
Desde dezembro do ano passado, a Embalixo, empresa que fabrica sacos de lixo, inclui informações em braile nas 2,8 milhões de embalagens que confecciona todo mês para seus produtos. O trabalho teve consultoria da Fundação Dorina Nowill para Cegos e exigiu um sistema inovador, com o desenvolvimento de placas de metal específicas, adaptação no maquinário e aumento no tempo de produção.
"Montar a máquina foi difícil, mas chegar na carga de pressão e na velocidade corretas foi muito mais difícil", diz Rafael Costa, diretor comercial da Embalixo. A fabricante produz aproximadamente 14 toneladas de embalagens mensalmente. O plástico dos pacotes tem base em polietileno e polipropileno, com textura, espessura e flexibilidade calculadas.
"Estamos investindo nas fábricas, nos processos, nos produtos a nas práticas para zerar nossas emissões de carbono. Nossos produtos já são 100% recicláveis. Usamos energia solar na sede administrativa e reaproveitamos materiais", comenta o executivo.

Costa explica que a pandemia chamou a atenção da empresa para a necessidade de ampliar suas ações sociais. A aproximação com instituições que defendem a inclusão ou que cuidam de pessoas com deficiência e a convivência com um funcionário que tem baixa visão mostraram a importância da acessibilidade. Com pouco conhecimento sobre o braile, a empresa buscou orientações da Fundação Dorina.
"Foi um caso atípico, nossa primeira experiência com plástico. Fizemos muitas reuniões para chegar a um entendimento sobre o espaçamento entre os pontos, a altura do relevo, a ortografia e a utilidade das informações", conta Carla De Maria, gerente de soluções em acessibilidade da Fundação Dorina Nowill para Cegos.
"Uma das etapas é o teste manual por pessoas cegas. Nesse caso, foi usado o braile interponto, que fura a superfície", esclarece a gerente. "Braile no saco plástico tem maior durabilidade. No papel pode perder o relevo mais rápido", destaca a especialista.
Após a definição do formato e das informações, foi criado um arquivo digital, em PDF, com o pontos em cor preta sobre fundo branco, que serviu de modelo para as matrizes de alumínio, chamadas de clichê.

De volta à fábrica, a Embalixo precisou definir em qual etapa da produção e em qual máquina seria incluída a impressão do braile.
"Tivemos que criar um novo equipamento, a partir de uma máquina de corte. O braile entrou no meio do processo, na parte de identificação de produto, marca e tamanho. As placas com as informações são pressionadas, mas sem furar a embalagem. Modificamos a área de impressão do que vai escrito na embalagem e a localização da solda (fechamento do pacote). Conseguimos manter a mesma espessura da embalagem", ressalta Rafael Costa.
O diretor comercial da Embalixo afirma que a inclusão do braile na produção das embalagens aumentou em 10% o tempo dessa fabricação, o que gera um crescimento do custo por quilo produzido. "É algo muito recente e que vai receber melhorias. Ainda não é possível verificar o impacto nas vendas", diz.
Carla De Maria chama a atenção para a importância do braile na alfabetização de pessoas cegas. "Ainda é insubstituível. As novas gerações, felizmente, estão próximas do braile. É libertador porque promove autonomia. Esse processo é mais difícil pra quem perde a visão ao longo da vida, mas pode ser apoiado por recursos complementares", completa a gerente de soluções em acessibilidade da Fundação Dorina.
