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Terapia por telefone celular e a R$ 1,80

Terapia por telefone celular e a U$ 0.99 (R$ 1,80). É isso mesmo e não é o fim do mundo. Pelo menos na opinião da doutora em psicologia e especialista em transtornos de personalidade e ansiedade da Universidade Columbia, Nova York , Simone Hoermann. Ela testou três APPs de terapia cognitivo comportamental (TCC) para iphone  (APP é um software desenvolvido para navegação na internet por telefone celular) e concluiu que "nenhum deles faz o melhor uso de todo o potencial da plataforma iphone" e completou "parece que o uso do iphone como instrumento para a TCC parece estar ainda no início." 

Por Claudia Belfort
Atualização:

Para a especialista, que publicou a análise no MentalHelpnet, site mantido por professores e profissionais de psiquiatria e psicologia dos Estados Unidos,internet, celulares podem ser um complemento para o processo terapêutico.No caso dos desenvolvidos para  TCC, por exemplo, ela acredita que eles ajudam o paciente a anotar pensamentos, acontecimentos e os sentimentos decorrentes deles (essa é uma das técnicas usadas na terapia).Ou um paciente que se muda para outro país pode conversar com seu terapeuta via skype.Mas ela também tem ressalvas sobre o assunto e, em entrevista concedida por email, de Nova York, onde vive,alertou para os riscos da psicologia digital e da falta de regulamentação sobre o tema.

 Foto: Estadão

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Apsicologia está se tornando também digital e portátil? 

Acredito que a Psicologia está se tornando digital e portátil sob muitos aspectos: as novas mídias - a internet, o iPad, o Kindle e os telefones celulares - proporcionam novas oportunidades para a difusão de informações a respeito de temas psicológicos, entre eles as doenças mentais e o seu tratamento, incluindo os conhecimentos e interpretações mais recentes. É possível, por exemplo, comprar livros digitais que podem ser lidos em dispositivos portáteis, encontrar informações educativas e de autoajuda no YouTube, como encontrar aplicativos relacionados ao assunto para telefones celulares. Há muitos sites e blogs de excelente qualidade que oferecem informações importantes e úteis sobre temas da psicologia. Além disso, há até terapeutas que se dispõem a tratar os pacientes à distância por meio de programas de mensagem instantânea ou do Skype.

Em termos de aplicativos para celulares, é possível encontrar muitos tipos diferentes de programas: aplicativos que oferecem informações educativas, aplicativos que ajudam o usuário a localizar um terapeuta, e aplicativos que exibem notícias via streaming. Além disso, há também aplicativos que oferecem ferramentas de autoajuda, como técnicas de relaxamento, por exemplo, um registro para o acompanhamento dos humores, ou informações a respeito de recursos para suportar e lidar com as mais diversas e adversas situações.

E a terapia, elapoderia migrar para o celular?

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Acho que as novas tecnologias podem criar oportunidades que devem ser levadas em consideração. A telemedicina é uma área fascinante que envolve o emprego de diferentes mídias para proporcionar consultas e tratamento para aqueles que não teriam acesso a eles na ausência deste recurso. O New York Times publicou recentemente um artigo interessante sobre o uso da telemedicina por pessoas que trabalham em localidades remotas e não podem simplesmente entrar no carro e visitar o médico. Tomemos como exemplo alternativo uma pessoa que frequenta um terapeuta. Suponhamos que o paciente tenha uma boa relação com o terapeuta e esteja no meio de um processo terapêutico positivo. Talvez a pessoa tenha que se mudar para outro país por três meses em decorrência de seu trabalho, mas não queira interromper o processo terapêutico. Para algumas pessoas, prosseguir com a terapia à distância pode funcionar, seja pelo telefone ou via Skype. Entretanto, a eficácia disto depende muito da situação e da pessoa.

Um aplicativo para o iPhone para terapia cognitivo-comportamental pode ser eficaz no tratamento de distúrbios mentais?

