Especializado em violência, o jornalista Bruno Paes Manso atribui à produção de uma reportagem o início de 16 anos de pesquisa acadêmica sobre o tema. Ele apresentou nesta terça-feira, 24, na Semana Estado de Jornalismo, os bastidores da criação do Monitor da Violência, um especial publicado em setembro deste ano pelo G1.
Bruno se formou em jornalismo em 1996. Três anos depois, em 1999, o estado de São Paulo atingiria o auge de homicídios, quando 15.719 pessoas foram mortas segundo a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados. Na época, o jornalista estava na revista Veja e propôs uma reportagem sobre os extermínios ocorridas naquele ano. Em setembro, quando o texto foi publicado, já eram 49 chacinas, que haviam deixado 147 mortos.
Os dados foram o "gancho" de que Bruno precisava para convencer seus editores a publicar um especial sobre o tema, que contaria com os depoimentos de 12 acusados de participar em chacinas em São Paulo. "Fui falar com os matadores para saber porque eles matavam, quem eles matavam. Contatei um advogado que me apresentou a eles e a gente ficou horas e horas conversando", lembra.
Produzir a reportagem introduziu o jornalista ao tema da violência. "Aquilo mexeu muito com a minha cabeça porque era muita informação interessante, que ajudava a entender um pouco essa dinâmica que levava às chacinas. Aí eu achei que tinha que ir além do jornalismo para ter essa resposta."
Em 2001, o repórter começou seu mestrado em Ciência Política na USP, pesquisando os homicídios em São Paulo. O tema evoluiu para um doutorado e, na tese apresentada em 2012, o agora pesquisador avaliou a evolução dos números de assassinatos no estado e o impacto que a superlotação dos presídios teve sobre a redução das mortes violentas ocorrida a partir de 2000 no estado.
Bruno produz atualmente seu pós-doutorado no Núcleo de Estudos de Violência da USP, sem ter certeza se volta para a reportagem em tempo integral. "Estou nesta fase de transição: não sei se fico na carreira acadêmica ou no jornalismo. Não está decidido e não depende só de mim. Depende de quem vai me empregar [risos]. Existe uma dificuldade muito grande do jornalismo se financiar atualmente e mesmo as grandes redações precisam se reinventar."