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Memória, gente e lugares

Música sustentável?

Cantora e compositora Alana Cal defende que artistas e músicos se engajem na causa ambiental

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Por Edmundo Leite
Atualização:
 Foto: Billboard Brasil

Chegou às bancas a edição número 6 da Billboard Brasil. Tá bacana. A reportagem de capa parte da apresentação do The Who no Super Bowl para discutir se a banda de Pete Townshed e  Roger Daltrey ainda tem fôlego para mais um retorno.

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A matéria de oito páginas, traduzida da matriz americana, dá uma geral na carreira do grupo, faz um apanhado das críticas - em grande parte negativas - ao show na grande final do futebol americano  e traz uma entrevista com Towshed.

Do material produzido pela redação brasileira, o destaque é a reportagem “Cristã & Casca Grossa” sobre a atual fase de Baby Consuelo, que agora assina Baby do Brasil. Para mim é Baby Consuelo, assim como o Jorge Benjor continuará Jorge Ben para sempre.

Mas isso não importa. O que importa é que o repórter Ricardo Schott e a fotógrafa Tatiana Rocha fizeram um belo trabalho sobre a artista, que já fez muito sucesso com os Novos Baianos e em carreira solo/casal com o ex-marido Pepeu Gomes e agora tenta conciliar sua fé evangélica com o seu trabalho.

Guitarra certificada

A revista tem outras coisas interessantes (Nick Jonas do Jonas Brothers em trabalho solo, Galo da Madrugada e Franz Ferdinand), mas me chamou atenção o artigo da última página “Música sustentável: realidade ou modismo?”, assinado pela cantora e compositora Alana Cal.

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Após começar o texto dizendo que a guitarra dela é feita de madeira reflorestada e certificada, que é vegetariana desde que nasceu e que sempre esteve preocupada com a consciência socioambiental, Alana defende que os artistas e músicos se engajem na causa ambiental.

Para Alana não basta que os artistas abordem o tema em suas obras. O discurso tem que ser condizente com a prática. É preciso também que boicotem instrumentos que utilizem madeira não certificada e eventos que não se preocupem com esse aspecto.

Por enquanto Alana apela somente aos colegas, mas como ela termina falando em música como instrumento de conscientização, entendi que o público também deverá ter seu papel na luta. E se o apelo da Alana for ouvido e pegar vamos ter que pensar em várias coisas antes de decidir ir a um show ou mesmo escutar uma música:

“Esse violão do João Gilberto está certificado?”; “para onde vai o esgoto dessa casa de show?”; “a energia usada nos  amplificadores do B.B King é de fonte limpa?”; “nenhum animal foi morto para fazer a pele dos tambores dessa bateria do Charlie Watts?”; “e esse piano do Elton John, não sei não, não é de ébano? tá tudo certinho nele?”; “Não tem nada antiecológico nas teclas, cordas e pedais?”; “e essa fumaça de gelo seco no palco do Paul McCartney emite quanto de CO2?”

Como em qualquer atividade, é ótimo que o ramo musical se preocupe em causar o menor dano possível ao meio ambiente. É louvável que uma empresa de violões anuncie que utilizará madeira certificada em seus produtos ou que uma fabricante de tambores desenvolva tecnologias menos agressivas para as peles de sua percussão.

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Ainda assim, soa um tanto ingênuo e com exagero militante - como é comum em outros discursos ecológicos - o artigo da Anala, que termina dizendo que a música é manifestação cultural de maior alcance na população brasileira e conclama: “Olha aí a música pedindo para ser sustentável!”

A confecção de um instrumento musical é algo contrário à preservação da natureza desde que o primeiro índio furou um pedaço de pau para fazer uma flauta. Não foi para matar a fome ou para se abrigar que esse índio pioneiro derrubou uma árvore ou mais para achar o melhor pedaço de pau para a sua flautinha. Foi por puro prazer, por lazer. O tempo passou e o mesmo vale para os artesãos ou para uma  indústria de instrumentos. A essência de um instrumento musical é contrária à natureza. É o artificial por natureza. E, muitas vezes, deliciosamente insustentável.

“Curumim chama cunhatã que eu vou contar (Todo dia era dia de índio)” faz parte do sensacional disco “Bem-vinda amizade”.

Jorge Ben na capa do disco Bem-vinda Amizade, de 1981. Foto: Som Livre

O disco de 1981 está na caixa com 13 álbuns lançada no fim do ano passado, disponível nas principais lojas virtuais:

| Americanas Cultura | Saraiva | Submarino |

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Sozinho,  só na  Amazon, que anuncia  dois exemplares.

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