No presente momento, não dispomos de dados para responder a esta pergunta, pois tudo isto ainda é novidade. O resultado pode ser semelhante ao dos livros de autoajuda, e mesmo em relação a estes, os dados de que dispomos para avaliar sua eficácia são limitados. Tudo pode depender do tipo de problema e da pessoa. Alguns podem se beneficiar destes aplicativos, mas é difícil prever quem seriam esses pacientes, e também se o benefício não seria ainda maior se eles visitassem o terapeuta.

Esses aplicativos podem substituir uma visita ao psicólogo?

Com base em minha experiência enquanto terapeuta, devo dizer que acredito na importância da interação cara-a-cara. Meu trabalho se torna muito mais fácil quando posso ver o paciente, acompanhar sua linguagem corporal e sua expressão facial. Isto traz informações importantes que me ajudam a entender aquilo que a pessoa está vivenciando e qual seria a melhor maneira de ajudá-la. Portanto, não acredito que um aplicativo, um programa de computador ou um livro possam substituir um profissional treinado. São muitos os nuances que devem ser levados em consideração quando realmente queremos ajudar uma pessoa. Além disso, boa parte dos estudos que buscam determinar porque a psicoterapia funciona indica que o relacionamento com o terapeuta é um dos fatores mais importantes para tornar a terapia eficaz.Dito isto, posso imaginar o uso de um bom aplicativo como complemento para o processo terapêutico.

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Existe algum tipo de risco no uso de APPs sem o acompanhamento profissional?

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Um dos maiores problemas que enxergo nos aplicativos é o fato de eles não serem capazes de proporcionar um diagnóstico sólido,e assim certas dificuldades podem continuar sem tratamento se a pessoa confiar apenas num aplicativo em busca de ajuda. O Transtorno Bipolar II, por exemplo, e o Transtorno de Personalidade Limítrofe podem ser considerados muito parecidos por um leigo. A depressão é muito comum, mas podemos encontrar sintomas de depressão em pessoas portadoras de Transtorno Distímico, Transtorno Depressivo Maior, Transtorno Bipolar, ou como consequência do uso de certas substâncias. Acho que é importante saber qual é o problema específico para que a pessoa receba o tipo de tratamento adequado e não precise sofrer além do necessário. Outro problema é que, no caso de muitos destes aplicativos, não sabemos quem os desenvolveu, e nem se foram desenvolvidos por especialistas ou leigos. Devemos também levar em consideração que todo tipo de telemedicina pode envolver problemas de confidencialidade - como garantir a privacidade da comunicação por e-mail, por exemplo? O aplicativo usado é protegido por senha? As informações inseridas são transmitidas a um servidor via internet? No caso de inscrições em sites qual é a política de privacidade da página? No momento, esses aspectos não são alvo de uma regulamentação mais atenta, e vale à pena pesquisar um pouco antes de fazer uso de um aplicativo.

Veja a análise da Dra. Simone Hoermann dos APPs.

 iCBT - U$ 2.99

Não diz se há um especialista em saúde mental  no desenvolvimento do site. As explicações e instruções são poucas para quem não está familiarizado com a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC).  O aplicativo pede para o usuário escrever um acontecimento e relacioná-lo a um sentimento a partir de uma lista que surge na tela, na sequência ele deve digitar os pensamentos negativos que surgiram e depois é orientado a racionalizá-los. Mas não há nenhuma indicação sobre como fazer essa racionalização. Difícil para quem não está familiarizado com a TCC.

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 eCBTmood - U$ 0.99

Entre os desenvolvedores do site há um psicólogo clínico. Oferece uma boa explicação sobre a TCC, um bom sistema de organização de anotações e um questionário para avaliar o nível de depressão, que se parece muito com o inventário de depressão de Beck. Apesar do nome eCBTmood o único humor (mood) que trata é o depressivo.

CBTReferee - U$ 4.99

Não há informações sobre os profissionais que estão por trás do site. As explicações sobre a TCC são pobres e não explicam porque um paciente deve anotar e analisar seus pensamentos. Rudimentar.

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As informações divulgadas neste blog não substituem aconselhamento profissional. Antes de tomar qualquer decisão, procure um médico.

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