Experimentos trazendo distintas reações ao nojo e preferências pessoais com relação à escolha de um pet sinalizam 5 perfis de eleitor e seus 8 anseios principais; especialista enxerga Bolsonaro bem colocado em 2022
Assista à entrevista: https://www.youtube.com/watch?v=jSiS9SQBV1c
Valendo-se de estudos, pesquisas e testes cruzados de neurociência, Luis Hanns, psicólogo pela USP e administrador de empresas pela FGV, com mestrado e doutorado pela PUC, afirma ser possível traçar os perfis do eleitor brasileiro (seriam 5 perfis distintos), com base nos anseios mais comuns da população (que são 8).
A partir deles, Hanns arrisca alguns prognósticos sobre as atitudes e valores que circulam pelo Brasil de hoje, e o que esperar das eleições de 2022.
"São cinco aspectos que as pesquisas têm mostrado que caracterizam melhor e permitem uma análise desses perfis psicogenéticos e culturais. O primeiro deles é referente à relação que o sujeito tem com a compaixão, com o altruísmo", afirma.
"Eleitores mais à direita tendem a aplicar a sua compaixão e o seu altruísmo ao seu grupo de referência e têm uma grande prevalência da indignação ou raiva a aquele supostamente hostil ou que maltrata seu grupo. Os de esquerda são o inverso, eles tendem a ter uma compaixão que atravessa a classe social, atravessa a religião, atravessa a etnia, é mais generalizada, é uma compaixão que não é tão restrita ao seu grupo de referência".
"A segunda camada é a noção de justiça e injustiça. Os eleitores mais à direita tendem a enxergar a justiça como uma questão de meritocracia e os mais à esquerda em como equalizar as vantagens e desvantagens"
"Um terceiro aspecto é a questão do pertencimento. Os eleitores mais à direita privilegiam a identificação com o seu candidato. O eleitor mais à esquerda é mais aberto a diferença, ele tem mais abertura para com o outro"
"Um quarto nível é a relação que o sujeito tem com a ordem, hierárquica. O eleitor mais à direita se sente mais confortável com um ambiente ordenado, organizado e estável. O eleitor de esquerda se sente mais confortável com um ambiente mais inovador, mais democrático, com menos hierarquia, mais participativo, mas também menos organizado"
"E por último o eleitor mais à direita tende a privilegiar uma ideia de virtude e pureza, então ele entende que a disciplina, a harmonia do grupo e os tabus são uma conquista social de autodisciplina que deve ser preservada. E os de esquerda são mais tolerantes ao hedoísmo, ao prazer, a menos regras de usos e costumes"
"Você vê isso em testes, neuroimagem. Há testes com cachorros, sensação de nojo e neuroimagem. Quando você oferece para a pessoa dois tipos de cão, um cão de guarda, mais bravo, mais leal e um outro cachorro mais brincalhão, mais desmiolado e divertido. A tendência dos eleitores de direita é escolherem o cão mais bravo e leal, e os de esquerda o mais brincalhão. É uma tendência"
"Uma outra coisa é a relação com o nojo. Os eleitores mais à direita tendem a sentir mais nojo de cheiros e gosmas do que os de esquerda, é um 'pré-conceito', um fechamento maior ao novo/diferente"
A partir dos perfis dos eleitores traçados, Hanns listou o que chama de anseios principais: "o partido que conseguir representar melhor o maior número de anseios principais é o que ganha uma eleição"
Hanns lista quais são estes anseios:
"Tem o anseio moralizante - "vamos acabar com a corrupção". Depois vem o anseio tradicionalista - que é o daquele que não quer mudar os costumes, está chocado com o aborto, ter um Estado muito laico, etc - esse grupo tradicionalista corresponde a 20-25% do eleitorado permanentemente"
"O terceiro anseio é sobre qualidade de vida e sustentabilidade - em geral aquele eleitorado urbano, universitário, preocupado com a floresta amazônica"
"O quarto anseio é o eficientista - que vai falar da economia eficientista, como o Meirelles, o Doria. O quinto anseio é o nacionalista - anti-imperialista, em parte a esquerda pega esse anseio, mas Bolsonaro com o exército ao seu lado, e os símbolos nacionais, capturou essa vertente"
"O sexto anseio é o sindical - do funcionário público e de um Estado que faz a função capitalista; em sétimo o anseio anticapitalista - o Boulos, o PSOL, o PT incorporou isso mas não como sua primeira bandeira"
"E por último, o oitavo anseio que é o assistencialista - começou com o Sarney, com o "Programa do Leve Leite", depois com os programas do FHC, com o Lula que renovou esses programas e agora com o Bolsonaro"
Algumas conclusões de Hanns:
"O Bolsonaro conseguiu representar o anseio eficientista via Paulo Guedes, o moralista via Moro, o tradicionalista com ele mesmo e com os evangélicos, o nacionalista com os militares. Agora capturou para si o anseio assistencialista; está se desligando um pouco da vertente eficientista e pegando a vertente sindical"
"A maior preocupação do brasileiro é com emprego, renda e segurança, escola está lá embaixo"
"Nesse momento, podemos dizer que a esquerda perdeu suas pautas. Houve um desgaste por diversos motivos, por desastres econômicos, por perder a pauta da moralidade porque se mostrou corrupta, a pauta também com relação ao Nacionalismo"
"O Centrão, como é altamente flexível e amorfo, tende a capturar a pauta prevalente no momento e se adequar a isso. Por exemplo, se eles percebem que em uma certa região o anseio principal é o assistencialismo, eles vão ser os campeões em assistencialismo"
"Nós não conseguimos no Brasil fazer um pacto social distributivo, que é definir quem vai perder e quem vai ganhar. Uma coisa que a Alemanha e o Japão fizeram"
"Todos os partidos têm a constante dificuldade de esbarrar no "curto-prazismo", no "pensamento mágico", na negação da frustração e em uma baixa-autoestima"
"Os quatro algoritmos que os países bem-sucedidos têm: melhores práticas, longo prazo com uma ambição elevada, uma capacidade muito grande de frustrar e poder fazer um pacto social e um entendimento de que a 'galinha de ovos de ouro' é o empreendedorismo"
"Esses perfis, de esquerda e direita, eles são muito importantes na alternância. Há momentos em que a sociedade vai se beneficiar de mais ordem, harmonia social e mais pertencimento ao grupo de referência, e há momentos em que a sociedade vai precisar do contrário, ou seja, de mais abertura ao novo, menos ordem, menos meritocracia e mais assistência e bem-estar social"
"Steven Levitsky tinha a convicção, o tempo dirá se ele está certo ou não, que o Bolsonaro tem o perfil dos políticos que no primeiro mandato se manteriam dentro dos parâmetros democráticos, mas já dando certos encantos e sinais pelo autoritarismo. E que no segundo mandato tentaria ter um controle maior do judiciário, se infiltrar mais fortemente no exército e dominar mais o legislativo"
"Aparentemente, nesse momento, o jogo está muito favorável a esse governo para as eleições de 2022".
Links de referência: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/arti ; https://www.cell.com/trends/genetics/ ; https://www.cell.com/current-biology/ ; https://www.penguinrandomhouse.com/bo