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Diversidade e Inclusão

"É a cabeça que determina o ritmo de uma pessoa com deficiência, não é o corpo", diz Fernando Fernandes

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Por Luiz Alexandre Souza Ventura
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 Foto: Estadão

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Atualizado em 28/01/2014 às 16h46 - Fernando Fernandes está começando uma nova fase. Aos 32 anos, quase cinco anos após sofrer um acidente de carro que o tornou paraplégico, ele viaja nesta semana para a Europa, onde visitará Áustria e Portugal. O motivo da viagem, a primeira que fará ao exterior totalmente sozinho, é a concretização do projeto de uma nova canoa. Atleta da paracanoagem, Fernando diz ter encontrado na modalidade - na qual é campeão brasileiro, sul-americano e mundial - uma mistura de liberdade e redescoberta da capacidade.

Antes do acidente, foi jogador de futebol profissional, praticou boxe amador e já trabalhava como modelo, além de frequentar a faculdade de Educação Física. "Nessa época, eu já planejava o momento certo de encerrar a vida de modelo, concluir a faculdade e viver do esporte. Ainda não sabia como iria concretizar tudo isso, mas o plano existia".

Quando "caiu a ficha" sobre a paraplegia, Fernando percebeu a necessidade de ter um 'plano B' e sabia que o esporte seria fundamental nessa nova fase. "Eu cheguei a pensar que buscar alternativas seria como se eu estivesse desistindo de andar".

Foi quando ele conheceu o trabalho da Rede SARAH que o "mundo se abriu". "No SARAH, há um trabalho de reabilitação muito bom, que tem base na capacidade do indivíduo. É a cabeça que determina o ritmo de uma pessoa com deficiência, não é o corpo. O que define isso é a vontade. A deficiência, a dificuldade e a limitação são apenas obstáculos a serem vencidos", diz Fernando, enquanto se prepara para entrar no carro e enfrentar o trânsito de São Paulo, a caminho de mais um dia de treino.

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O 'plano B' apresentou Fernando à paracanoagem e ao esporte adaptado. Também mostrou a realidade enfrentada pelas pessoas com deficiência no Brasil. "O que falta aqui é fiscalização e respeito, às leis e às pessoas, aos idosos, aos obesos. Você vê novos empreendimentos que não têm qualquer acessibilidade. Isso cria constrangimento. E muita gente, para evitar esse constrangimento, prefere não ir aos locais onde não há acessibilidade".

Uma forma que ele encontrou de usar a paracanoagem para mostrar ao País que pessoas com deficiência podem fazer muito, mas que políticas públicas e iniciativas particulares são fundamentais, foi criar o Instituto Fernando Fernandes Life, que se dedica a mostrar o esporte, incentivar a prática e trabalhar a base. "Um dos problemas do Brasil é a falta de estrutura para criar uma base de atletas paralímpicos. As condições estão melhorando, estamos aprendendo a apresentar o atleta paralímpico, mas precisamos criar uma geração de atletas de alto nível, de alta performance".

Sobre comparações do Brasil com outros países, no que diz respeito às pessoas com deficiência, Fernando afirma que, lá fora, o cidadão sabe que vai sair de casa e conseguirá chegar onde pretende. "Aqui, se você não tem carro, se depende de transporte público adaptado, muitas vezes tem a certeza de que não conseguirá ir até o local que precisa. E mesmo com o carro, entrar em determinados locais é impossível. Por isso, tem muita gente que nem sai de casa".

 Foto: Estadão

Patrocínio - Recentemente, Fernando Fernandes assinou contrato de patrocínio com a Seguros Unimed, por intermédio do Instituto Superar. Além de integrar o time de atletas com deficiência patrocinados pela seguradora, ele será a estrela do Projeto 'Atitude no Esporte'. São oito eventos esportivos durante o ano, em diversas modalidades, com transmissão pelo canal de TV por assinatura SporTV.

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 Foto: Estadão

Nesta segunda-feira, 27, Fernando Fernandes publicou no Facebook uma foto na qual aparece em pé. Em entrevista ao GloboEsporte.com, ele disse que "na verdade, isso é uma coisa que faço sempre. Fico de pé com a ajuda de uma órtese (apoio que fica por baixo da calça). Assim enxergo o mundo de novo com 1,90m e mato saudades. O grande intuito dessa foto foi chamar atenção para uma corrida que vai ter, a "Wings for Life World Run". Estou como embaixador, já que o objetivo dela é buscar fundos para a cura da lesão medular. O mundo está começando a olhar mais para isso. O maior beneficiado desse evento sou eu e outras pessoas na minha condição. A ideia é sensacional, é tudo simultâneo: corrida no deserto, no frio, no calor, vários países juntos. Quanto mais pessoas tiverem, mais bonito vai ser e mais atenção vamos atrair para um problema que não é só meu. Eu carrego essa bandeira. Tive essa força, mas não é todo mundo que tem. É o mínimo que posso fazer".

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