Não há na vasta crônica policial brasileira estudos sobre o momento exato em que o acusado mostra a cara sem qualquer pudor com o reconhecimento público. Pouco se sabe, portanto, sobre o instante em que uma pessoa perde inteiramente a vergonha, isso vale para ladrão de caixa eletrônico, sonegador de imposto, batedor de carteira ou político corrupto.
O caso de Jaqueline Roriz foi uma rara oportunidade em que deu pra ver direitinho o sorriso descarado saindo do armário horas antes da absolvição da deputada em processo de cassação na Câmara. Quem, depois daquele vídeo-mufunfa, passou a observá-la cavernosa pelos cantos do Congresso percebeu de cara na última terça-feira que a filha do velho Joaquim mudou radicalmente sua maneira de encarar quem lhe veste a carapuça.
Ou seja, a loura flagrada na farra do dinheiro público do DF não está mais nem aí para olhares de reprovação! Também não quer briga com ninguém! A risada que deixou escapar no plenário - repara só na ilustração ao lado - foi pura falta de talento para a sutileza. Um súbito descontrole no sarcasmo de seu DNA acabou empastelando o efeito Mona Lisa desejado. Um pingo de mistério, no caso de Jaqueline, pode ser a última esperança de uma dose remota de decência nessa história toda.