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Diversidade e Inclusão

Inclusão no meio do mundo

Kérsia Ferreira é socióloga e criou um instituto em Macapá para apoiar pessoas com deficiência. Também apresenta um programa de rádio para todo o País, com entrevistas, reportagens e análises. O estúdio foi montado com doações e as despesas são divididas entre os integrantes do projeto criado em 2017. O grupo tentar reunir recursos para organizar cursos e palestras. A meta é unir as pessoas com e sem deficiência para ampliar a inclusão.

Foto do author Luiz Alexandre Souza Ventura
Por Luiz Alexandre Souza Ventura
Atualização:


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"Até pouco tempo atrás, era impensável que uma pessoa com deficiência pudesse produzir conteúdo sozinha e levar informações para outras pessoas", diz a socióloga Kérsia Celimary Silvestre Ferreira, de 34 anos, cofundadora do Instituto Inclusão no Meio do Mundo (IIMM), em Macapá (AP), e apresentadora da Rádio Inclusão no Meio do Mundo.

O programa sobre o universo das pessoas com deficiência é transmitido ao vivo do estúdio montado na sede do IIMM, em um apartamento, com equipamentos doados. Para acompanhar a transmissão - sempre aos sábados, das 8h às 12h -, acesse a página do instituto no Facebook ou instale o aplicativo para dispositivos móveis com Android.

Kérsia nasceu em Natal (RN), prematura, com um irmão gêmeo que faleceu horas depois. Ficou cega nos primeiros dias de vida porque foi mantida na incubadora, com exposição excessiva a cargas de oxigênio, sem proteção nos olhos.

"Quando eu tinha 19 anos, conheci uma senhora que ficou muito emocionada ao me ver porque, disse ela, eu tinha o mesmo olhar de sua filha, que também havia ficado cega por causa da falta de proteção na incubadora. É uma situação que se repete", alerta a socióloga.

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Em 1993, os pais de Kérsia decidiram investir em um comércio na cidade de Macapá, que prosperava na época, e o pequeno negócio evoluiu, garantindo sustento e educação para ela e suas duas irmãs.

Macapá é referência nacional no ensino para crianças com deficiência, especialmente para cegas e surdas, por causa do trabalho desenvolvido na Escola Estadual José de Anchieta. Foi também por esse motivo que a família decidiu começar uma nova vida na capital do Amapá.

Formada em sociologia desde 2013 pela Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), Kérsia Ferreira é funcionária pública estadual e tem uma filha de 7 anos, Amanda. Em entrevista ao #blogVencerLimites, ela fala sobre os objetivos do Instituto Inclusão no Meio do Mundo, conta detalhes de sua educação desde a infância até a faculdade, analisa a situação atual das pessoas com deficiência no Brasil, avalia a evolução dos recursos de acessibilidade e comenta de que maneira o esforço coletivo, as experiências de vida e a tecnologia têm papel fundamental em seu trabalho.


Descrição da imagem #pracegover: Kérsia Ferreira e os outros quatro integrantes do Instituto Inclusão no Meio do Mundo estão juntos no estúdio da Rádio Inclusão no Meio do Mundo. Crédito: Arquivo Pessoal / Kérsia Ferreira.  Foto: Estadão


#blogVencerLimites - Quando e como surgiu o Instituto Inclusão no Meio do Mundo? Qual é a proposta desse trabalho?

Kérsia Ferreira - O instituto nasceu em 11 de Abril de 2017, a partir da criação de um grupo no Whatsapp para ensinar pessoas com deficiência a utilizar novas tecnologias, como leitores de telas para celulares e computadores, e também para unir as pessoas, com e sem deficiência, e trocar informações.

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O nome 'Inclusão no Meio do Mundo' faz referência à linha do Equador, um privilegiado ponto turístico na cidade de Macapá (Amapá). Veio para proporcionar interação, organizar palestras e cursos. Estamos trabalhando para conseguir uma estrutura mais ampla, em um prédio maior.

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#blogVencerLimites - Fale sobre a rádio web. Quando começou? Quem faz parte desse projeto? Onde é feito? Tem patrocinadores? Quais são os temas abordados?

