A comunidade é fogo!

Uma tragédia! Não há outra definição para o fogo que consumiu em horas na manhã de segunda-feira um ano de trabalho de três escolas de samba do Rio. O drama da Portela, da Grande Rio e da União da Ilha tocou a todos, sem prejuízo de uma interpretação cômica dos fatos que se seguiram ao sinistro. Sem mortos ou feridos a se lamentar, teve vítima cuja fantasia se resumia a duas plumas e um punhado de purpurina dizendo nos telejornais que perdeu tudo no incêndio da Cidade do Samba.

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Por Redação
Atualização:

Nunca antes na história do carnaval carioca se ouviu tanto clichê de superação e solidariedade para botar o bloco na rua. "A vontade não foi queimada!" Não chegaram a organizar campanha de doação de fantasias - todo mundo tem alguma coisa meio carnavalesca no armário -, mas toda a liturgia das grandes catástrofes no estado do Rio voltou espontaneamente ao noticiário na narrativa popular de seu drama momesco. "Este povo forte e guerreiro vai renascer das cinzas e mostrar sua força na avenida!"

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Garra, raça, união, entrega, emoção, fé, reconstrução, alegria, luta, samba no pé, vamos que vamos... Daria pra fazer um país, na pior das hipóteses uma cidade bem melhor, só com a energia gerada por aquele maldito incêndio em cada componente do mundo do samba no pé. Sabe a "força da comunidade"? Só se fala disso no caminho dos carros de reportagem entre Madureira e a Baixada Fluminense.

Onde faltar alegoria, promete-se a toda hora na imprensa, o carnaval carioca vai desfilar alegria em estado bruto. Não à toa, os baianos chegaram a cogitar a ideia maluca de tocar fogo em meia dúzia de trios elétricos para divulgar melhor o carnaval de Salvador na mídia. O desafio que a tragédia da Cidade do Samba impôs aos desfiles na Marquês de Sapucaí atraiu para o Rio todas as expectativas de algo novo na festa deste ano. Ou Não, né?

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