Luiz Alexandre Souza Ventura
01 de abril de 2017 | 14h11
Com peças coloridas, a fita quebra-cabeça é um símbolo internacional que representa o mistério e a complexidade do autismo. Imagem: Reprodução
Criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 2007, o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, celebrado neste domingo, 2, lança uma luz sobre a condição que afeta pessoas de diferentes faixas etárias em todo o planeta.
O tema ainda é cercado de muitas incertezas, estigmas, mitos e disgnósticos equivocados, mas cada vez mais a sociedade tenta reunir informações para garantir a quem tem o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e a seus familiares melhor qualidade de vida.
No Rio de Janeiro, um encontro comandado pela vereadora Luciana Novaes debate o autismo severo, a partir das 15h, no salão nobre da câmara municipal, com participação de Caio de Sousa, da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB/RJ, o psiquiatra infantil Lucas Freitas Magalhães, e de Vera Duma e Clotilde de Araújo, que têm filhos com autismo.
Realista – Em ‘Meu Menino Vadio’, o jornalista Luiz Fernando Vianna expõe suas inseguranças, intimidades e, principalmente, a relação com o filho Henrique, que “está no espetro do autismo”, como afirma o escritor.
Trata-se de um conteúdo que precisa ser lido, e relido, por quem convive com o autismo e também por quem jamais chegou perto do assunto. É uma verdadeira porrada, um soco reto, uma bofetada de mão cheia, que amplia e aprofunda, de forma nada sutil, nossa percepção e o conhecimento que julgamos ter a respeito do tema.
O #blogVencerLimites conversou com Vianna (clique aqui) para saber mais sobre o processo de criação do livro, a atuação de grande imprensa na apresentação de quem tem autismo e das pessoas com deficiência em geral, e também sobre as diferentes manifestações de pais que têm filhos no espectro.
“Disseram que meu filho era mimado”, conta a escritora Anita Brito, que enfrentou preconceitos e diagnósticos equivocados para conseguir cuidar do filho Nicolas, que tem autismo. Imagem: Arquivo Pessoal
A escritora Anita Brito percebeu logo após o nascimento de seu filho Nicolas que o menino apresentava um comportamento diferente do habitual para um bebê. “Nos primeiros meses achava ele muito calmo, mas não cheguei a suspeitar de autismo. Porém, pensei que algo pudesse estar errado”, explica.
Foi nessa época que teve início a batalha de Anita por um diagnóstico preciso e, consequentemente, por tratamentos e procedimentos de ajudassem no desenvolvimento de Nicolas. “A pediatra me disse que ele era lindo que eu era mãe de primeira viagem. Aos 4 meses e meio, começamos a dar comida e água, além do leite materno, e aí comecei a suspeitar ainda mais, pois ele gritava muito. Quando ele estava com 1 ano, eu já suspeitava de autismo. Ele não demonstrava interesse em sair de casa. Gostava da máquina de lavar e do ventilador. E gritava se fôssemos a algum lugar cheio”, diz a escritora.
Quando Nicolas tinha dois anos, Anita afirma que já tinha certeza do autismo. “Os médicos continuavam a dizer que ele era normal, que eu estava com depressão pós-parto etc. Aos 3 anos ele teve diagnóstico de ‘criança psicótica’, mas nada levava a crer que ele fosse psicótico. Aos 3 anos e meio foi diagnosticado como ‘tendo um retardo muito grave’. Aos 4 anos, como mimado demais pelos pais e nós não o deixávamos crescer. Somente aos 5 anos veio o diagnóstico de autismo dado por psiquiatras”, conta.
Educação – “Um dos primeiros desafios da criança com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é a escola. Por causa de suas dificuldades na fala, ao transmitir emoções, de entendimento da linguagem subliminar, de expressões faciais e até de mudanças de tom da voz, ela muitas vezes não consegue compreender explicações da professora e as histórias de livros”, afirma a psicopedagoga Dayse Serra, doutora em psicologia clínica e colaboradora da Neuro Saber.
Para a especialista, falta de habilidade de professores e pedagogos que não sabem como se processa o pensamento de um autista dificulta muito a alfabetização, tornando impossível que a criança desenvolva a capacidade de ler e entender o mundo em sua volta.
“Muitas escolas têm outra linha de trabalho e o educador padroniza o ensino sem pensar nesse estudantes, o que aumenta as chances de não dar certo. Para alfabetizar e educar alguém com autismo, é necessário entender seu funcionamento, suas alterações no que diz respeito à percepção do mundo, as sensações, os medos e seu desempenho linguístico”, ressalta Dayse Serra.
Autismo – O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) começa na infância e tem causas multifatoriais, que envolvem mecanismos genéticos e ambientais, afetando os aspectos funcionais do indivíduo, mais evidentemente a tríade: interação social, comunicação e comportamento.
O ‘Manual Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais – quinta edição (DSM-5)’ utiliza o termo TEA para se referir a um continuum de quadros psicopatológicos com variação de sintomas: alguns indivíduos apresentam sintomas leves, ao passo que outros apresentam sintomas mais graves. O transtorno usualmente surge antes dos três anos de idade.
Os critérios diagnósticos são eminentemente clínicos, realizados, em sua maioria, por uma equipe interdisciplinar.
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