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Diversidade e Inclusão

Campeões paralímpicos lutam com o xixi

Estudo internacional revela altos índices de complicações urológicas entre atletas cadeirantes. Médico brasileiro que participou da pesquisa destaca importância de tratamentos seguros e uso de cateteres hidrofílicos.

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Por Luiz Alexandre Souza Ventura
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Guilherme Marcião e Rafael Hoffmann são campeões, atletas brasileiros que representam o País em competições internacionais, como as Paralimpíadas e o Parapan, medalhistas e referências do esporte. Marcião, mesatenista, e Hoffmann, que joga rugby, têm muito mais em comum do que o uso da cadeira de rodas, ambos também enfrentam contantes infecções urinárias que atrapalham os treinos e o desempenho nas provas. Tratam uma luta constante com o xixi.

"Atrapalha no próprio desenvolvimento do treino porque preciso fazer mais cateterismo, fico mais debilitado e não posso treinar com febre", diz Marcião. "Nos treinos, o principal inconveniente causado pelas infecções é a impossibilidade de dar sequência no calendário, sempre acabava afastado por um período, até três vezes por ano e, no retorno, estava abaixo da evolução da equipe", conta Hoffmann.

Nas competições, explica o atleta de rugby, o desgaste é muito maior por causa das viagens e do curto Intervalo entre os jogos. "A imunidade fica mais comprometida e, em alguns torneios, não participei dos primeiros jogos por ter infecções", explica Hoffmann. "Ter infecções recorrentes pode criar problemas para viajar e, certamente, preocupa quem já tem torneios agendados", complementa Marcião.

O mesatenista acrescenta o problema pode dificultar a evolução do atleta. "Quanto menos infecções, melhor, claro. A partir do momento em que isso está mais controlado, tudo fica mais seguro e fácil para o atleta", afirma.

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"Tenho certeza que meu rendimento ficou abaixo do que eu poderia alcançar se não fossem esses problemas, muitos treinos e competições tomando antibióticos, que levaram ao encerramento precoce da minha carreira. Vou parar no fim desse ano", desabafa o jogador de rigby. "As viagens e as competições causam uma baixa de imunidade e a infecção vem como consequência porque a bactéria fez colônia na bexiga, resultado das infecções que tive ao longo desses anos. Sem esse obstáculo, eu poderia continuar sem preocupação", diz Hoffmann.


Descrição da imagem #pracegover: Foto do mesatenista brasileiro Guilherme Marcião em uma partida. Crédito: Daniel Zappe.  Foto: Estadão


Os relatos dos atletas brasileiros comprovam os resultados de uma pesquisa publicada na Spinal Cord, do grupo Nature, revista oficial da International Spinal Cord Society (ISCoS). O estudo transversal foi feito durante as Paralimpíadas de 2016 no Brasil, com 130 atletas masculinos que têm lesões medulares, de diferentes nacionalidades - canadenses, americanos, brasileiros, chilenos, japoneses e colombianos -, e revelou altos índices de complicações urológicas entre os competidores cadeirantes.

O urologista brasileiro Marcio Averbeck é um dos autores do estudo. A proposta foi avaliar se os atletas têm condições físicas para disputar competições nacionais e internacionais de altíssimo nível, além de alertar para os cuidados com o esvaziamento da bexiga (cateterismo vesical intermitente), procedimento que precisa ser feito com cateter descartável, manejo extremamente cuidadoso e higiênico.

Entre os atletas entrevistados, 84% fazem cateterismo intermitente e, desse grupo, 77% já tiveram complicações decorrentes do procedimento, como lesões uretrais e infecções urinárias ao longo de um ano.     "São números muito elevados que confirmam a importância da educação continuada desse público, atletas ou não, para que a prática correta do cateterismo intermitente seja um hábito permanente e também um cuidado de longo prazo por parte dos profissionais de saúde", afirma Marcio Averbeck, que é membro do Continence Advisory Board (CAB), Brasil e global, da empresa Coloplast, que apoiou o estudo no País junto com o Instituto Lado a Lado pela Vida, a Unidade de Vídeo Urodinâmica do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e o Serviço de Urologia do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. No Brasil, a pesquisa foi coordenada pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo (IAMSPE).

"É fundamental que médicos e enfermeiros mantenham usuários atualizados com o que há de mais avançado e seguro na área de tratamento da bexiga. Nem todos os atletas com lesões medulares têm esse cuidado, acabam relaxando e sofrem complicações", diz Averbeck.

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"Acredito que o impacto nas comorbidades relacionadas à inatividade física é ainda maior entre os indivíduos que não são atletas, seguramente", destaca o urologista.


Descrição da imagem #pracegover: Montagem com duas fotos de um cateter hidrofílico. Crédito: Divulgação.  Foto: Estadão


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A migração de cateteres convencionais para os hidrofílicos, lubrificados e prontos para uso, em pessoas que têm infecções urinárias recorrentes ou trauma de uretra, é um saída para reduzir as complicações. "Na Europa, o uso dos cateteres hidrofílicos se consagrou como padrão ouro no tratamento da bexiga nos indivíduos com doenças neurológicas" esclarece o médico.

Esse tipo de equipamento mais avançado tem uma ponta flexível em formato de gota e flexibilidade para inserção e retirada, simples e gradual, pelas irregularidades da uretra masculina. A ponta flexível fica sempre no centro da uretra, evitando falsos trajetos. Um guia de inserção facilita a navegação e permite um cateterismo higiênico, sem toque no cateter, diminuindo o risco de contaminação e de infecção urinária em até 54%.

O estudo internacional foi uma iniciativa do grupo do professor Andrei Krassioukov, do departamento de Medicina da University of British Columbia, em Vancouver (Canadá), com o departamento de Urologia da Universidade de Basel, na Suíça.

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REPORTAGEM COMPLETA EM LIBRAS (EM GRAVAÇÃO)

Vídeo produzido por Helpvox com a versão da reportagem na Língua Brasileira de Sinais pela tradutora e intérprete Milena Silva.


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