Tutty Vasques
01 de agosto de 2010 | 09h01
ILUSTRAÇÃO POJUCAN
Se o público de Uma Noite em 67 pudesse escolher o melhor em cena no documentário de estreia da dupla Ricardo Calil e Renato Terra, já em cartaz nos cinemas, Caetano Veloso acabaria a temporada do filme como o grande vencedor do maior festival da canção de todos os tempos no Brasil. Com todo respeito a Chico Buarque (Roda-Viva), Gilberto Gil (Domingo no Parque) e Edu Lobo (Ponteio) – todos classificados à frente de Caetano na competição da TV Record – , a Alegria, Alegria do artista naquela época era irresistível e contagiante.
A música é detalhe de menor importância nessa revisão histórica que tira o grande prêmio de Edu Lobo. Menor porque eram todos tão impressionantemente grandes para a idade que tinham – vinte e poucos anos -, que o mais correto seria declarar um empate quádruplo. A MPB, hoje, leva 20 anos para produzir quatro jóias daquele quilate.
O que faz de Caetano Veloso imbatível em Uma Noite em 67 é a clareza da confusão de suas ideias expostas sem afetação, pose ou prepotência intelectual nas entrevistas de bastidores do festival. O Brasil da ditadura pré-AI-5 era ainda feliz, sem as amarras da repressão, do business, do marketing e do pensamento politicamente correto. A certa altura do filme, Caetano se enrola todo para definir o que é pop-art, sem qualquer constrangimento com a posteridade de sua ignorância. O cara que organizava o movimento estava ali, sobretudo, para se divertir.
O cinema vem abaixo às gargalhadas com a resposta do jovem baiano a um dos entrevistadores da Record: “O que me levou a fazer uma música sobre Brigitte Bardot, Claudia Cardinale e guerrilha foi justamente a Brigitte Bardot, a Claudia Cardinale e a guerrilha”. Naquele tempo, Caetano não parecia sarcástico nem com as vaias que, sorrindo, transformou em aplausos entusiasmados, num desses momentos que Nelson Motta define no documentário como de culto ao bom caratismo do ser humano.
Por tudo isso, meu voto é dele!
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