Gabriel Pinheiro
18 de dezembro de 2013 | 21h12
Dilma e sua sátira ‘Bolada’, muito popular no Twitter. Encontro marcou volta da presidente às redes
Até setembro deste ano, a Dilma que fez sucesso nas mídias sociais foi a “Bolada”. Três meses após o início dos protestos que pararam o País, Dilma Rousseff, a “verdadeira”, retomou suas postagens no Twitter. “Recalque?” Não foi o que a sátira Bolada disse à Dilma na troca de tuítes que marcou a volta da presidente à rede de microblogs. Suas ações nas redes, porém, parecem fora de “timing”, destoantes do noticiário sobre temas nacionais. No dia 3 de dezembro, enquanto acontecia o anúncio do resultado do PIB do terceiro trimestre, por exemplo, Dilma (ou sua equipe) tuitava sobre a assinatura de um decreto.
O decreto que assino hoje trata de uma garantia previdenciária que fortalece uma atitude respeitosa em relação à pessoa com deficiência.
— Dilma Rousseff (@dilmabr) 3 dezembro 2013
URGENTE: Economia encolhe e PIB cai 0,5% no 3º trimestre
— Estadao (@Estadao) 3 dezembro 2013
Economia brasileira recua 0,5% no terceiro trimestre http://t.co/CyW7MKjZ3l
— G1 (@g1) 3 dezembro 2013
Quem coordena o Gabinete Digital de Dilma – composto por Twitter, Facebook e Instagram do Palácio do Planalto – é o porta-voz da Presidência da República, Thomas Traumann. A atualização dos perfis é quase sempre diária. A presidente usa as redes para assuntos diversos, desde anúncios de medidas de seu governo a temas do cotidiano. A maior parte desse fluxo de comunicação, porém, é abastecida com assuntos ligados à agenda oficial de Dilma.
A pedido da reportagem, especialistas em redes sociais e comunicação politica avaliaram essa reaproximação de Dilma ao Twitter e a criação das páginas do Palácio do Planalto no Facebook, Instagram e Google+. Segundo a professora da PUC-SP e consultora em mídias sociais Pollyana Ferrari, a atuação online de Dilma se destaca no Twitter, embora seja perceptível alguns “tuítes prontos”. Ela também avalia que a página do Planalto no Facebook segue um modelo de comunicação press release. “Espero que Dilma continue usando essas ferramentas como um governo digital e não só como campanha política. É um processo de entender que é um conversa”, afirma.
A especialista aponta que foi muito importante Dilma reconhecer o perfil “Bolado”, alimentado por Jeferson Monteiro, pois nesse ambiente Dilma tem, além de eleitores, fãs. ” A partir desse momento, a equipe de presidente começou a marcar presença nas mídias sociais, tendo uma melhora de 80% nessa comunicação”, diz Pollyana.
.@diImabr Bom dia linda maravilhosa,sempre acompanhei vc.Mas não me dê bom dia.Mas me dê bons resultados.
— Dilma Rousseff (@dilmabr) 27 setembro 2013
Último tuíte antes da retomada
Amigos,muito legal ser tão lembrada no twitter em 2010. Logo eu,que tive tão pouco tempo p/estar aqui c/vcs. Vamos conversar mais em 2011.
— Dilma Rousseff (@dilmabr) 13 dezembro 2010
A onda de protestos que levou milhares de pessoas às ruas das principais cidades do País em junho foi apontada como o ponto catalisador para o reforço da comunicação presidencial nas redes sociais por três especialistas: Fabio Malini, coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Pollyana e Roberto Gondo, presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Comunicação Política (Politicom).
“Naquele momento, havia forte a menção ao nome da presidente nas redes sociais. Em geral, essas menções continham caráter extremamente negativo a ela, que passou a ser pára-raio de todas as críticas sociais que as manifestações produziam”, acredita Malini.
Gondo pondera que os protestos influenciaram um realinhamento, mas não foram decisivos. “A assessoria de comunicação da presidência já tinha estruturado um plano de comunicação integrada que previa aumentar a visibilidade da presidente nas mídias sociais”, diz.
A nova postura assumida após os protestos também não se limitou a internet ou a comunicação, também envolveu um posicionamento pessoal e político da presidente. “Dilma assumiu um direcionamento político menos ‘oficialesco’ e mais humano, próximo da população, e isso se refletiu nas mídias sociais”, acredita Ferrari.
Gondo ressalta outro ponto da relação offline x online: “A posição de Dilma nas mídias sociais em 2013 foi complementar, mas não foi fundamental. Isso é natural, pois ela é oriunda do Partido dos Trabalhadores (PT), que não tem como principal público o cibernético, mas não deixa de ser importante supri-lo.”
A melhora no posicionamento da presidente Dilma nas mídias é consenso. “Hoje, a presidente reverteu boa parte da imagem de intransigente, de uma figura que não atuava em um espaço público que não seja o da velha política representativa”, afirma Malini.
‘Segue de volta?’
Um dos conceitos mais relevantes em mídias sociais é a interação. Seguindo 345 pessoas no Twitter, Dilma não costuma responder a seus seguidores. As exceções acontecem em diálogos que parecem ter sido combinados no offline, como no dia do evento oficial do sorteio da Copa do Mundo em que Dilma trocou tuítes com Ronaldo, Neymar e Cafu.
A vida sempre nos pede mais RT“@officialcafu: @dilmabr @neymarjr Em Copa do Mundo não faz diferença. Não tem jogo fácil, seleção fácil!”
— Dilma Rousseff (@dilmabr) 7 dezembro 2013
“O comportamento nas suas redes sociais continua baseado num regime ‘top-down‘ (de cima para baixo): fala-se, mas não se escuta. É um fome de likes e de RTs, mas sem a generosidade de curtir e republicar o seu povo. Isso é o próprio modus operandi da maior parte da política representativa: isolamento e narcisismo”, diz Malini.
‘Memes’A cultura e o comportamento das mídias sociais são permeados pelos ‘memes’ – conceitos ou assuntos retirados de alguma publicação que tenha conquistado ampla repercussão e repetidos exaustivamente em diferentes contextos. Uma vez na internet, torna-se praticamente impossível não interagir com algum ‘meme’. Os grandes ‘memes políticos’ – como direitos indígenas, violência policial contra os pobres, mobilidade urbana, gastos da Copa e os direitos LGBT – constituem uma área que Malini considera que a presidente ainda não equacionou.
“Esses memes nasceram fora do Congresso e dos movimentos organizados. Advêm de outros sujeitos sociais, daqueles ligados aos enfrentamentos de rua”, explica Malini./ GABRIELA MARÇAL
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