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Diversidade e Inclusão

"Ainda temos muito a fazer pela inclusão"

Em entrevista ao blog Vencer Limites, o secretário municipal da pessoa com deficiência do Rio de Janeiro fala sobre os avanços da acessibilidade na cidade e no País. "Nossa maior dificuldade é fazer com que as leis sejam entendidas e cumpridas".

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Por Luiz Alexandre Souza Ventura
Atualização:

Carlos Alberto da Silva Rocha é secretário municipal da pessoa com deficiência do Rio de Janeiro. Foto: Bruna Prado/EP/Divulgação

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"Precisamos colocar a questão da acessibilidade na cabeça dos governantes e também de quem faz a cidade acontecer", diz Carlos Alberto da Silva Rocha, secretário municipal da pessoa com deficiência do Rio de Janeiro, em entrevista ao blog Vencer Limites durante o lançamento do primeiro Espaço Sadia (estações públicas de ginástica e alongamento para cadeirantes).

Para o secretário, a cidade do Rio de Janeiro serviu de exemplo para muitos municípios brasileiros que hoje são considerados acessíveis, mas ele acredita que mais pode ser feito pela acessibilidade e pela inclusão no País. "É necessário embutir esse pensamento na política, tem de ser setorial, no transporte, na educação, na saúde, não apenas na questão do ir e vir, mas também no acesso às políticas públicas", diz.

Vencer Limites - Qual a sua avaliação sobre acessibilidade e inclusão no Rio de Janeiro e no Brasil? Carlos Alberto da Silva Rocha - Vou falar primeiro sobre o Rio. A cidade precisou parar de pensar sobre acessibilidade sem mobilidade. São dois temas que precisam andar em conjunto. Não adianta ter acessibilidade e não ter mobilidade. E vice-versa. Com isso, a cidade avançou bastante, mas não o suficiente. Ainda temos bastante a fazer. Nós conseguimos colocar, não somente na cabeça dos governantes, mas também dos técnicos, de quem faz a Prefeitura acontecer, a necessidade de pensar a questão da acessibilidade. Hoje, qualquer projeto da cidade do Rio de Janeiro é pensado, na sua elaboração, na garantia do ir e vir. Esse é o nosso maior avanço. O resultado nós vemos aos poucos. Não se faz uma cidade acessível de uma hora para outra. E nem vamos fazer a cidade 100% acessível. Isso é impossível. No Brasil, com o exemplo do Rio, houve um avanço. Há muitas cidades que evoluíram muito, como Curitiba e municípios do interior de SP. É difícil afirmar que uma cidade é plenamente acessível, mas essas são acessíveis. Acredito que precisamos avançar mais na conscientização da pessoa que executa a obra. Porque não adianta apenas o gestor ser sensível ao tema. É necessário embutir esse pensamento na política, tem de ser setorial, no transporte, na educação, na saúde, não apenas a acessibilidade na questão do ir e vir, mas também no acesso às políticas públicas.

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Vencer Limites - Qual a sua opinião sobre a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência? Carlos Alberto da Silva Rocha - Veio para somar. E deu um contorno, esclareceu questões, ajudou bastante, mas precisamos fazê-la acontecer. Temos que transformar essa lei em ações práticas, no dia a dia.

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Vencer Limites - Escolas particulares questionam a LBI no item que obriga instituições de ensino a prover todos os recursos de acessibilidade. O que o senhor pensa sobre isso? Carlos Alberto da Silva Rocha - É uma questão cultural. Faz parte de um processo. Precisamos criar a consciência de que a escola, esse espaço tão importante na formação de qualquer pessoa, precisa ser inclusiva. E isso vai exigir tempo. Por outro lado, nem todas as pessoas com deficiência terão a oportunidade de participar de uma escola inclusiva. Mesmo com a LBI, é necessário discutir se as escolas terão condições de atender todos, com todas as diversidades. O facilitador, por exemplo, é uma figura fundamental na escola. E elas têm de assumir essa função. Tem de ser funcionário da escola.

Vencer Limites - Quais exemplos positivos o Brasil tem para mostrar e o que podemos aprender com os outros países? Carlos Alberto da Silva Rocha - A Lei Brasileira de Inclusão é muito avançada. A diferença é que em outras nações as lei são cumpridas e entendidas pela sociedade. Essa é a nossa maior dificuldade, fazer com que as leis sejam entendidas e cumpridas. Veja o exemplo da creche inclusiva, onde convivem crianças com e sem deficiência. Elas serão, certamente, jovens e adultos diferentes.

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Vencer Limites - No dia 24 de julho, a Lei de Cotas (nº 8.213/1991) completa 25 anos. Muitas empresas contratam pessoas com deficiência apenas para cumprir a lei e não para promover a verdadeira inclusão. Qual a sua avaliação sobre o acesso ao trabalho no Brasil e também sobre as cotas? Carlos Alberto da Silva Rocha - Tem o lado da empresa e o lado do trabalhador com deficiência. Muitas pessoas com deficiência que recebem benefício do governo federal têm um enorme receio de abrir mão dessa renda mensal garantida para aceitar um emprego, porque elas temem perder esse emprego. Em muitos casos, as vagas oferecidas para pessoas com deficiência não exigem qualificação, o salário é baixo e isso faz com que essas pessoas não aceitem a troca. A sociedade brasileira tem uma grande dívida para com as pessoas com deficiência, principalmente aquelas com idade a partir de 35 anos. Essas pessoas tiveram poucas oportunidades para estudar e conquistar uma qualificação profissional. A empresa encontra esse cenário e afirma que não há pessoa com deficiência qualificada para o trabalho. Nos últimos dez anos essa situação mudou e as pessoas com deficiência tiveram mais oportunidades. O debate deve abranger empresários e trabalhadores, para nós chegarmos em um momento no qual não haverá necessidade de uma lei para a disputa de uma vaga de trabalho, porque a pessoa com deficiência pode agregar valor a qualquer empresa.

Primeiro 'Espaço Sadia' já está aberto em frente ao Estádio Maracanã, na esquina da Rua Professor Eurico Rabello com a Avenida Professor Manuel de Abreu, ao lado da ciclovia. Foto: Bruna Prado/EP/Divulgação

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