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O dia a dia dos alunos Curso Estado de Jornalismo

Jornalismos colaborativo e independente são temas do terceiro dia da Semana Estado

Jornalistas do Nexo Jornal e do Zero Hora falam sobre projetos paralelos à cobertura hard news tradicional

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Por Redação
Atualização:

Por Mariana Agatti

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A colaboração entre jornalistas em projetos de fôlego e as grandes reportagens feitas fora das grandes redações foram os dois temas abordados pelos palestrantes do terceiro dia da 12ª Semana Estado de Jornalismo. No primeiro bloco, a diretora de redação do Zero Hora, Marta Gleich, e a co-fundadora e diretora geral do Nexo Jornal, Paula Miraglia, apresentaram seus projetos e responderam perguntas da plateia e dos estudantes que acompanhavam o evento pelas redes sociais.

Marta Gleish e Paula Miraglia Foto: Estadão

Marta Gleich abriu a tarde de discussões. Ela falou sobre a reportagem investigativa Universidades S.A, um trabalho colaborativo entre cinco grandes jornais do País - Estado, O Globo, Zero Hora, Gazeta do Povo e Diário Catarinense - que investigaram as relações entre universidades públicas brasileiras e empresas privadas.

O projeto envolveu 20 jornalistas, demandou quatro meses de apuração e desmascarou várias relações ilícitas, como o caso da Universidade Federal do Paraná (UFPR) - usada para driblar licitações de consertos nas estradas - e a descoberta de professores com dedicação exclusiva que faziam trabalhos paralelos. Marta mostrou que a reportagem repercute até hoje. "Foram abertos inquéritos, sindicâncias e isso continua acontecendo. A reportagem levou a uma fiscalização mais forte."

Além do Universidades S.A., Marta também falou sobre o grupo de jornalismo investigativo da RBS, o GDI, que em dez meses conseguiu produzir 30 reportagens investigativas. O grupo motivou a abertura de 28 investigações oficiais por órgãos públicos, como o Ministério Público e Corregedoria da Justiça. Ela ressaltou as habilidades investigativas da equipe de repórteres envolvidos no projeto, desenvolvidas de diferentes maneiras: infiltração, jornalismo de dados, experiência em áreas de conflito e experiência com a Lei de Acesso à Informação. "A equipe é movida pela curiosidade absurda e por querer fazer um conteúdo único e próprio. Atitude é uma coisa fundamental."

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Na sequência, Paula Miraglia palestrou sobre o trabalho desenvolvido pelo Nexo, que inova ao apresentar um modelo de negócios diferenciado e o conceito de jornalismo de explicação. Para tanto, o jornal conta com uma equipe enxuta, mas diversificada, com especialistas em gráficos e infográficos, cientista de dados e desenvolvedor. "Uma característica muito grande do Nexo é que as equipes trabalham muito conjuntamente. Eu acho que é extremamente inspirador, essa construção coletiva."

Paula ressaltou que o jornalismo vive um momento de extrema criatividade e que o futuro da mídia é ser muito plural. É nesse cenário que o Nexo desempenha um papel complementar ao noticiário hard news, com matérias explicativas e aprofundadas: "Somos um ecossistema complementar, pautados pelos jornais que dão a notícia quente. Nosso papel é organizar isso. Ou então nós chamamos a atenção do leitor: por que é que a gente está vivendo isso agora?"

O primeiro bloco terminou com as duas jornalistas respondendo os alunos. Elas discutiram o sistema de paywall, adotado tanto pelo Zero Hora como pelo Nexo. "Jornalismo de qualidade e jornalismo investigativo custam caro. É duro dizer isso, mas os jornais habituaram de uma forma equivocada o público de que conteúdo de qualidade na internet é de graça", disse Marta sobre o acesso às matérias publicadas.

Outro assunto abordado foi a dificuldade de se manter equilibrado no atual cenário polarizado do País. Paula afirmou ser desafiador ter o equilíbrio como elemento central, e que constantemente o Nexo é cobrado para escolher um lado. "Hoje, ser a narrativa vitoriosa é mais importante do que a narrativa em si. Precisamos reafirmar o tempo todo que o debate é necessário." Marta respondeu por outro caminho: "A gente prefere usar a palavra independente do que equilíbrio. A palavra independente juntada ao jornalismo te dá a independência de tratar todos os assuntos, trazer todas as vozes e mostrar todas as opiniões."

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