Edmundo Leite
12 de junho de 2014 | 07h03
“Franco favorito”, mas sem exagero de confiança para não ter uma “dolorosa surpreza”. Era assim que o Álbum “Copa do Mundo” – Brasil 1950 – IV Mundial de Futebol, lançado antes da competição, analisava a participação da seleção brasileira no primeiro torneio da Fifa realizado no País. Com a trágica derrota para o Uruguai, o texto “Franca favorita a seleção do Brasil” tem trechos que hoje podem até soar proféticos:
“O Brasil entra na IV Copa do Mundo como franco favorito, porém entre nós não existe tanto otimismo, e isso afinal é um bem, porque uma exagerada confiança nos poderia levar a uma dolorosa surpreza. Aliás, o quadro do Brasil não tem convencido muito nos seus treinos e jogos pré-campeonato, daí algum pessimismo acerca de sua sorte. Mas, queremos crer que em plena competição encontrará seu justo valor e seu melhor rendimento…”
Restrições à qualidade da seleção podiam ser percebidas em outras passagens, com críticas à postura defensiva do técnico Flavio Costa e uma menção específica a goleiros, posição que seria crucial para o destino do Brasil naquela Copa:
“…Trata-se de um campeonato sem substituições, por isso a escalação do “onze” para a estréia especialmente e para outros prélios também tem quer ser acertada antes de tudo… Como será essa organização? Ninguém sabe, por enquanto, dada a reconhecida volubilidade da direção técnica. Os 22 elementos foram escolhidos definitivamente a critério de Flavio Costa, insistindo mais por valores da defesa, porém, paradoxalmente se inclinou por 2 goleiros apenas.
Em todo caso, temos 22 valores que são expressão do futebol brasileiro nêste 1950. De Barbosa a Chico, de Augusto a Adãozinho temos “cracks” de sobra… Resta, naturalmente, organizar o XI em condições ideais e embalar para a vitoria. Tecnica existe em nível superior, mas acima de tudo deve existir espírito de luta, senso de responsabilidade e apego às suas cores dos cracks que nos representarão. Que sejam felizes para o bem do futebol do Brasil!”
Apesar de levar a palavra álbum como título, o que atualmente é associado a figurinhas colecionáveis de jogadores, a publicação editada por F. Pimentel e Jair de Gusmão hoje soaria mais como um guia.
Com 96 páginas, além das capas e contra-capas, o Álbum da Copa do Mundo de 1950 mostrava um panorama completo da competição, com resultados das eliminatórias, tabelas dos jogos, história da Fifa, das outras copas, com todos os resultados, lista dos maiores estádios do mundo, e fichas em que os torcedores podiam preencher a escalação e estatísticas das partidas, com campos reservados até para “mãos na bola”, “bolas fora” e atuação do juiz.
Mas o destaque era mesmo a seção “Biografias – Os Brasileiros de Ponta a Ponta”, com fotos e um pequeno texto sobre todos os jogadores do Brasil.
Credibilidade
(…)
Além dos grandes esquadrões europeus e sul-americanos, a presença da Inglaterra veio dar ao torneio de 1950 indiscutível autoridade ao certame que apontará a verdadeira supremacia do futebol mundial. Embora lamentada, a ausência de certos concorrentes em absoluto poderá fazer diminuir o brilho do campeonato e as honras do vencedor.”
Imagens: Biblioteca Acervo Estadão (clique para ampliar)Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.