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O dia a dia dos alunos Curso Estado de Jornalismo

Foto documental exige paixão e envolvimento

Por Rodolfo Mondoni

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Por Redação
Atualização:

No último dia da 3ª Semana Estado de Jornalismo Ambiental, o fotógrafo documental independente, Érico Hiller mostrou como é possível contar histórias através de imagens e o papel da fotografia para trazer o debate sobre temas atuais e de interesse público. O fotógrafo apresentou aos estudantes seus projetos autorais, o primeiro deles iniciado em 2008, e que resultou no livro "Emergentes". O objetivo desse ensaio era mostar através de imagens como é viver nesses países. Para responder essa questão, ele visitou grandes cidades da Argentina, Brasil, China, Índia, México e Rússia, com o intuito de registrar as tensões sociais e ambientais presentes nesses locais.

"O fotógrafo documental precisa se dedicar sobre aquilo que ele realmente acredita e gosta. Temas que estão na sua corrente sanguínea e que dão motivos suficientes para ele se dedicar durante anos se for preciso", afirmou Hiller.

Fotógrafo Érico Hiller fala para estudantes na 3ª Semana Estado de Jornalismo Ambiental Foto: Estadão

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Em 2011, o fotógrafo apresentou seu segundo trabalho, "Ameaçados - Lugares em Risco no Século 21", com imagens de locais que correm o risco de sofrer grande impacto ou até mesmo desaparecer, em função de mudanças climáticas e da ação do homem. Na Groenlândia, Hiller registrou como o aquecimento global tem causado o derretimento das geleiras e mudanças drásticas na paisagem e, consequentemente, na vida de seus habitantes. O aumento da temperatura também ameaça a cobertura de gelo de locais como o monte Kilimanjaro, na Tanzânia. Esse derretimento tem causado o aumento do nível dos oceanos que ameaçam regiões como a Maldivas, arquipélago que corre o risco de ficar de baixo d'água e que também integra o projeto. Outra região escolhida foi o Vale do Rio Omo (Etiópia) onde a construção de uma hidrelétrica tem causado impactos na vida das populações tradicionais.

O Brasil também tem um representante nesse lista nada motivadora. O local escolhido foi a Mata Atlântica, que aparece por dois motivos. A floresta como um todo está ameaçada e muitas espécies podem ser extintas, considerando que esse território apresenta um dos maiores índices de biodiversidade do planeta.

Em 2014, a ONG internacional WWF lançou um relatório afirmando que nos últimos 40 anos, o planeta perdeu 50% de sua fauna. E na América Latina, a redução dos vertebrados foi de 83%. A extinção de uma espécie é o tema do projeto que o fotógrafo está trabalhando atualmente. "A Jornada do Rinoceronte" revela a situação desse animais de 50 milhões de anos que estão muito próximos de desaparecer, por resultado da caça ilegal.

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Entre os diversos países que passou para seu mais novo projeto, Hiller esteve no Quênia, onde fotografou Sudan, o último rinoceronte branco macho do mundo. O animal é vigiado por homens armados 24 horas por dia e seu  chifre foi removido para afastá-lo do comércio ilegal. No mercado negro, um chifre de marfim rende até 75 mil dólares por quilo. Sudan é o único macho da espécie que possui apenas 4 fêmeas no mundo, duas delas vivem na mesma reserva que ele, e as outras estão em zoológicos, em San Diego (Califórnia) e na República Tcheca.

Sudan, o último rinoceronte branco macho do mundo. Foto: Érico Hiller

Tênue Linha é o terceiro e mais recente projeto de Érico Hiller. Nele, o fotodocumentarista registrou quatro cidades que passaram por tragédias ou fatos históricos que marcaram o local e a vida de seus moradores. Entre 2012 e 2013, Hiller visitou Berlim (Alemanha), Nova York (EUA), Kigali (Ruanda) e Havana (Cuba). Em Berlim, seu foco era documentar como o muro de Berlim, que dividiu a cidade até 1989, mudou a vida das pessoas. Ruanda foi escolhida por causa do genocídio que tirou mais de 1 milhão de vidas em apenas 100 dias em 1994. A Revolução Cubana e os atentados terrorista de 11 de setembro de 2001, em Nova York, também fazem parte desse trabalho.

Hiller disse ao Blog em Foca que quando terminar o trabalho sobre os rinocerontes, pretende fazer um projeto sobre a água, todo em P&B. "Esse trabalho ainda está totalmente no plano das ideias, talvez eu comece a trabalhar nele ano que vem".

Financiamento

Érico Hiller fica meses e até mesmo anos em cima da mesma história. Para produzir o "Ameaçados", por exemplo, ele teve de fazer 10 viagens, em 1 ano. Além disso, alguns livros tem mais de 200 páginas, o que gera um custo de até R$ 200 mil somente na impressão de todos esses exemplares. Ele disse que utiliza financiamentos através de leis de incentivo e patrocínio direto, tanto de empresas como de pessoas físicas.

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"Eu gosto de ir atrás dos meus financiamentos, e conversar com meus patrocinadores para deixar bem claro o que eu pretendo. Essa é uma competência que os fotógrafos e os escritores acabam adquirindo", explicou.

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