"A musicalidade faz parte do ser humano, que está constantemente exposto aos sons do meio-ambiente, do andamento da vida e das estações do ano", afirma a pesquisadora e professora Nadir Haguiara-Cervellini, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). "Pode parecer contraditório dizer que uma pessoa surda ou com deficiência auditiva severa também é um ser musical, mas a apreciação de ritmos e melodias, inerente e necessária a todo o ser-humano, sem exceção, independe da audição".
Pessoas que não tem a capacidade de escutar podem sentir a música por meio de vibrações. "Elas sentem os batimentos cardíacos, o ritmo ao andar, percebem harmonia e melodia por meio do corpo". Por isso, a pesquisadora defende que essa parcela da população não seja privada da apreciação e da produção musical. "Temos que fazer um movimento para alertar as pessoas a respeito disso. Acreditar que a atividade musical não é conciliável aos surdos é um problema exclusivo dos ouvintes".
Nadir Cervellini cita o exemplo de Ludwig van Beethoven, que perdeu a audição ao longo dos anos, mas continuou compondo com uso da memória musical e também de adaptações em seu piano, como a retirada das pernas do instrumento para que, sentado no chão, pudesse sentir as vibrações e reconhecer as notas musicais.
A professora destaca que as tecnologias atuais amplificam de muitas formas as vibrações do som em partes do corpo, inclusive nos pés e no abdômen. No Brasil, ela ressalta o crescimento do acesso à música pela população surda a partir de 2002, quando a Língua Brasileira de Sinais (Libras) foi reconhecida como meio legal de comunicação e expressão.
Para a tradutora e intérprete de Libras Rebeca Nemer, a interpretação de uma música na Língua de Sinais coloca pessoas surdas ficam em igualdade no acesso à informação e ao conteúdo. O trabalho da especialista pode ser conferido no longa-metragem 'Cine Gibi - Turma da Mônica', primeiro DVD com a inclusão de Libras no Brasil.
Rebeca Nemer é casada com o cantor gospel Paulo César Baruk e participa do DVD do 'Piano e Voz, Amigos e Pertences 2'. "Há 20 anos, não era comum oferecer acessibilidade a integrantes surdos de comunidades religiosas, mas agora queremos ampliar essa possibilidade para todos os tipos de deficiências".
Nesta terça-feira, 26, celebramos o 'Dia Nacional do Surdo', criado para lembrar a fundação primeira Escola de Surdos no Brasil na cidade de Rio de Janeiro, em 26 de setembro de 1857. Na época, o Imperador Dom Pedro II convidou o professor surdo E. Huet, da França, para vir ao Brasil lecionar para crianças surdas. A data foi oficializada por meio da Lei nº 11.796, de 29 de outubro de 2008.
De acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, o Brasil tem 45,6 milhões de pessoas com deficiência. Desse total, 2.147.366 milhões têm deficiência auditiva severa. Pesquisas apontam que o número deve crescer com o aumento da população idosa no País, e também pela demora na identificação de problemas auditivos reversíveis quando constatados até 6 meses de idade.
Mande mensagem, crítica ou sugestão para blogVencerLimites@gmail.com
Acompanhe o #blogVencerLimites nas redes sociais
Facebook - Twitter - Instagram - LinkedIn - Google+ - YouTube