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Pesquisa aponta para dificuldades do PSDB na última eleição

Para pesquisadores, Aécio está sem base política no estado e disputa com tucanos paulistas em nova candidatura à Presidência

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Por Redação
Atualização:

Por Juliana Dal Piva

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Um dos resultados mais surpreendentes da última eleição aconteceu em Minas Gerais. Após 12 anos de gestão do grupo político do senador Aécio Neves, as derrotas do PSDB para o PT no governo mineiro e na disputa presidencial se mostraram decisivas para a quarta derrota dos tucanos na corrida pela Presidência da República. Desde o início do ano, o cientista político Rudá Ricci lidera cinco pesquisadores para produzir "O pouso do tucano". O livro analisa a linha de gestão e as estratégias políticas que sustentaram o grupo de Aécio no governo mineiro até perder em 2014. Ricci diz que o quadro coloca Aécio em posição mais frágil na disputa com o governador Geraldo Alckmin e o senador José Serra em uma eventual nova candidatura tucana à Presidência.

A primeira parte da pesquisa foi adiantada para o Estado. Conclui que o PSDB não tinha uma base sólida no interior, o que pode ter colaborado para os resultados do ano passado. Para Ricci, esse cenário fez com que Aécio dependesse muito da votação em São Paulo. Os pesquisadores resgataram os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas votações das 46 cidades-pólo de Minas Gerais das eleições estaduais de 2002, 2006 e 2010 e das disputas municipais de 2004, 2008 e 2012. A análise se desenvolveu sobre as vitórias nesses municípios, rotulados como estratégicos para o estado.

"É uma referência político-administrativa da Secretaria de Planejamento de Minas e faz com que esses locais concentrem serviços públicos e privados. Essas cidades passam a ter uma liderança em termos de voto e influenciam sua região. Você entende melhor o estado de Minas se compreender o comportamento dessas cidades-pólo", disse Ricci.

Os resultados mostram o cenário de sucesso na briga pelo Palácio das Princesas até 2006, quando Aécio venceu em todos os 46 municípios. Já na reeleição do ex-governador Antonio Anastasia (vice de Aécio, que renunciara para concorrer ao Senado) em 2010, os dados indicam queda. O PSDB perdeu 10 cidades. Mas é nas eleições municipais que a fragilidade se mostra. Nas 138 disputas analisadas, três em cada cidade-pólo, o partido não obteve mais do que 10 vitórias.

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"O número de prefeitos que o PSDB elegeu nas cidades-pólo é diminuto. Com exceção da região noroeste, as outras foram móveis. O PSDB não conseguiu consolidar o poder eleitoral dele na maioria das cidades em que venciam. Na eleição seguinte, eles perdiam o que tinham ganhado e ganhavam outras, mas sempre caindo", afirma Ricci.

Ao decompor as votações de partidos aliados do PSDB, os pesquisadores verificaram a intensa presença do apoio ao PP e ao DEM - principais partidos aliados nas coligações vencedoras em cidades-pólo. Foram 72 vitórias com o DEM e 70 com o PP. "Isso aponta que a base eleitoral do Aécio não era o PSDB. Os dois partidos que foram mais diretamente aliados dele em coligações vitoriosas durante as gestões foram os que o Aécio ajudou a montar. Ele trouxe um pessoal que foi recrutando no estado", disse Ricci.

Em 2004, foram 13 vitórias dos aliados e 10 do PSDB. Já em 2008, os aliados conquistaram 14 prefeituras e os tucanos apenas nove. Na última disputa municipal (2012) foram 16 vitórias ao todo: oito do PSDB e oito dos aliados. Em nenhum caso o PSDB manteve uma prefeitura por três mandatos. De 2004 a 2008, o PSDB só manteve Unaí. De 2008 a 2012, só Divinópolis. "Aécio está pagando nesse momento em Minas por não ter jogado mais peso sobre o PSDB", afirmou ele, para quem Aécio deve enfrentar disputa dura com Alckmin e Serra dentro da sigla para 2018.

O deputado federal Marcus Pestana, ex-presidente estadual da sigla, conta que foi estratégia do partido desde o início da formação do grupo vitorioso de Aécio dividir as prefeituras com partidos aliados. "Essa estratégia começou a ser montada em 2002, mas já vinha desde a década de 1990 e se consolidou com a candidatura do Aécio em 2002. Em um quadro pulverizado, você opta. É o tal negócio. Ganha em densidade, perde em amplitude. Ganha em amplitude, perde em densidade. Tem que fazer escolhas", afirmou.

De acordo com Pestana, o tucanato paulista age de outro modo. "Em São Paulo, o PSDB desenvolveu muito mais uma linha de afirmação da identidade do partido. Mas em Minas o projeto não envolvia só o PSDB, era uma base amplíssima. Só excluía PT e PCdoB e uma parte do PMDB. Tínhamos sempre o desafio de crescer o partido, mas sem atropelar os aliados. Isso fez parte da receita do sucesso que construímos", afirma.

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O atual presidente do PSDB-MG, deputado federal Domingos Sávio, diz que a sigla nunca quis ser hegemônica. "O PSDB teve e tem presença forte em Minas, mas não tem e nunca teve o objetivo de ter hegemonia. Não seria adequado nessa relação pluripartidária, que é a realidade brasileira", afirmou.

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Sobre a derrota em 2014, ambos admitem que o partido demorou muito em definir e se unir em torno de um nome para a disputa ao governo estadual. "Talvez, não posso afirmar, tenha havia um descuido porque, às vezes, nessa preocupação em ser generoso com os aliados, a gente possa ter se descuidado um pouco de fazer um trabalho pelo fortalecimento do próprio partido. Então a gente hoje faz uma autocrítica no sentido de valorizar a nossa militância", disse Sávio.

Sobre o futuro, o dirigente diz que o PSDB mineiro passa por novo momento e disputará a maior quantidade de prefeituras no próximo pleito, inclusive Belo Horizonte, onde não lançou nome próprio nas últimas três disputas. Sávio diz que, apesar da derrota, o momento de crise do PT fez com que o PSDB se fortalecesse e o número de filiados está crescendo. "O partido estava esquecido em alguns lugares, porque simplesmente apoiava os aliados. Agora, onde não tiver um parceiro com chances muito reais, o PSDB lançará um nome." Aécio Neves não retornou aos contatos da reportagem.

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