PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Diversidade e Inclusão

"Faço arte para todos, inclusive quem não pode me ouvir ou ver"

Luiza Caspary, cantora e compositora, lança 'Mergulho' neste sábado, 21, Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, durante a Semana da Acessibilidade Surda em São Paulo. Álbum é todo traduzido para Libras. Show terá audiodescrição e outros recursos de acessibilidade. Disco completo está disponível nas plataformas digitais. Confira no #blogVencerLimites uma entrevista exclusiva com a artista em vídeo com interpretação na Língua Brasileira de Sinais.

Foto do author Luiz Alexandre Souza Ventura
Por Luiz Alexandre Souza Ventura
Atualização:


Ouça essa reportagem com Audima no player acima ou acompanhe a tradução em Libras com Hand Talk no botão azul à esquerda.


 Foto:


PUBLICIDADE

"Há um pedido muito forte no mundo para que a gente se enxergue, se ouça, se perceba. Existem outras formas de comunicação", diz a cantora e compositora Luiza Caspary, que se apresenta neste sábado em São Paulo, às 15h30, no auditório da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SEDPcD), uma das atrações da Semana da Acessibilidade Surda.

É o show de lançamento do álbum 'Mergulho', que tem produção de Lou Schmidt e está repleto de participações especiais, como Jair Oliveira, Juliana Strassacapa, Estevão Queiroga, Necka Ayala e Gabriel Von Brixen.

"Escrever e cantar sobre o amor, a saudade, o tempo e a morte, me fez acalmar e me entender melhor, nos entender melhor. Escolher tirar os véus que nos impedem de ver é um ato amoroso e verdadeiro de reencontro com a essência e, por mais difícil que seja, pode ser solar e feliz", celebra Luiza.

'Mergulho' também foi cantado pelas mãos. É todo traduzido para Libras (Língua Brasileira de Sinais). "Há muito tempo quero fazer um disco inteiro acessível à comunidade surda, estou realizando um sonho pois estes pensamentos são sobre a mente do ser humano e quero que isso chegue para todos e que recebam com todo o amor", conta a artista.

Publicidade

"Libras é nossa segunda língua, é assim que a comunidade surda se relaciona, e quero que minhas músicas cheguem pra essas pessoas também. Com a audiodescrição, pessoas cegas ou com baixa visão podem ouvir o que está sendo visto. Depois que entendi isso, faço arte considerando todos os públicos, inclusive os que não podem me ouvir ou me ver. Comecei isso sem ter referências para buscar informação, é um trabalho constante de pesquisa há oito anos e muitos projetos foram realizados junto às pessoas com deficiência", afirma a compositora.

"Sinto que alguns espaços, marcas e mídias não estão contextualizados sobre acessibilidade cultural e confundem com caridade. Até me recomendaram apresentar o projeto para pautas de saúde", diz. "Acredito muito na cura através da arte, me incluo nisso, mas há tempos se entende que deficiência não é doença e que este público é cidadão ativo, pagante, quer ter acesso à teatro, shows, museus, livros, cinema", destaca Luiz Caspary.

"Proponho dialogar sobre esse assunto com artistas, agentes culturais, jornalistas e mantermos a mente aberta, estamos na era da conexão, vamos nos conectar de verdade", afirma a cantora.


 Foto: Estadão


O show de lançamento traz um repertório com canções já conhecidas pelo público, como 'Bem Vindo' (feat. com Jair Oliveira) e, dessa vez, Luiza convida ao palco os artistas Dani Black e Gabriel Von Brixen, coautor da inédita 'Tempo'.

O álbum completo está disponível em todas as plataformas digitais (clique aqui).

Publicidade

"Esse show será um momento muito forte, onde dividiremos com todos um trabalho que vem sendo feito há três anos, pensado em todos os detalhes com muito carinho. Fazer parte da Semana da Acessibilidade Surda está sendo um presente muito perfeito pra entregar tudo isso, vai ser uma tarde linda, inclusiva e de muita união entre todos público e artistas presentes", conta Luiza.

SERVIÇO:Show Luiza Caspary:Data: 21 de setembro (sábado)Horário: 15h30Local: Auditório da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Memorial da Inclusão)Endereço: Avenida Auro Soares de Moura Andrade, nº 564, Barra Funda.Entrada gratuitaRecursos: Audiodescrição, Libras, legendas, elevadores, rampas e banheiros acessíveis, piso tátilCapacidade: 500 lugares



ENTREVISTA - Em outubro do ano passado, Luiza Caspary gravou vídeos exclusivos para o #blogVencerLimites, com a participação de Naiane Olah na tradução para Libras, falando sobre acessibilidade na cultura, os desafios - inclusive financeiros - de incluir recursos nos vídeos e nos shows, além de analisar o cenário cultural voltado às pessoas com deficiência.


