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Opinião|Empresas estão em crise; o jornalismo, não

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 Foto: Estadão

Nesta quarta, o Grupo Estado anunciou a demissão de 20 pessoas do Estadão.com (uma semana depois de dispensar cerca de 100 profissionais da área administrativa) e a Ejesa fez o mesmo com número semelhante de jornalistas de O Dia e do Meia Hora. No mesmo dia, eu participava do MediaOn, seminário internacional que discute muito bem o futuro da profissão, focando no jornalismo online. E alguns colegas no evento me abordaram com a mesma pergunta: "o jornalismo está em crise?"

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Para mim, está muito claro que o jornalismo NÃO está em crise. Na verdade, eu acredito que ele vive um momento notável, com um crescimento incrível no número de publicações e profissionais desafiando com sucesso modelos há muito consolidados. Além disso, nunca se consumiu tanta notícia, de diferentes assuntos e formas (algumas inexistentes há bem poucos anos).

Quem está em crise -e brava- são as empresas de comunicação tradicionais. São elas que vêm promovendo demissões em massa, como as citadas acima, e fechando títulos. E essa crise não está mais restrita ao hemisfério norte (no dia 31 de outubro, perdemos o outrora glorioso Jornal da Tarde) ou a veículos impressos (The Daily deixará de circular no dia 15 de dezembro).

Coincidentemente, o MediaOn deste ano contou com a participação da espanhola Carmela Ríos (@CarmelaRios), editora-geral do Terra Espanha. Durante sua participação, ela contou como passou do jornalismo televisivo para o digital quase que por acaso, quando, do meio de uma reportagem, tuitou de seu Blackberry que a CNN+, canal para o qual trabalhava, havia acabado de encerrar suas operações.

Mal sabia ela que, naquele momento, estava divulgando a notícia em primeiríssima mão, imediatamente após ela ser avisada do fato por seus colegas que estavam na Redação. Experimentou então um resultado imediato e explosivo vindo de seu tuíte, o que a fez encarar o jornalismo digital com outros olhos. Tanto que, alguns meses depois, fez toda a cobertura do Movimento #15M (foto acima) pelo Twitter, o que lhe conferiu o prêmio Ortega Y Gasset de jornalismo. Hoje faz jornalismo digital no Terra, onde diz ter se encontrado.

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Esse debate foi um dos maiores ganhos desse MediaOn. De um lado, representantes de empresas de mídia tradicionais tentando sustentar, talvez inconscientemente, talvez vestindo um discurso institucional de seus empregadores, modelos anacrônicos que insistem em transpor para uma nova plataforma. De outro, jornalistas com experiências arrebatadoras, resultado de insights ou simplesmente de não conformismo com o que viviam antes.

Por isso, estou muito confiante com o futuro do jornalismo, por mais que esteja, por outro lado, bastante preocupado com o das empresas de comunicação tradicionais. Mas elas estão no lugar que elas -e apenas elas- se colocaram e de onde aparentemente não querem sair. Quanto aos colegas, o futuro também pode ser brilhante a eles: basta fazer jornalismo de uma maneira que não seja a das velhas empresas.

Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

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