Como era o piso? Qual era o tamanho do vitral? Havia um quadro no meio do caminho? Tentava lembrar, mas era inútil. Eu não havia observado o suficiente. Sentia escorrer a areia de uma ampulheta imaginária e as 20 linhas eram quase inalcançáveis.
Dezesseis sofridas linhas depois, Carla chegou e pediu para trocarmos de lugar com o colega ao lado. Quem reconhecesse um texto bom poderia levantar a mão ou ler em voz alta. Enquanto olhávamos as telas, ela ia fazendo comentários. "Dizer que o porteiro é simpático não é descrever o caminho." Silêncio. Eu havia escrito que o porteiro era bem-humorado. Metade da sala também.
Todos os comentários me fizeram achar que quem estava lendo o meu texto não levantaria a mão. Acertei. Com tristeza e com alívio, vi que Antônio não leu nada do que escrevi em voz alta. O mesmo não aconteceu com o texto que eu lia, o dele. "Este é um dos poucos textos bons", disse Carla. O resultado do exercício trouxe a lição: prestar mais atenção no que há em volta. O sufoco trouxe a lembrança da dica do Chico Ornellas: manter a humildade.
Beatriz Bulla, de 21 anos, cursa o último ano de Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero