Havia acabado de entrar na fila para o terminal de embarque internacional quando, logo atrás de mim, chegou uma família muçulmana. O homem tinha uma densa barba e usava turbante; a mulher, burca. Eles tinham um casal de filhos pequenos, que se vestiam iguais a qualquer outra criança "ocidental". Não eram brasileiros, mas falavam bem o português.
À minha frente, estava outra família, brasileira, também com um casal de filhos pequenos. Logicamente, não demorou muito para as crianças começarem a brincar. Nenhum dos pais achou ruim aquela situação. A amizade instantânea dos filhos criou motivo para eles também começarem a conversar. E foi justamente a mulher de burca quem iniciou o assunto. Com um tom de voz firme e simpático, comentou, com bom humor, sobre o trabalho que os filhos davam. Em pouco tempo, o assunto evoluiu para as viagens que as duas famílias fariam.
O fato mais curioso foi que, no primeiro momento, apenas a mulher conversava com o casal brasileiro. O marido, nitidamente uma pessoa mais reservada, soltava poucas palavras, apenas complementando os dizeres da esposa. E entre as crianças, a menina muçulmana era justamente a mais expansiva e alegre: gritava e ria de um jeito que todos no terminal podiam ouvir. Exercia até certa liderança na brincadeira com o irmão e os novos amiguinhos.
Naquele dia comecei a aprender a não cometer certos pecados. Quando vi aquele casal se aproximando, não pude deixar de sentir pena da mulher. Antecipadamente, deduzi que ela deveria ser uma pessoa triste, submissa e oprimida. Imaginava todos aqueles panos escondendo uma face sem sorriso e amargurada. Preconceito, felizmente, em pouco tempo desfeito.
Reinaldo Adri, de 22 anos, é formado em Jornalismo pela Universidade Para o Desenvolvimento do Estado e Região do Pantanal