PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Jornalismo, educação, tecnologia e as combinações disso tudo

Opinião|Devemos formar as crianças para o mundo em que elas vivem

Foto do author Paulo Silvestre
Atualização:

Crianças usam notebooks educacionais em escola nos EUA Foto: Estadão

 

Recentemente entrei em um debate com uma mãe que se vangloriava de, nessa ordem, ter "tirado o computador" do filho de dez anos e que, por conta disso, ele estaria fazendo coisas "que uma criança deve fazer", como jogar bola e subir em árvores. Perguntei a ela para que mundo ela estava formando seu filho. E ela se ofendeu.

PUBLICIDADE

Pais, pelo menos os conscientes, procuram sempre dar o melhor a seus filhos, incluindo a educação que eles consideram a mais adequada. Entretanto, "melhor" é algo que varia de acordo com a pessoa, com o lugar e com a época. Precisamos ser flexíveis às mudanças que acontecem a nossa volta, mesmo quando não gostamos dos resultados delas.

Tive uma infância feliz e saudável, onde joguei bola, subi em árvores e fiz coisas que a mãe acima provavelmente desaprovaria, como participar de animadas batalhas campais com amigos, todos armados com estilingues e usando semente de mamona como munição. Aquela era a realidade em que vivia e nunca fui privado dela pelos meus país. Além disso, tive a sorte de eles incentivarem, inclusive com grande esforço financeiro, o meu interesse por computadores já no começo da adolescência. Isso em uma época em que se ter um computador em casa era algo muito raro, mesmo em famílias abastadas.

Chamo de "sorte" a chance de ter tido acesso, alguns anos antes que a esmagadora maioria, a algo que em pouco tempo, mudaria completamente o mundo. Apesar de nunca ter me transformado em um profissional de TI, o contato com a nascente computação pessoal me permitiu desenvolver várias habilidades cognitivas que se converteram em diferentes vantagens na minha vida.

Por mais que eu gastasse horas com aquela máquina incompreensível para meus pais, eu nunca deixei de fazer minhas outras atividades por conta daquilo. Ou seja, o livre acesso à tecnologia não me privou de nada: pelo contrário, foi algo que apenas me acrescentou habilidades que não teria de outra forma.

Publicidade

Não concordo, portanto, com pais que restringem o acesso de seus filhos a computadores, videogames ou celulares, sob o pretexto de que assim as crianças não fariam mais nada, se pudessem. Uma criança só se comporta dessa forma se não lhe forem oferecidas alternativas. E, nesse caso, a culpa será dos pais, não dos filhos.

É exatamente a mesma coisa que acontecia há uns 20 anos, quando os pais reclamavam que seus filhos passavam o dia diante da TV. Contestavam a qualidade da programação, mas nunca aceitavam que aquilo acontecia simplesmente porque aquelas crianças não tinham muito mais a fazer.

Felizmente, nem todos são assim. Mas a "turma do contra" prefere matar a vaca a acabar com o carrapato. Não se importam em afirmam categoricamente que os games deixam seus filhos violentos, mas se recusam a enxergam que não reservam o tempo necessário para se dedicar genuinamente às crianças, inclusive para lhes dar o carinho necessário para sua boa formação. Entendo que isso não é algo fácil de conseguir, especialmente com a vida corrida que lhes é imposta. Mas é crítico que seja feito.

Portanto, vão "tirar o computador" para que seu filho possa subir em árvores? Francamente, para que mundo estão formando seus filhos?

Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.