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O dia a dia dos alunos Curso Estado de Jornalismo

Como fazer um perfil

Repórter do caderno Aliás, Christian Carvalho Cruz mostrou aos focas um pouco desse artesanato que é montar um bom perfil. Segundo ele, os jornalistas trabalham - ou deveriam trabalhar - a partir da ideia que, em todas as notícias, as pessoas são fundamentais. "É preciso ouvi-las, observá-las, compreendê-las", afirmou. "Por trás das boas histórias, sempre há um ser humano."

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Por Redação
Atualização:

Christian, que acaba de ser indicado finalista do prêmio Jabuti de 2012 - com o livro Entretanto, foi assim que aconteceu: Quando a notícia é só o começo de uma boa história -, disse que uma apuração consistente é a chave para um bom perfil. De preferência, com multiplicidade de fontes. Não basta, portanto, ouvir apenas o personagem retratado. É preciso entrevistar pessoas próximas a ele, conhecer a rotina, a casa dele (ou o local em que trabalha). E estar atento ao comportamento, ao gosto e ao ambiente que cerca a pessoa.

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São essas as informações que tornarão possível escrever um texto com riqueza de detalhes e observação. Nada será ficção, muito embora o texto possa usar técnicas literárias. Trata-se de puro jornalismo. Veja aqui um exemplo do trabalho recente do Christian no Aliás e o blog que ele mantém.

Um bom perfil é aquele capaz de prender a atenção do leitor desde o início. Por isso mesmo, o jornalista insiste que a gente dedique atenção extra ao primeiro parágrafo. "O abre deve funcionar como uma isca. Cerca de 80% do seu suor deve estar nele."

O repórter apresentou aos focas exemplos inspiradores de abres. Escritos por mestres como Truman Capote e Clarice Lispector.

Luiz Fernando Mercadante: 'Jânio, Hoje' 

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 Foto: Estadão

"O Jânio Quadros de hoje é um homem corado, de 49 anos de idade, têmporas e bigodes grisalhos, barba rigorosamente escanhoada e em luta contra a balança: se facilitar, passará dos 80 quilos. E ninguém levará a sério um Jânio gordo. A idade lhe assentou os cabelos e lhe abrandou o temperamento. Mas ainda há um brilho rebelde no seu olho bom, o direito."

Truman Capote: 'Marilyn Monroe'

 Foto: Estadão

"Monroe? Uma relaxada, na verdade, uma divindade desleixada, no sentido em que uma banana split ou cherry jubilee são divinos desleixos. Seus lábios úmidos, o exagero como loura, as tiras escorregadias do sutiã, o debater rítmico da massa inquieta a lutar por espaço dentro de um abrigo insuficiente."

Caco Barcellos: 'A Louca História de Batata, o Corintiano Suicida' "Na saída do estádio, Batata desvia do boteco e continua decidido a morrer. Chega de criticar o técnico, de esperar pelo domingo, de acreditar no batuqueiro Zé Galinha. Corinthians, meu amor, pra mim chega."

Clarice Lispector: 'Chico Buarque ou Xico Buark'

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 Foto: Estadão

"Esta grafia, Xico Buark, foi inventada por Millôr Fernandes, numa noite no Antonio's. Gostei como quando eu brincava com palavras em criança. Quanto ao Chico, apenas sorriu um sorriso duplo: um por achar engraçado, outro mecânico e tristonho de quem foi aniquilado pela fama."

 

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Um clássico do gênero

Difícil falar de perfil e não pensar no clássico Frank Sinatra está Resfriado, escrito por Gay Talese e publicado na revista Esquire em 1966. Doente e decidido a não colaborar, o cantor se negou a dar entrevistas. Dificuldade que o jornalista driblou conversando com dezenas de pessoas ligadas a Sinatra e acompanhando o cantor de longe, observando-o durante seis semanas, em locais tão distintos quanto um estúdio de gravação e mesas de jogo em Las Vegas.

"Quando estava pesquisando para traçar o perfil de Frank Sinatra, descobri que a cooperação - ou a falta dela - por parte da pessoa a ser retratada não importa muito, desde que o escritor possa acompanhar seus movimentos, ainda que a distância (...), explicou Talese ao Observatório da Imprensa (leia o texto). "Foi mais proveitoso observá-lo, ouvir as suas conversas, estudar a reação das pessoas à sua volta do que me sentar e conversar com ele, caso tivesse me concedido a entrevista."Ainda não leu o perfil? Veja aqui.

 

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