Luiz Caspary se apresenta e conta que acaba de lançar seu primeiro single do segundo disco. Ela está acompanhada por Naiane Olah, que faz a tradução para a Língua Brasileira de Sinais (Libras).


#blogVencerLimites - O que muda na sua relação com o público ao incluir acessibilidade nos vídeos e nos shows?

Publicidade

Luiza Caspary - A empatia e essa vontade em fazer com que meu trabalho chegue para todos causa uma aproximação muito grande com as pessoas que me acompanham. Ficamos muito próximos. Respondo a um por um e estou sempre aberta a receber dicas do público com deficiência para melhorar o uso dos recursos. É muito bom contar com eles, acabo chamando para trabalhar comigo. O público sem deficiência se sensibiliza e, olhando pra isso, lembra que essa parte da população existe e merece atenção.


#blogVencerLimites - O que perdem os artistas que não incluem acessibilidade em seus trabalhos?

Luiza Caspary - A principal função da arte é transmitir sensações, ideias e sentimentos. Não ter acessibilidade para compartilhar tudo isso é deixar de se comunicar com milhares de pessoas. E limitar o acesso ao seu trabalho. Todos perdem deixando de olhar para isso.


#blogVencerLimites - Cantar e fazer os sinais de Libras é uma proposta inovadora, mas que exige de você uma concentração muito maior. Como foi esse processo? Quais os desafios dessa dupla interpretação? Você faz isso nos shows?

Luiza Caspary - Sim, foi bem difícil cantar e me expressar em Libras simultaneamente, afinal são duas línguas, então precisei de muito treino, concentração e entrega.

Publicidade

Não sou fluente em Libras. Contei com duas intérpretes para fazer as traduções: Angela Russo e Naiane Olah. E também com duas consultoras surdas, que acompanharam as gravações: Maria Rita de Oliveira e Renta Lé.

Essa é a única música em que eu faço isso, as próximas serão com a Naiane interpretando Libras enquanto eu canto, mas nessa música 'Sinais' eu quis me colocar à prova. E foi um desafio que cumpri muito feliz.

É possível que eu interprete no show dessa forma sim, mas não o show inteiro, porque gosto muito de me movimentar no palco e, vez ou outra, toco violão ou outros instrumentos, o que ocupa minhas mãos.


#blogVencerLimites - Na sua avaliação, a promoção da acessibilidade deve ser uma iniciativa específica do artista?

Luiza Caspary - Boa pergunta. Eu sempre investi do próprio bolso para ter acessibilidade no meu trabalho, desde o show até os materiais que produzo para internet. E, como artista independente, não vou negar que é um custo alto.

Publicidade

Se houvesse uma conscientização de todos sobre a importância disso, seria muito mais fácil, mas acredito que sim, deve partir do artista a idéia.

Já ouvi relatos de festivais que ofereceram intérprete de Libras para todos os artistas. E um desses artistas se sentiu incomodado com a presença da intérprete no palco e pediu que ela saísse. Uma falta total de noção da importância e da função daquela intérprete.


#blogVencerLimites - Qual a sua avaliação sobre a acessibilidade e a inclusão, de maneira geral, na cultura e no entretenimento?

Luiza Caspary - A grande questão é que a acessibilidade raramente é pensada junto com a criação e desenvolvimento de um projeto. É pensada de forma secundária, depois que tudo está pronto e, dessa forma, fica fria e apenas cumprindo um papel de lei.

A acessibilidade tem que, primeiramente, ser entendida como algo fundamental, como parte do acesso à cultura e à arte para todos. A iniciativa deve ser humana, antes de qualquer coisa.

Publicidade

De qualquer forma, o número de espetáculos e produções audiovisuais com acessibilidade não para de crescer. Eu - junto com minha mãe, Marcia Caspary - tenho uma empresa que desenvolve acessibilidade para outros artistas. E estamos com muitos projetos em andamento.



Mande mensagem, crítica ou sugestão para blogVencerLimites@gmail.com

Acompanhe o #blogVencerLimites nas redes sociais

YouTube


Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.