Danielle Villela
Uma caderneta de viagem com aquarelas e manuscritos inéditos sobre o Brasil do século XIX será doada nesta sexta-feira, 3, ao Museu Imperial, em Petrópolis, na região serrana do Rio, após cerca de 160 anos guardada pelos descendentes do seu autor, o inglês William Rickford Collet (1810-1882). Com 70 páginas, o volume "Journey from Rio de Janeiro to the Mines" (Jornada do Rio de Janeiro para as Minas, em tradução livre) foi trazido da Nova Zelândia para o Brasil por Deirdre Atmore e George Andrews, trinetos de Collet.
Produzido por Collet durante sua viagem do Rio de Janeiro a Minas Gerais entre fevereiro e abril de 1848, o diário contém raras aquarelas da paisagem da Serra Fluminense, da Fazenda do Padre Correa e da construção do Palácio Imperial de Petrópolis, residência de verão do imperador d. Pedro II e sua família, onde desde 1940 funciona o Museu Imperial.
"É uma das imagens mais antigas do Palácio. Um registro de grande importância nacional e um dos mais significativos da região de Petrópolis, que na época era uma estação de descanso para as tropas e animais que seguiam viagem do Rio para Minas", afirma Maurício Ferreira, diretor do Museu Imperial. Segundo Ferreira, o principal interesse de Collet em sua viagem era a busca por ouro.
Além das aquarelas, o diário também contém descrições detalhadas sobre as paisagens, as pessoas e os costumes observados por Collet durante sua viagem. Com encadernação de couro e fecho de metal, a caderneta está muito bem conservada e seu conteúdo será transcrito e traduzido pela equipe do Museu Imperial.
Jornada - Collet retornou para a Inglaterra após sua viagem ao Brasil, mas seu diário acabou sendo levado por seus descendentes para a Nova Zelândia. Desde 2007, os trinetos do inglês Deirdre Atmore e George Andrews tentavam negociar a venda da caderneta com instituições brasileiras, mas não obtiveram sucesso.
"Ficamos muito felizes com a contribuição e desprendimento deles em doar esse material, que tem grande interesse para nossa cultura e nosso patrimônio. Não há interesse nesse documento na Nova Zelândia, não diz nada para eles", afirma Ferreira.
Acervo - Ferreira destaca que o diário de Collet se inscreve no rol dos registros de viagem comuns no século XIX, especialmente aqueles produzidos por súditos da coroa britânica, entre diplomatas, militares, engenheiros e artistas. "Os ingleses tinham uma preocupação maior em fazer a descrição sistemática e precisa de suas observações", disse.
Entre os exemplares da categoria literatura de viagem produzidos na primeira metade do século XIX sob a guarda do Museu Imperial estão "Vistas e costumes da cidade e arredores do Rio de Janeiro em 1819-1820", do Lieutenant Henry Chamberlain, "Diários do almirante Graham Eden Hamond, 1825-1838" e os "'Sketches' do tenente William Smyth, 1831-1834".