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Memória, gente e lugares

Um motivo para ler o livro sobre Roberto Carlos: João Gilberto

Pai da bossa nova protagoniza a melhor história de 'O Réu e o Rei'

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Por Edmundo Leite
Atualização:

Esqueça que se trata do livro mais importante lançado no Brasil nos últimos tempos. Esqueça o ótimo subtítulo provocativo. Esqueça a polêmica das biografias. Esqueça as manias de Roberto Carlos. Esqueça os bastidores de uma grande pesquisa para uma biografia. Esqueça a boa história que é vida do autor. Esqueça a curiosidade de saber como podem ser escrotos advogados que fazem qualquer coisa para defender uma causa. Esqueça o ridículo do Procure Saber.

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Se nem um desses motivos ainda o levou ao “O Réu e o Rei - Minha história com Roberto Carlos, em Detalhes”, livro de Paulo César de Araújo sobre o processo do artista contra a sua biografia, há uma razão que salta das páginas: João Gilberto.

A insólita relação do pai da bossa nova com Paulo César de Araújo é, de longe, sem demérito às demais, a melhor história do livro. Começa num telefonema e se estende por várias páginas.

“... João vivia a maior parte do tempo recluso, e seu contato com o mundo exterior se dava - como ainda se dá - basicamente por telefone. Ele passa horas e horas conversando com interlocutores que na maioria das vezes nunca viram o cantor frente a frente. O que levou Tim Maia a dizer, em uma entrevista, que “João Gilberto não é uma pessoa, é um telefone”. Para mim, durante muito tempo, mais que um telefone, João Gilberto foi um orelhão.

A primeira vez que liguei para ele foi do telefone público da rua em que eu morava, em Niterói. Não dei sorte, ouvi apenas o sinal de ocupado. Tentei mais duas ou três vezes no dia seguinte e aconteceu a mesma coisa. Até que certa noite, em meados de maio, o telefone finalmente chamou e João Gilberto atendeu. Eu fazia estágio na rádio Jornal do Brasil, e dessa vez fiz a ligação de uma das salas da emissora.

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Disse meu nome, que estava pesquisando a história da música brasileira, mas não cheguei a explicar o projeto porque João Gilberto logo me interrompeu, dizendo: “Olha, você me ligou numa hora tão complicada. Estou agora muito ocupado aqui com minhas coisas e não vou poder conversar com você. Ligue outro dia”. Na hora pensei: o homem é realmente difícil. Pedi então desculpas por ligar naquele momento, disse que voltaria a procurá-lo outro dia e já ia desligar o telefone quando João Gilberto me fez uma pergunta: “Você é baiano?” A partir daí, começamos uma conversa que durou quase uma hora - e que só terminou porque me fizeram sinais pedindo para liberar o telefone.”

A conversa, Paulo Cesar não sabia, iria repercutir positivamente no universo. Leia o livro.

 Foto: Estadão