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Opinião|A alegria do seu sucesso pode virar seu pior pesadelo, e de graça!

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Vídeo em que Nilson Izaías "Papinho" consegue fazer sua "slime", que o transformou em uma estrela instantânea Foto: Estadão

Imagine a cena: você está tocando sua vida normalmente, quando tem a felicidade de fazer algo inesperadamente incrível, que lhe garante uma grande fama instantânea! Subitamente você é catapultado de uma vida convencional para o estrelato, com milhões de pessoas acompanhando seus passos. A repentina exposição lhe garante muitos novos amigos, negócios e dinheiro. Grande alegria! Mas de repente, quando tudo parecia estar maravilhosamente bem, você se vê envolvido em uma lista de denúncias infundadas, que destroem a sua reputação. E aí toda aquela euforia legítima dá lugar a medo e depressão.

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Está achando que isso é roteiro de filme B? Pois saiba que pode acontecer de verdade! E, em tempos de redes sociais, onde tudo é mais rápido e mais intenso, qualquer um pode ser uma vítima desse pesadelo, inclusive você, sua carreira, seu negócio. De uma hora para a outra, toda aquela euforia se transforma em um transtorno que pode ter sequelas graves.

Como isso é possível? Dá para se proteger?

Há poucos dias, um caso desses se tornou emblemático. Aconteceu com Nilson Izaías "Papinho", que vive em Juquiá, município de menos de 20 mil habitantes a 170 km de São Paulo. O pacato aposentado de 72 anos criou, há 11 meses, um canal no YouTube, onde publica singelos vídeos domésticos de seu cotidiano, como o que come no café da manhã ou as frutas de seu quintal.

Há um mês, "Papinho" encarou um desafio: fazer, na frente da câmera, uma "slime" caseira, que são aquelas massas gelatinosas que fazem sucesso entre as crianças. Depois de quatro tentativas frustradas, no dia 22 de janeiro, ele publicou um vídeo de seu sucesso na empreitada. Tudo muito singelo e despretensioso. O vídeo, que pode ser visto abaixo (10'57'') "viralizou" e já passou de dez milhões de visualizações! Antes dele, o canal tinha pouco mais de mil inscritos; hoje já são cerca de 4,4 milhões, que vieram no espaço de apenas duas semanas!

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Trata-se provavelmente do crescimento mais rápido do YouTube no Brasil! O "vovô da slime", que até então tinha feito apenas 18 vídeos praticamente sem audiência, se tornou um fenômeno literalmente do dia para noite.

E aí começaram os seus problemas.

 

Por que isso acontece?

"Papinho" não tinha nenhuma pretensão de atingir fama ou ganhar dinheiro. Segundo ele, gravava seus vídeos para fazer novos amigos, e ficaria satisfeito se atingisse mil inscritos no canal.

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Mas a grande fama veio. E, com ela, a grande infâmia!

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"Papinho" começou a ser acusado de vários comportamentos inadequados e até de pedofilia, além de ter sua imagem violentada em "memes". Subitamente, várias pessoas e perfis falsos apareceram nas redes sociais, com grandes teorias e histórias sobre o aposentado que, até havia alguns dias, só familiares e amigos conheciam. Pior que isso: "Papinho" viu seu nome e sua imagem usados em uma briga suja entre grupos políticos conservadores e liberais. Felizmente, ele recebeu o apoio de várias pessoas, que o ajudaram a passar por isso.

Por que alguém faria isso com um pacato aposentado, que ficou famoso ao fazer "slime" caseira?

Os primeiros nisso são os "trolls", pessoas que se divertem criando e espalhando esse tipo de confusão. Motivados por inveja, discordância ou simplesmente falta do que fazer, não pensam duas vezes antes de destruir a imagem de alguém que nunca lhes fez nada. Há também um grupo ainda mais odioso, que são aqueles que usurpam a imagem de famosos para atingir seus próprios objetivos, não se preocupando se isso lhes causará problemas.

"Papinho" foi vítima de ambos.

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Pode acontecer com todo mundo?

Claro que sim!

Convenhamos, se um singelo senhor que ficou famoso fazendo "slimes" foi vítima, qualquer um pode ser. E, quanto maior a sua influência, pior pode ser o estrago.

Sem desmerecer as qualidades humanas e a capacidade de gerar engajamento de "Papinho", é pouco provável que o mau uso de sua imagem provoque grandes crises políticas ou econômicas. Mas, se a vítima for um grande empresário, por exemplo, muita gente pode embarcar nas "fake news" e tomar decisões muito ruins e equivocadas.

Mas uma coisa é comum a todos: seja "Papinho", seja um grande empresário, esse tipo de atentado à reputação é sempre desagradável e um desrespeito inaceitável ao indivíduo, que se vê envolvido gratuitamente em uma trama com a qual não tem nada a ver.

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E ainda tem que limpar a lama que lhe foi jogada de graça.

 

Como se proteger?

Não há proteção absoluta contra esse tipo de maldade. Mas podemos fazer coisas que podem ajudar bastante caso o abuso aconteça.

A primeira delas é não tocar tambor para maluco dançar! Em muitos casos, o ataque acontece apenas para desestabilizar a vítima, esperando que ela revide na mesma moeda. Jamais faça isso! Caso contrário, o agressor terá atingido seu objetivo de arranhar (às vezes profundamente) sua reputação. Fique no campo das ideias e do respeito.

Outra coisa que ajuda muito é construir previamente uma boa reputação. Partindo do princípio constitucional de que todos são inocentes até que se prove o contrário, ter uma boa imagem construída junto a seu público é um importante aliado contra esses ataques, pois as pessoas tendem a acreditar menos no agressor a até mesmo defender a vítima.

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Por fim, cultive sempre bons relacionamentos na rede: converse com as pessoas, ajude-as no que puder, compartilhe conhecimento. Mas faça isso genuinamente! Essa doação é percebida por quem se beneficia dela. E acredite: amor com amor se paga!

Mas isso tudo tem que ser feito antes do problema acontecer. Dessa forma, eventuais ataques terão um impacto muito menor. Não passarão de "slime", que não gruda e é descartável.


E aí? Vamos participar do debate? Role até o fim da página e deixe seu comentário. Essa troca é fundamental para a sociedade.


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Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

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