Investimento em inteligência artificial que ajude a compreender o leitor e o jornalismo associado à programação para lidar com dados são direções a que a mídia brasileira deve avançar para se atualizar e se tornar mais sustentável nos próximos anos, de acordo com Guilherme Döring, presidente executivo do Grupo Paraná de Comunicação, que controla o jornal Gazeta do Povo. O executivo, que traça o futuro do jornal que se tornou exclusivamente digital em 2017, aponta que os veículos devem, cada vez mais, aproximar-se do público e utilizar inteligência para melhorar o alcance e a relevância do conteúdo.
Uma das estratégias utilizadas pelo jornal em sua nova era digital é a experimentação. "Hoje, por exemplo, fazemos testes com os títulos de publicações. Publicamos títulos diferentes para uma mesma matéria e vemos qual dá melhor resposta." O jornal acompanha também o percentual de leitores que estão dispostos a pagar por informação digital. "O foco no leitor, no assinante, é crucial", afirma.
O presidente do grupo deu palestra no terceiro dia da Semana Estado de Jornalismo 2018 sobre o futuro do jornalismo e as soluções para a sua sustentabilidade e apresentou o modelo que o jornal que comanda segue para se renovar
A Gazeta do Povo extinguiu sua versão impressa e embarcou em um projeto de inovação digital há um ano e três meses para concentrar-se no produto jornalístico do modelo que indica ser o futuro da área, o de assinaturas digitais. De acordo com Döring, o jornalismo precisa tornar-se capaz de se equilibrar para se sustentar sozinho financeiramente. "Com a dedicação apenas à plataforma digital é possível aumentar o número de inovações exponencialmente. Se tivéssemos ainda as outras plataformas seria difícil fazer as mudanças no ritmo em que estamos conseguindo fazer", destaca.

A mídia brasileira deve atentar-se, além da experiência do leitor, à utilização da inteligência artificial para lidar com bases de dados de maneira consistente, foco do jornalismo internacional hoje, vastamente utilizada por veículos de alcance mundial, como The Washington Post e The Guardian.
Leitor ativo
A participação do leitor na mídia é algo que deve ter cada vez mais espaço, de acordo com Döring. A abertura para comentários que estimulam debates qualificados é positiva para o jornalismo. "Comentários podem ser um pesadelo em períodos de polarização, o que levou alguns jornais a inclusive fecharem as áreas para comentários, mas é importante dar importância aos que qualificam o debate, como faz a revista The Economist." Para tal, a inteligência digital é a solução, segundo o executivo. "Às vezes inclusive pessoas de grande peso e especialistas intervêm e acaba sendo um conteúdo relevante para o próprio assinante."