Morris Kachani
10 de maio de 2020 | 21h03
Por Morris Kachani e Isabella Marzolla
Entrevista com José Gomes Temporão, médico sanitarista, pesquisador da Fiocruz e ex-ministro da Saúde nos governos Lula (2007 a 2011)
Assista à entrevista: https://youtu.be/PHvRqQWKsko
Como ressignificar a ideia de fila única, com o sistema de saúde pública à beira do colapso? Por que a proposta de imunidade de rebanho não encaixa na nossa realidade? Quais lições europeus, americanos e asiáticos nos oferecem? Que vantagens o Brasil poderia contar? Quais as expectativas com relação a vacina e medicamento? E o que fazer afinal, a esta altura da pandemia, considerado o descompasso entre governos estaduais e prefeituras, e o governo federal?
“Este vírus não é democrático, como dizem por aí”.
“O que está acontecendo agora é que o vírus, a saúde pública, a epidemiologia e a ciência estão revelando, tirando um véu que encobria, um conjunto de contradições e fragilidades”.
“10% das pessoas que entrarem em contato com esse vírus vão precisar de cuidado médico com alguma complexidade. Mas 5% vão desenvolver formas graves. Faz uma continha, 5% de 200 milhões quanto dá? 10 milhões. Destes, provavelmente 80% morreriam. Que tal fazer uma imunidade de rebanho no Brasil para ter alguns milhões de mortos? A imunidade de rebanho que o dr Osmar Terra, ex-ministro defendeu, é condenar milhões de brasileiros à morte, é uma visão que se insere no negacionismo científico. Não tem nenhum sanitarista, epidemiólogo, cientista sério no mundo, que defenda isso”.
“Não é ético nem moralmente aceitável que uma pessoa que só disponha do SUS morra na porta de um hospital público e ao mesmo tempos existam leitos privados vagos no mesmo local.”
“O vírus é uma micropartícula. Só para você ter uma ideia, 100 milhões de partículas virais cabem na cabeça de um alfinete, então um ser tão microscópio consegue impactar de maneira tão profunda o mundo todo; e cada célula contaminada por esse vírus produz entre mil a cem mil novas células virais”.
“A medicina é uma ciência social e a política nada mais é, que a medicina em grande escala.”
“Eu acho essa nova medida [megarrodízio] adotada pelo prefeito [de São Paulo] muito contraditória”.
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