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Memória, gente e lugares

Playcenter era a nossa Disneylândia

Lugar mágico, um oásis na sisuda Marginal Tietê, era muito mais que um parque de diversões

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Por Edmundo Leite
Atualização:
Imagens do último fim de semana do Playcenter.  Foto: Edmundo Leite

Com a atual facilidade para viajar ao exterior, muita gente cospe no prato que comeu. Mas durante os anos 70, 80 e 90 - quando isso era coisa para poucos, a grande área na sisuda Marginal do Tietê na capital paulista era muito mais que um parque de diversões. Além dos brinquedos que não existiam em nenhum outro parquinho por aqui, o Playcenter tinha aura de um lugar mágico, que alimentava os sonhos da molecada e meninada de todo o Brasil.

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Parentes e amigos do interior invejavam a proximidade que os daqui desfrutavam, mal sabendo que, apesar de localizado numa área quase central da capital, a ida ao Playcenter não era coisa corriqueira. Era um evento especial. Raramente anual. Não se comprava ingresso ou bilhete, mas adquiria-se um Passaporte da Alegria. O nome do documento oficial de quem precisa viajar ao exterior dá a dimensão do que significava um dia no parque.

Era mesmo um mundo à parte. O Hopi Hari, parque concebido pelo próprio Playcenter no interior próximo da capital, tentou repetir esse conceito em sua promoção, criando um país e uma língua própria, mas definitivamente a estratégia publicitária não pegou. As pessoas dizem que compram ingresso para o Hopi Hari e pronto. Vão lá, se divertem em ótimos brinquedos e levam boas lembranças do passeio. O mesmo vale para o Beto Carrero Word em Santa Catarina.

Assim como muito se orgulham de mostrar no passaporte os vistos de entrada e saída dos países visitados, quem ia ao Playcenter fazia questão de deixar marcado no braço, por quantos dias fosse possível prolongar, a marca do carimbo de tinta indelével que liberava a entrada nos brinquedos.

O anúncio pela escola de que haveria uma excursão ao Playcenter causava frisson, excitação e ansiedade. Boatos de que quem não tivesse notas boas seria vetado causavam pavor. Quem já havia ido contava aos novatos lendas e experiências para lá de exageradas de alguns brinquedos temidos.

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Confirmada a data e a lista de quem ia, começavam a se formar informalmente os grupos de amigos que se divertiriam juntos, livre dos pais. Esse arranjo, que podia mudar ao longo do dia, era fundamental para outro tipo de diversão mais mundana. Emplacar a companhia certa para entrar no trem fantasma, subir no teleférico ou na Montanha Encantada era a chance de viabilizar aquele contato mais próximo inviável no dia-a-dia da rotina escolar.

Nesse quesito, um item fundamental eram as longas e demoradas filas para entrar nas atrações mais disputadas. Com esperas que podiam ser de horas, era ali que as coisas começavam a acontecer. A estrutura de grades dispostas em serpentes permitia também uma paquera cíclica, que se dava sempre que dois pontos da fila se encontravam de tempos em tempos.

Desde o anúncio do fechamento do Playcenter, há alguns meses, já foram lembradas as histórias do início do parque, dos brinquedos fixos que marcaram época, das atrações temporárias e especiais. E cada um dos milhões que passaram por esse oásis colorido na cinzenta e poluída Marginal Tietê deve ter várias outras para contar.

É até de se estranhar que não apareceu ninguém histérico pleiteando o tombamento do Playcenter, como aconteceu quando do anúncio do fim do Cine Belas Artes. Bom que seja assim. Mostra uma sabedoria coletiva de aceitar que certas coisas das quais gostamos simplesmente acabam.

Filas vazias no último sábado do Playcenter. Foto: Edmundo Leite

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