Kérsia Ferreira - A web rádio Inclusão no Meio do Mundo foi o primeiro projeto do instituto que pudemos colocar em prática, inaugurada em 17 de Junho de 2017. Foi possível por meio da doação dos equipamentos para montar o estúdio, sempre muito elogiado por nossos visitantes.

A rádio funciona em um apartamento, que também é a sede provisória do instituto. Além de mim, que sou presidente do IIMM e apresentadora do programa, participam Carlos Manulo da Silva Costa, diretor-geral da web rádio e também apresentador.

É voltado às pessoas com deficiência. Vai ao ar todos os sábados, de 8h às 12h, com entrevistas, que ficam disponíveis nas redes sociais. A rádio tem outros programas, locais e transmitidos em rede, de diversos estilos.

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Temos poucos patrocinadores. Os profissionais que fazem parte da web rádio ajudam na manutenção do projeto.

#blogVencerLimites - Qual é a sua avaliação sobre a forma como o universo da pessoa com deficiência é apresentado pela imprensa? O que é bom e o que precisa mudar?

Kérsia Ferreira - A imprensa tem um grande papel na forma como a sociedade enxerga a pessoa com deficiência. As próprias pessoas com deficiência estão divulgando seus conteúdos nas redes sociais, de maneira independente, buscando seu espaço, muitas vezes, sem depender da imprensa. Isso é bom porque amplia a presença de blogs, revistas eletrônicas e sites que procuram esse público, não apenas para divulgar essas pessoas estão fazendo, mas valorizando as pessoas com deficiência.

Tem muito conteúdo sobre como lidar com a pessoa que tem deficiência, informações sobre inclusão no trabalho, sobre tecnologia. Até pouco tempo, era impensável que uma pessoa com deficiência fizesse isso.


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https://www.facebook.com/acessibilidadenomeiodomundo/photos/a.1546396578996712/1823767861259581/


#blogVencerLimites - Qual é a sua avaliação sobre a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho? Há realmente essa inclusão? Você já se sentiu discriminada?

Kérsia Ferreira - Infelizmente, ainda não há essa inclusão em muitos setores. Tem pessoas com deficiência incluídas no mercado de trabalho, mas a maioria fica fora porque as empresas não têm estrutura para esse empregado ou o funcionário não conseguiu se qualificar para o trabalho. Muitas tecnologias ajudam as pessoas com deficiência. Basta querer incluir.

Já me senti discriminada, e me sinto assim até hoje, quando se trata do mercado de trabalho voltado às pessoas com deficiência.

#blogVencerLimites - Conte como foi sua trajetória profissional e acadêmica, seu acesso à escola, à faculdade e para trabalhar?

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Kérsia Ferreira - Meu ensino foi evoluindo de acordo com o desenvolvimento da tecnologia. Durante o ensino fundamental, utilizei a escrita em braile, com a tradicional prancheta, reglete e o punção.

No ensino médio, passei a utilizar a máquina Perquins, para escrever em braile. Essa tecnologia torna a escrita bem mais rápida.

No ensino superior, passei a utilizar o computador e a escrita em braile, mas pouco, porque precisava de mais agilidade com volume de trabalhos exigidos. Eu fazia as provas no computador e o professor levava as respostas para casa num pendrive. Isso facilitava para ambos.

É triste saber que o número de acadêmicos com deficiência é tão pequeno. Na minha turma, eu era a única. E isso não mudou. No mesmo curso de sociologia que eu fiz, faz tempo que não tem outros estudantes com deficiência. Em uma universidade onde estão tantos alunos, é raro encontrar alguma pessoa com deficiência até hoje.

Me formei em 2013 e exerço minha profissão no IIMM. Além disso, sou funcionária pública do Estado do Amapá, na função de telefonista.

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#blogVencerLimites - Como você avalia os recursos atuais de acessibilidade para pessoas com deficiência visual? O que você usa? O que poderia ajudar, mas ainda não existe?

Kérsia Ferreira - Os recursos de hoje são excelentes, mas nem todas as pessoas com deficiência têm, seja porque são caros ou por outro motivo. Eu utilizo leitores de telas, no computador e no smartphone.

A tecnologia sempre pode melhorar, inclusive nos eletrodomésticos, com a simples inclusão de um leitor de tela ou um sintetizador de áudio, mas isso é raramente encontrado no Brasil.


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