do mundo A carga excessiva Que impressiona apenas?os tolhidos da cena (Em Stuttgart testemunham-se monumentos nos quais as vítimas são eles) Mesmo à distância do meio do atlântico Estancaremos perto do nada   Só faz 70 anos Os campos estavam nos libertando da vida Enquanto a eugenia dos doutores ?do partido Subiam de incenso na mente do povo do silêncio Ah, estamos em comunhão Mas, para registros futuros jamais o barômetro do céu agirá aqui-agora como o esmagamento do ali-afora.   STUTTGART-PARIS JUNHO.2007  

 Foto: Estadão
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