Isso talvez explique porque a presidente já vinha chamando 'corrupção' de "malfeito". Na troca de um substantivo por outro, sem que ninguém se desse conta, Dilma masculinizou a 'pouca vergonha' ministerial, provavelmente já pensando no mote de sua estreia histórica na ONU.
O elogio ao feminino está virando uma obsessão presidencial. Dizem que, na dúvida entre 'desvio' ou 'roubalheira', ela não terá dúvida em reconhecer publicamente pela designação masculina o que for preciso varrer de seu governo. Na República do Feminino, pois, 'propina' será sempre tratada por 'suborno'; 'desfaçatez' por 'descaramento'; 'conversa-fiada' por 'papo furado'...
'A voz da democracia', como lembrou a presidente na ONU "é feminina", gênero comum em nosso idioma a palavras de ordem substantivas como 'liberdade', 'igualdade' e 'fraternidade', sem falar na 'preguiça', na 'praia' e na 'caipirinha'.
No universo predominantemente masculino da Praça dos Três Poderes, destacam-se termos como 'mensalão', 'baixo clero', 'calote', 'conchavo', 'lobby' e 'trambique', sem falar no 'Sarney', no 'ar seco' e, de maneira mais abrangente, no 'fim do mundo'!
Pela linha de raciocínio que Dilma desenvolveu na ONU só duas expressões não se enquadram nesta dicotomia: 'picaretas' e 'caras-de-pau' são comuns de dois gêneros.