Era a última viagem do primeiro sábado de operação dos bondinhos de Santa Teresa desde a reabertura da operação, em caráter experimental, no dia 27 de julho. O pequeno trecho em funcionamento, apenas 16% do percurso original, de 10,5 km, contrastava com as enormes filas que se formaram durante todo o dia. A última delas, já menor, embarcou pouco antes das 18h, eufórica com a chegada do derradeiro veículo. Mas antes que a marca dos 10 metros de trajeto pudesse ser (lentamente) alcançada, o bonde parou: havia um carro, particular, no meio do caminho.
Era um automóvel Volkswagen, estacionado por algum desavisado perto demais dos trilhos. Parecia que a viagem de bondinhoia acabar ali mesmo. O tom de voz animado do condutor logo deu lugar a um outro, mais envergonhado, porém disfarçado com brincadeiras. "Para passarmos precisaremos de homens, homens fortes", enfatizou. "Quem poderia dar esse braço?" Logo vieram as palmas e o "jeitinho" parecia ter transformado tudo em motivo de piada.
Os voluntários, entre eles alguns turistas, desceram do bonde para tentar resolver o problema. Levantaram o Volkswagen, com freio de mão puxado, por baixo e, juntos, conseguiram colocar o carro alguns centímetros mais longe dos trilhos. A expectativa era que o bondinho finalmente tomasse o rumo do Largo da Carioca, o ponto final. Não foi daquela vez.
Depois de uma observação mais atenta, o condutor deu um novo da situação. "Ainda não deu, a gente vai ter que dar mais um jeitinho, desculpa aí". "Homens fortes" novamente convocados, mais palmas. Era hora de mais um empurrão.
Dessa vez, funcionou. O condutor - que ajudou a empurrar o veículo - retomou o controle do bonde e, bem devagar, fez a curva, vencendo o obstáculo. Do Curvelo à Carioca, os flashes e a curiosidade pelo retorno do bonde partiam de visitantes e até de moradores do bairro. "Estou me sentindo uma celebridade", brincou uma mulher. No fim, a falha de fiscalização transformou-se em uma pequena aventura.
"Obrigado, gente. O passeio é com emoção", disse o condutor.