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Diversidade e Inclusão

A luta pela inclusão em Itapevi

Fabiana Ferreira, uma mulher com deficiência, após 20 anos de vida profissional, cansou de esperar por boas oportunidades de trabalho em sua cidade. Sozinha, começou a reunir forças para reverter o cenário de exclusão nas grandes empresas instaladas no município, que permanecem fechadas para essa mudança. Ela conseguiu uma garantia do prefeito sobre a criação da Coordenadoria Municipal das Pessoas com Deficiência em 2020 e tem um vereador como aliado. Senadora Mara Gabrilli e secretária estadual Célia Leão gravaram vídeos de apoio à iniciativa.

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Foto do author Luiz Alexandre Souza Ventura
Por Luiz Alexandre Souza Ventura
Atualização:


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Descrição da imagem #pracegover: Foto de Fabiana Ferreira. Ela tem cabelos pretos e lisos, e olhos claros. Veste casaco preto, camisa clara e echarpe colorida. Crédito: Arquivo Pessoal / Fabiana Ferreira.  Foto: Estadão


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Atualizado em 13/6/2019 (15h) - "Você é muito frágil e não pode trabalhar aqui", disse a funcionária do setor de Recursos Humanos da fábrica da Cacau Show, dois anos atrás, para Fabiana Ferreira, mulher com deficiência que havia se candidatado a uma vaga de trabalho na empresa em Itapevi, município da Grande SP.

Fabiana tinha 29 anos quando uma churrasqueira explodiu ao seu lado, queimando 50% de seu corpo, o que provocou deficiências físicas e muitas marcas na pele. Essas mudanças, no entanto, jamais impediram sua vida profissional, que soma mais de 20 anos, trajetória construída fora de Itapevi porque, diz Fabiana, a cidade está fechada para a contratação de pessoas com deficiência.


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Descrição da imagem #pracegover: Fabiana Ferreira veste camiseta regata de cor vinho. Seu corpo tem as cicatrizes provocadas pelas queimaduras que sofreu em 50% do corpo. Ela sorri e olha para o lado. Crédito: Arquivo Pessoal / Fabiana Ferreira.  Foto: Estadão


A história de Fabiana está relatada no livro 'O Fogo Não Queima a Alma', escrito por ela e lançado em junho de 2008, com prefácio de José Luiz Tejon. A publicação teve tiragem única, financiada pelo então deputado estadual João Caramez, com dois mil exemplares, mas não está à venda atualmente.

"O João Caramez é de Itapevi. Ele bancou minha reabilitação e as minhas cirurgias, e ainda me empregou como secretária dele, entre 2005 e 2008. Eu trabalhava até mesmo careca, porque foi necessário retirar pele da minha cabeça para fazer enxertos pelo corpo", lembra Fabiana.


 Foto: Estadão


Itapevi tem aproximadamente 220 mil habitantes - 40 mil com deficiência, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O município abriga um forte parque industrial, do qual fazem parte, além da Cacau Show, empresas como Henkel, Jaraguá, Casa Suíça, Eurofarma, Alpla, Wyeth, Blanver, B2W Digital, Bomi Brasil, Brasalpla e New Italian.

De acordo com o ranking 'As melhores cidades para os negócios' da Revista Exame, está entre as dez cidades com melhor desenvolvimento econômico no País, a primeira no Estado de São Paulo.

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Informações concretas sobre a participação de profissionais com deficiência no mercado de trabalho da cidade não existem. Nem mesmo a Prefeitura tem a descrição desse cenário. E as empresas não se manifestam.



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"Após inúmeras tentativas de recolocação, meu copo transbordou", conta Fabiana. "Nas três últimas entrevistas, eu ouvi: 'não estou aqui para passar a mão na cabeça de PCD', 'PCD aqui entra como auxiliar e sai como auxiliar' e até 'nossos funcionários não suportam ver suas queimaduras'. Percebi que não se tratava apenas de uma cisma, mas de uma visão preconceituosa com toda uma classe de pessoas", diz.

"Decidi que algo tinha de ser feito e comecei a luta pelas pessoas com deficiência, com o projeto chamado 'Ponto de Apoio', criado no começo do ano", explica a empreendedora. O nome foi inspirado na frase de Arquimedes (287 a.C. / 212 a.C.): 'Dê-me um ponto de apoio e moverei o mundo'.


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A batalha começou em fevereiro, com a busca de apoio político de Itapevi, Legislativo e Executivo. "Ouvi da classe política local que a cidade está muito atrasada nesse sentido, mas consegui apoio à causa, com a ressalva do 'você tem razão, mas não temos verba para isso'. Foi quando percebi a importância da criação de um departamento ou órgão público dedicado às pessoas com deficiência", afirma Fabiana.

Ela fez esse pedido diretamente ao prefeito de Itapevi, Igor Soares (PODE), em uma reunião, e recebeu garantia de que a Coordenadoria Municipal para Pessoas com Deficiência será criada em 2020.

Questionada pelo #blogVencerLimites sobre essa promessa, a Prefeitura de Itapevi confirmou a reunião, afirmou que a Coordenadoria deve ser instalada no próximo ano, destacou que planeja tornar todas as escolas municipais acessíveis, mas não fez qualquer menção à colocação de pessoas com deficiência no mercado de trabalho local e nem sobre quais ações estão em andamento para esse setor.

Além do apoio da senadora Mara Gabrilli (PSDB/SP), da secretária dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de SP, Célia Leão - que gravaram vídeos para fortalecer a empreitada -, da secretária adjunta da cidade de São Paulo, Marinalva Cruz, e do ex-deputado estadual João Caramez, outro aliado de Fabiana é o vereador de Itapevi Renato Passos da Cruz (PSDC), que protocolou requerimento na Câmara para cobrar da Prefeitura a criação da Coordenadoria Municipal.


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Descrição da imagem #pracegover: Fabiana Ferreira conversa com a secretária adjunta da Pessoa com Deficiência de São Paulo, Marinalva Cruz. Crédito: Arquivo Pessoal / Fabiana Ferreira.  Foto: Estadão




EMPRESAS FECHADAS À INCLUSÃO - O momento atual na caminhada de Fabiana Ferreira, e de seu projeto 'Ponto de Apoio', é de tentativa de contato com as dezenas de empresas instaladas em Itapevi.

Vale ressaltar que Fabiana não está em busca de cargos públicos ou de empregos nas indústrias locais. A meta é mais ampla, de modificar a mentalidade corporativa, promover a cultura inclusiva, ampliar o conhecimento sobre a participação das pessoas com deficiência na sociedade e conscientizar os empresários sobre os benefícios da diversidade nos negócios.

RESPOSTA - Em nota enviada ao #blogVencerLimites, a Cacau Show afirma que a profissional citada por Fabiana não trabalha mais na empresa. "Lamentamos imensamente que a ex-funcionária tenha se posicionado de tal maneira. Reforçamos que este comportamento não faz parte das políticas aplicadas pela empresa", destacou a Cacau Show.

Sobre a participação da companhia no projeto Ponto de Apoio, a Cacau Show disse que está checando agendas da equipe de RH para marcar um encontro, mas isso ainda não aconteceu.

"A Cacau Show reforça sua preocupação contínua e respeito às leis de inclusão, possuindo mais de 5% (cota legal mínima) e continuamos com os esforços de aumentar esta inclusão na empresa", concluiu a companhia.

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