Mais antiga confeitaria do Rio de Janeiro, a Casa Cavé reabriu no prédio histórico em que começou a funcionar em 1860, na Rua Sete de Setembro, 133. Por aquele salão de chá, passaram de d. Pedro II a Juscelino Kubitschek. De Olavo Bilac a Carlos Drummond de Andrade. Ali degustaram pastéis de Belém e "ratinhos" de pão de ló e especiarias, doces que fazem a fama do local atravessar mais de século e meio.
Foram 15 anos "fora de casa". Uma questão técnica obrigou a troca de endereço - não se podia expandir a cozinha do prédio tombado e era preciso dar vazão à produção diária de mil doces, além dos salgados. Instalaram-se, em 2000, no 137 da mesma rua. Sete anos depois abriram a "Cavezinha", espaço para lanches rápidos na Rua Uruguaiana.
Em 2007, a Manon, outra confeitaria conhecida na cidade, instalou-se no prédio da antiga Cavé. Estava feita a confusão. Como a fachada é tombada, não havia letreiros com a informação. Era comum amigos marcarem na Cavé e irem parar na Manon. A "novata", fundada em 1942, deixou o local em julho de 2014, por causa do aluguel caro.
O dono do prédio, um português, procurou os quatro sócios da Cavé, também de famílias portuguesas, propondo o retorno. Foi preciso refazer o telhado, restaurar vitrais. E reformular o cardápio. Os saudosistas dos sabores da Cavé não precisam se assustar: as receitas centenárias, como a do bolo de Reis e das balas de caramelo, serão mantidas.
"É uma casa de essência portuguesa. Trouxemos o que há em Portugal e é pouco conhecido por aqui. É um novo conceito, mas mantendo a tradição desse salão centenário", diz o gastrônomo Alfredo Galhões, responsável pelas novidades.
Dos bares portugueses, vieram sanduíches como o "Francesinha", de filé mignon, linguiça defumada, queijo, presunto e molho especial de cerveja em três fatias do pão Petrópolis feito na casa. E também o "Bifana", de filé mignon, cottage, gorgonzola e cebolinha, coberto com lascas de alho frito, no pão ciabata fermentado em iogurte, também feito na Cavé.
Além da linha de sanduíches, há os pratos principais como a posta de bacalhau fresco, como molho cítrico de laranja e maracujá. "Aqui praticamente só se conhece o bacalhau curado", diz Galhões.
A reinauguração está marcada para esta quarta-feira, 13, mas os salões já estão abertos. "Ah, que saudade da Cavé", foi logo exclamando na manhã desta segunda-feira, 11, a aposentada Marinalva Bispo Rezende, de 82 anos, que costumava lanchar ali com "um namoradinho". "Eu fui gerente das casas mais chiques, como a Sloper e a Notre Dame de Paris. Para vir à Cavé, usava-se luvas", lembra. "Vir aqui é reviver o passado".
É esse o sentimento do confeiteiro João Alves de Figueiredo, de 66 anos, funcionário há 35 da confeitaria. Paraibano, descendente dos índios tapuias, se encantou com os doces da Cavé. "Eu só conhecia rapadura e as frutas em caldas. Achava que se aprendesse a fazer aqueles doces seria rei na Paraíba". Passou 12 anos esperando abrir vaga de garçom.
No intervalo do almoço, oferecia-se para lavar as panelas da "fábrica". Foi de orelhada que aprendeu a fazer pastéis de Belém, biscoitos, bolos de Reis. Ganhou a vaga com que tanto sonhava, com os patrões conheceu Portugal e já recebeu - e recusou - proposta para voltar à terra natal para trabalhar como confeiteiro. "Vir para esse salão é rejuvenescer 35 anos. Drummond sentava nessa mesa aqui. Servi muita salada de fruta com groselha para ele", lembra.
As tradicionais confeitarias do Centro:
Casa Cavé (endereço tradicional, fundada em 1860) - Rua Sete de Setembro, 133.
Casa Cavé (balcões e salão de chá para 120 pessoas) - Rua Sete de Setembro, 137
Casa Cavé (conhecida como Cavezinha, com balcão e 8 lugares sentados). Rua Uruguaiana, 11.
Confeitaria Colombo, fundada em 1894 - Rua Gonçalves Dias, 32.
Confeitaria Manon, fundada em 1942 - Rua do Ouvidor, 187