Já foi o tempo em que a indústria do tabaco podia fazer comerciais cinematográficos. A interação com futuros profissionais de imprensa se tornou uma estratégia para conseguir comunicar a importância econômica, as dificuldades e os valores do setor. Entretanto, se engana quem pensa que seus representantes são engraçadinhos e dispostos a dar glamour ao mundo do cigarro como Nick Naylor, o lobista interpretado por Aaron Eckhart em Obrigado por Fumar.
No filme, Naylor se mostrava ávido por conquistar novos e jovens consumidores, discursava sobre liberdades individuais e exaltava os prazeres de fumar. Nas palestras que vimos, no entanto, houve uma postura quase oposta. Era como se o setor estivesse pedindo desculpas por existir: admitiu que não há níveis seguros para o consumo de cigarros, declarou apoio a medidas para restringir a publicidade desse tipo de produto e disse o tempo inteiro que seu objetivo não é formar novos fumantes, mas conquistar os da concorrência. Os empregos e os impostos gerados pela cadeia do fumo foram sempre a principal resposta diante da maioria das críticas.
O discurso da vida real é muito mais responsável e politicamente correto do que o do filme. Porém, na busca por se defender de antemão de possíveis ataques, um argumento fundamental para a legitimidade do setor foi quase ignorado: a liberdade individual. Talvez tão interessante como lembrar o ciclo econômico dessa produção seria evidenciar que, ao fornecer o cigarro, a empresa está vendendo a um indivíduo consciente um produto que ele escolheu e escolhe usar, mesmo conhecendo todos os riscos desse uso. Mas parece que a liberdade individual é uma coisa cada vez mais fora de moda.