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Por um Fla-Flu bem jogado

Temer sendo Temer

Seja como for, uma pergunta se impõe: como é possível nutrir tamanho desapego por alguém que em duas ocasiões seguidas foi escolhido para ser o primeiro na linha sucessória do cargo político mais importante do país?

Por Mario Vitor Rodrigues
Atualização:

 

 Foto: ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO

 

Minha terra tem calheiros onde cantam os jucás, sapeca logo em sua primeira postagem o satírico perfil "Michel Temer poeta", no Twitter. A conta é um deboche só - e as boas sacadas não param por aí -, mas sua simples existência desnuda certa ingenuidade generalizada em relação ao atual presidente. Até mesmo uma conveniente amnésia, dependendo do freguês.

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Seja como for, uma pergunta se impõe: como é possível nutrir tamanho desapego por alguém que em duas ocasiões seguidas foi escolhido para ser o primeiro na linha sucessória do cargo político mais importante do país?

Alegar ignorância não vale. Com quase 40 anos de vida pública, eleito deputado estadual e federal, além de ter presidido a Câmara dos Deputados em duas ocasiões antes das eleições para os cargos de vice-presidente, Temer não é exatamente o que se pode chamar de novidade.

Tampouco a sua turma, o PMDB, corre o risco de passar despercebida quando observamos a cena política. Muito pelo contrário, trata-se da maior legenda, uma das mais antigas, influente há décadas na vida do brasileiro e com predileção pelo papel de eminência parda em Brasília.

Quem o diz é a lógica, mas talvez foi por coincidência que milhões de brasileiros não suspeitassem de nada quando ambos, então base de apoio e parceiro de chapa, eram fundamentais para garantir a continuidade do projeto de poder petista. Isso mudou, entretanto, desde o momento em que a mitologia do golpe precisou de um rosto.

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A crise econômica e a operação Lava Jato também ajudam na hora de alavancar críticas contra Temer. É claro que a maior recessão em nossa história foi gerada durante as gestões petistas, mas é impossível evitar que respingue no governo atual. Idem para o desgaste provocado por indícios e vazamentos vários decorrentes da operação Lava Jato.

Está tudo certo, é de fato vergonhoso constatar que o governo federal está afundado em tramoias e casos de corrupção. Assim como é legítimo e acima de tudo necessário criticar o presidente. Seja ele quem for. Político algum pode ser idolatrado, encarado pelo povo como um popstar.

Ainda assim, alto lá com os oportunistas interessados em reescrever a história para colher frutos ou diminuir prejuízos.

Digo: por mais repugnante que seja, a viscosidade de Romero Jucá não provocou o mesmo alarido quando ele era líder do governo no Senado, durante as gestões Lula e Dilma.

Por mais suspeitos que possam parecer os laços entre Alexandre de Moraes e o Executivo, não me lembro dessa mesma massa que hoje rejeita sua nomeação criticando aquela de Dias Toffoli.

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Ora essa, nem mesmo com o descortinar do mensalão o pessoal que hoje esbraveja pegou pesado com Luiz Inácio. Na verdade deram um prêmio ao sujeito, reelegendo-o presidente.

O grande problema é que Temer, assim como Renan Calheiros, Lula e grande elenco, sabe jogar muito bem um jogo ainda pouco compreensível por todos nós. Jogo este que, com todas as suas artimanhas, e mesmo sendo fundamental para nossa própria existência, não fazemos nada para interromper.

No fundo, quando elegemos esse pessoal, sem nem ao menos contestarmos o voto obrigatório ou exigirmos uma ampla reforma política, até nossa indignação, justíssima indignação, perde um pouco o sentido.

A verdade é que Temer continua sendo Temer. Nenhum deles mudou.

E nós também não.

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