Nunca antes na história do carnaval carioca se ouviu tanto clichê de superação e solidariedade para botar o bloco na rua. "A vontade não foi queimada!" Não chegaram a organizar campanha de doação de fantasias - todo mundo tem alguma coisa meio carnavalesca no armário -, mas toda a liturgia das grandes catástrofes no estado do Rio voltou espontaneamente ao noticiário na narrativa popular de seu drama momesco. "Este povo forte e guerreiro vai renascer das cinzas e mostrar sua força na avenida!"
Garra, raça, união, entrega, emoção, fé, reconstrução, alegria, luta, samba no pé, vamos que vamos... Daria pra fazer um país, na pior das hipóteses uma cidade bem melhor, só com a energia gerada por aquele maldito incêndio em cada componente do mundo do samba no pé. Sabe a "força da comunidade"? Só se fala disso no caminho dos carros de reportagem entre Madureira e a Baixada Fluminense.
Onde faltar alegoria, promete-se a toda hora na imprensa, o carnaval carioca vai desfilar alegria em estado bruto. Não à toa, os baianos chegaram a cogitar a ideia maluca de tocar fogo em meia dúzia de trios elétricos para divulgar melhor o carnaval de Salvador na mídia. O desafio que a tragédia da Cidade do Samba impôs aos desfiles na Marquês de Sapucaí atraiu para o Rio todas as expectativas de algo novo na festa deste ano. Ou Não, né?