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Jornalismo de Reflexão

Sérgio Abranches: "Bolsonaro quer a ditadura com ele na cabeça"

Por Morris Kachani
Atualização:

"Presidente pode estar estimulando uma convulsão social, porque quer o Estado de Sítio para começar o processo de corromper"

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Nesta entrevista, o sociólogo e cientista político Sérgio Abranches, autor de diversas obras e estudos que se tornaram referência a respeito do presidencialismo pós-1988, tenta decifrar os sinais cruzados que chegam de Brasília.

Abranches enxerga duas crises gêmeas e uma sistêmica, a seu ver 'perigosíssima'.

Evocando as escaladas de Hitler e Chávez, o sociólogo analisa o flerte bolsonarista com o autogolpe, mas não enxerga espaço para seu triunfo, sobretudo pela falta de apoio. No entanto, receia um quadro de rebelião das polícias, trazendo caos e paralisia aos estados, como ocorrido no Espírito Santo.

Lula talvez tivesse a condição de encabeçar uma frente ampla democrática, de conciliação nacional, que extrapolasse o PT, como na campanha das Diretas. Mas para isso, precisaria deixar o ressentimento de lado.

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Assista à entrevista: https://youtu.be/Ham_s1HICxs

"Essa crise política se agravou quando a gente bateu a marca de 300 mil mortes e aí começou a ser vocalizada inclusive pelos presidentes das duas casas do Congresso. Esse apoio do Centrão, que muita gente está interpretando como exclusivamente dependente do "troca-troca", na verdade ele tem demandas substantivas que coincidem com as demandas da sociedade, sobretudo no que diz respeito ao combate à pandemia.

E o Bolsonaro em uma tentativa de resolver a crise política, produziu uma crise institucional porque ele já vinha pressionando os militares para tomar atitudes mais ostensivas de apoio ao governo. Certamente não era o desejo do alto oficialato e nessa resistência Bolsonaro acabou fazendo essa troca no Ministério da Defesa e sobretudo nos comandos.

São crises gêmeas porque é uma crise política à qual se acoplou uma crise institucional"

"Eu acho que o Bolsonaro quer a ditadura com ele na cabeça. É um autocrata, tem uma mentalidade autoritária, não muda de opinião, não aceita opinião diversa e acha que foi eleito para ser obedecido. O que é um engano total.

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A maioria do grande oficialato brasileiro concorda com o general Fernando de Azevedo Lima, que na carta de demissão disse que fez tudo para deixar as Forças Armadas em linha com a Constituição, ou seja, não como um braço do governo"

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"O risco de um autogolpe acabou.

Ele existia, mas com esse enfrentamento com as Forças Armadas, Bolsonaro não vai ter apoio e não vai conseguir fazer. (...) Agora, se por alguma virtude, em função de alguma mudança de conjuntura, os militares decidirem fazer um golpe militar, certamente não será com Bolsonaro. Bolsonaro é um mau comandante e eles sabem a diferença entre um mau comandante e um bom comandante"

"Eu acho que o apoio principal dele [Bolsonaro] é nas polícias, nas milícias - que fazem parte da polícia, outras não -, e acho que ele ainda tem apoio em alguns oficiais das Forças Armadas, mas minoritários, na média e baixa oficialidade, e nos soldados. Isso não é suficiente para ele conseguir, por exemplo, fazer o que o Chávez fez, quer dizer, uma sublevação dentro das próprias Forças Armadas. E um ataque das polícias para tornar Bolsonaro ditador, não passaria pela anuência das forças militares "

"Rebelião das polícias. É disso que os governadores estão com medo. Nos estados uma rebelião pode causar uma paralisia, um caos muito perigoso, como aconteceu no Espírito Santo"

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"Bolsonaro pode estar querendo uma convulsão social, porque ele quer o Estado de Sítio para começar o processo de corromper, e é muito difícil de obter isso nas circunstâncias atuais. Não passa pelo Congresso, não passa pelo Supremo"

"Essa perigosa crise sistêmica já está instalada porque nós temos de um lado essa crise gêmea no topo, a crise política e institucional, e uma crise pandêmica que nós não teremos condições de debelar no curto prazo. Paralelamente, temos na base uma crise econômica social que não vai se resolver com 'taxinhas' de crescimento.

Para poder superar essa crise social e econômica, para chegar renda na mão das pessoas, revitalizar de novo o consumo das famílias, isso vai exigir muito mais investimento, muito mais gasto que o Brasil não tem condições de fazer, e tempo. Então virou uma crise sistêmica, quer dizer,

de qualquer lado que você olhar, o Brasil está em crise"

"O melhor cenário é o Bolsonaro fracassando nessa tentativa [de golpe], no que ele fez nessas últimas 48 horas, sendo obrigado a se comportar bem e parar de atrapalhar o combate à pandemia"

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"No pior cenário, quando a gente chegar a um milhão de mortos, que é uma possibilidade num cenário desse, estará finalmente caindo a ficha no Congresso de que o Bolsonaro precisa de algum enquadramento antes que ele enquadre os outros"

"O Brasil nunca teve um presidente tão ruim quanto Bolsonaro; nem Collor, nem Jânio"

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