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Diversidade e Inclusão

Custo de produção e falta de especialistas ainda limitam oferta de livros em Braille

Valor de impressão é até 70% maior do que o investido em publicações convencionais. Apesar do cenário difícil, Fundação Dorina tem biblioteca com 5 mil itens e vai ampliar acervo.

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Por Luiz Alexandre Souza Ventura
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Descrição da imagem #pracegover: Foto aberta da gráfica em Braille da Fundação Dorina Nowill para Cegos mostra uma grande mesa com diversas impressões empilhadas, funcionários trabalhando e equipamentos enfileirados. Crédito: Divulgação.  Foto: Estadão


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Até o final deste ano, a biblioteca acessível da Fundação Dorina Nowill para Cegos, que tem 508 livros em Braille, 3.675 audiolivros e 945 conteúdos digitais, vai ganhar novos títulos, alguns consagrados na literatura mundial.

Ainda em março chegam 'A Trilogia Nova York', The New York Trilogy, série de romances de Paul Auster publicados em 1985 e 1986, reunidos em um único volume; 'Alice no Jardim de Infância', clássico de Lewis Carroll, concebido e escrito entre 1889 e 1890, que reconta para crianças de zero a cinco anos as aventuras da menina Alice no País das Maravilhas, e 'Conserto Para uma Alma Só', do brasileiro Luiz Antonio Gasparetto, livro de poemas espíritas.

Também estão previstos para o primeiro semestre 'A cabana do Pai Tomás', Uncle Tom's Cabin ou Life Among the Lowly, romance de 1852 sobre a escravidão nos Estados Unidos da escritora norte-americana Harriet Beecher Stowe; 'O Filho das Sombras', segundo livro da trilogia Sevenwaters, da escritora neozelandesa Juliet Marillier, publicado em 2001; 'Outlander, A Viajante do Tempo', de 2018, fenômeno mundial da escritora Diana Gabaldon transformado em série de TV; 'Uma história do Samba: Volume I (As Origens)', de Lira Neto, lançado em 2017; 'Mister', romance de E L James publicado em 2019; 'O Homem de Giz', sucesso lançado em 2018, história de mistério e fantasia escrita por C.J. Tudor, e 'O Falcão Maltês', The Maltese Falcon, romance policial de 1930 do escritor americano Dashiell Hammett, originalmente lançado como série na revista Black Mask. Todos terão versão em áudio.

Para a produção e impressão em Braille, o custo ainda é até 70% maior do que a de títulos em tinta, para pessoas videntes.

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"O valor é determinante para tornar menor a quantidade de materiais publicados em Braille", diz Carla De Maria, gerente de soluções em acessibilidade da Fundação. "Outro ponto que também dificulta o processo é a falta de profissionais capacitados para a criação do conteúdo, tornando a mão de obra escassa no mercado", afirma a especialista.


Descrição da imagem #pracegover: Foto da gráfica em Braille da Fundação Dorina Nowill para Cegos mostra uma fileira de impressoras digitais. Crédito: Divulgação.  Foto: Estadão


"Como resultado desses dois pontos específicos, os livros acessíveis não são muito comercializados. Há projetos incentivados e programas do governo federal", explica.

Carla De Maria ressalta que essas são as principais dificuldades que a Fundação Dorina encontra para produzir os conteúdos acessíveis.

"Acredito que a redução de custo demanda algumas ações de ambos os lados da cadeia produtiva. A possibilidade de trabalhar em parceria com as editoras, apoiando em forma de consultoria especializada na construção de conteúdo, partindo para o conceito universal de produção de livros. E o investimento em tecnologia para soluções editoriais, dando a possibilidade de produzir em escala. O processo é extremamente manual, quase artesanal, para a conversão dos títulos", detalha a gerente.

"Dorina de Gouvêa Nowill afirmava que 'na escada da vida, os degraus são feitos de livros'. Ela sempre deixou claro que o aprendizado é um dos principais pilares para a independência da pessoa com deficiência visual. Por isso, a qualidade dos materiais é extremamente importante", comenta. "Para ajudar a produção em Braille, o incentivo de políticas públicas também é essencial", destaca Carla De Maria.

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"Não encontramos com facilidade mão de obra qualificada e, por isso, a Fundação Dorina Nowill para Cegos trabalha na formação de profissionais do mercado editorial, para, quem sabe, aumentarmos oferta e demanda nesse segmento", idealiza a especialista.


Descrição da imagem #pracegover: Foto da gráfica em Braille da Fundação Dorina Nowill para Cegos mostra um funcionário operando uma impressora manual e inserindo no equipamento uma placa de alumínio. Crédito: Divulgação.  Foto: Estadão


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Como é feito - Os pedidos dos títulos passam pela área comercial da Fundação Dorina. Pessoas físicas e jurídicas contratam as soluções de acessibilidade da instituição, determinando os títulos e suas demandas. No caso de projetos incentivados por lei, que subsidiam as ações de leitura acessível, a Rede de Leitura Inclusiva identifica os títulos mais interessantes para produção, de acordo com as necessidades dos parceiros e leitores com deficiência visual. Com a ordem de serviço em mãos, o Editorial Braille faz produção em três frentes.

Limpeza - Ordenação do texto e inserção de caracteres especiais. "É bastante comum os editores dos livros em tinta utilizarem boxes nas laterais dos textos ou letras em negrito, que não são funcionais para a leitura do Braille. Por isso, essa etapa serve para organizar o texto linearmente e inserir os sinais que são específicos do sistema Braille", esclarece Carla De Maria

Diagramação - Fase de adaptação do conteúdo e formatação do livro. Para isso, são utilizados como referência a grafia Braille para a língua portuguesa e as normas técnicas para produção de textos em Braille.

Revisão - Conferência do conteúdo, feita por um revisor Braille com deficiência visual e um assistente voluntário vidente.

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"O tamanho dos livros em Braille é específico para cada conteúdo. Em média, os volumes têm 23 centímetros de largura por 31 centímetros de altura. A Fundação Dorina tem dois tipos de máquinas de impressão. As digitais, dispositivos de mercado, preparadas para a impressão de Braille em papel de gramatura mínima offset 120mg, que imprimem por arquivos. E as manuais, Heidelberg, adaptadas para impressão em papel com gramatura mínima offset 120g por matrizes, as chapas de alumínio", completa a gerente de soluções em acessibilidade da Fundação Dorina.


Descrição da imagem #pracegover: Foto mostra duas mãos de mulher sobre uma folha branca com impressão em Braille. Crédito: Divulgação.  Foto: Estadão


A Rede de Leitura Inclusiva é uma ação que beneficia pessoas com deficiência visual com a troca de experiências e boas práticas em leitura. São encontros com a presença de leitores, bibliotecários, professores, mediadores de leitura e instituições de atendimento à pessoa cega ou com baixa visão. Ao todo, 3.123 organizações cadastradas têm acesso aos títulos.

Segundo a Fundação Dorina, 241 atividades foram promovidas no ano passado, entre reuniões de planejamento, oficinas, lives e palestras.

Na pandemia, as ações se tornaram virtuais, com 1.800 participações em encontros online. As lives tiveram até 8 mil visualizações, diz a instituição. O conteúdo está publicado no canal da Fundação Dorina no YouTube.


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REPORTAGEM COMPLETA EM LIBRAS (EM GRAVAÇÃO)Vídeo produzido por Helpvox com a versão da reportagem na Língua Brasileira de Sinais pela tradutora e intérprete Milena Silva.


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