Por Roberta Vassallo
Demanda crescente, a checagem de fatos tem papel essencial na sociedade à medida que o compartilhamento de desinformação aumenta. Além da verificação do discurso público, agências especializadas em checagem trabalham hoje para orientar sobre publicações de fake news. "Não é um problema que vai embora com facilidade, é estrutural. Não existe uma vacina, não vamos chegar uma fórmula pronta que acabe com o problema das notícias falsas. A gente vai ter que aprender a conviver com isso", afirma Tai Nalon, a diretora executiva e cofundadora da agência de checagem Aos Fatos.
É o trabalho de orientação que faz a bot da agência, Fátima, no Twitter. O perfil de inteligência artificial criado com programação identifica publicações na rede que compartilham links de notícias falsas e faz um comentário no tweet que alerta que aquela não é uma notícia verdadeira e anexa o link da checagem feita pela agência sobre o assunto. "A Fátima surgiu da demanda de furar as bolhas. Os consumidores de conteúdo de checagem de fatos não são os mesmos que leem notícias falsas ou desinformação". A iniciativa foi desenvolvida sob a premissa de que as pessoas que são expostas à desinformação também têm o direito de ter acesso a informação verificada.
Evolução da checagem
As agências de checagem surgiram como uma forma de entregar informações sobre a veracidade de discursos, como os de políticos, de forma objetiva. As primeiras iniciativas desenvolveram-se nos Estados Unidos em 2008, na cobertura das eleições presidenciais. No Brasil, a primeira experiência da natureza ocorreu durante as eleições de 2010 e, até 2015, os serviços de checagem eram majoritariamente ligados a eleições. "É fato, porém, que políticos não falam só verdades ou mentiras durante as eleições, eles estão discursando o tempo inteiro", alerta Tai.
De acordo com a diretora da iniciativa de verificação, a demanda pela checagem não ocorre apenas durante as eleições. Hoje, com estruturas de checagem que atuam constantemente, o serviço tornou-se necessário para além da verificação de discursos e entrou na esfera do compartilhamento de notícias e informação enganosa.
Combatendo a desinformação
A jornalista compara o trabalho de enfrentamento a discursos e publicações enganosas ao cuidado que internautas passaram a tomar com e-mails suspeitos que poderiam conter vírus. "Os vírus não foram embora, mas a gente sabe que hoje não podemos abrir aqueles e-mails, porque eles são duvidosos, não sabemos a origem. Não é qualquer coisa que a gente pode consumir só porque a gente recebe." Com as fake news, diz, deve-se trabalhar para despertar a mesma consciência.
Iniciativas de educação, esclarecimento e incentivo à leitura são algumas no espectro das campanhas que combatem a desinformação "para que pelo menos duvidem daquilo que recebem", reitera.O problema não é exclusivamente nacional e a solução ainda está em desenvolvimento. A disseminação de fake news, fenômeno mundial, não é sequer particular de certas classes sociais ou nível de instrução. A atenção deve partir de todas as camadas. "Hoje todas as pessoas são republicadoras, então todas têm responsabilidade sobre as informações que compartilham nas redes sociais."
A diretora da agência de checagem Aos Fatos dá dicas de como não cair em fake news ao se deparar com notícias compartilhadas.
Verificar se:
-Existem responsáveis editoriais por esse site, um expediente, pessoas responsáveis pela publicação
-As notícias são assinadas, se existem jornalistas
-Existe um endereço, e um CNPJ público da empresa responsável pelo site
-As fontes a que são atribuídas as informações daquele texto de fato existem
Fazer buscas sobre o assunto:
-Ver se a notícia foi repercutida por outros sites -- se é uma notícia bombástica, ela provavelmente será publicada por sites diversos
-Verificar a data em que foi publicada -- a notícia pode não ser falsa, mas se referir a um evento de anos atrás.
"Se você duvidou ou se aquilo parece suspeito a primeira ação que você deve fazer é não compartilhar. Uma vez que você compartilha com outra pessoa, você também passa a ter responsabilidade sobre aquela informação", afirma.