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Diversidade e Inclusão

"Não existe hierarquia racial no reino de Deus"

Esau McCaulley, teólogo americano, autor de 'Uma leitura negra', que chega ao Brasil pela editora Mundo Cristão, propõe uma interpretação da Bíblia com valorização das igrejas negras tradicionais.

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Foto do author Luiz Alexandre Souza Ventura
Por Luiz Alexandre Souza Ventura
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"Não existe hierarquia racial no reino de Deus. O Novo Testamento termina com uma visão de pessoas de todas as tribos, línguas e nações reunidas para adorar Jesus. Nossa história termina com um reino multiétnico de Deus. Ler a Bíblia corretamente é ter essa visão no centro de nossa imaginação teológica", diz Esau McCaulley, escritor e teólogo americano, autor de 'Uma leitura negra: Interpretação bíblica como exercício de esperança' (Reading While Black: African American Biblical Interpretation as an Exercise in Hope), sucesso nos Estados Unidos, que causou grande impacto na igreja evangélica norte-americana. O livro chega ao Brasil pela editora Mundo Cristão (impresso, ebook e audiobook).

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O elemento central da obra é o resgate da esperança para quem sofre as consequências do racismo, propondo a prática da leitura da Bíblia a partir da interpretação eclesiástica negra.

"A narrativa da Bíblia ganha força quando Deus chamou Abraão para ser o pai de muitas nações e para abençoar todos os povos do mundo. A própria natureza da vocação de Abraão é antirracista. Para o cristão, a visão de Deus de abençoar todas as pessoas do mundo culmina na vinda do Filho de Deus, Jesus, que morre pelos pecados de todas as pessoas (não apenas negras, brancas, asiáticas, brasileiras ou latinas). Todas as pessoas que confiam nele são membros iguais da família de Deus", afirma o autor, que é mestre em Teologia pelo Gordon Conwell Theological Seminary e doutor em Novo Testamento pela University of St. Andrews.

McCaulley ressalta que saber se a Bíblia é racista é uma questão séria para os cristãos negros. Ele comenta que, em partes da América do Norte, América do Sul, África, Caribe e Ásia, negros e pardos viram nos textos bíblicos um Deus que os ama e luta pelos oprimidos.

"A igreja não tem sido perfeita e tem participado de um mal real e genuíno, mas eu diria que aqueles que reivindicaram o nome de cristãos e fizeram essas coisas foram maus leitores e intérpretes das escrituras que distorceram a mensagem do cristianismo", avalia o teólogo e professor assistente de Novo Testamento no Wheaton College, em Illinois.

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O autor reforça que a Bíblia é uma fonte de esperança para muitos negros oprimidos, para o que ele chama de libertação e transformação espiritual.


Livro chega ao Brasil pela editora Mundo Cristão (impresso, ebook e audiobook). Foto: Divulgação.


E no Brasil? - Esau McCaulley diz não poder analisar as conversas teológicas em nosso País porque não está aqui, mas afirma que a influência do racismo não está relacionada aos números. De acordo com dados do IBGE, 54% da população brasileira é negra.

"O racismo é mantido pelo poder e pelo dinheiro. Então eu faria a pergunta: Quem tem o dinheiro no Brasil? Quem controla a mídia? Quem controla as publicações? A maioria numérica pode não ter acesso a alavancas de poder e influência que podem incluir a vida na igreja", observa McCaulley.

"Martin Luther King disse que nós, afro-americanos, temos que entrar em nossas próprias almas e escrever nossa própria proclamação de emancipação. Eu entendo que isso significa que temos que reconhecer que Deus nos fez à sua própria imagem e que ele pode usar negros e pardos para sua glória. Isso inclui fazer importantes reflexões teológicas sobre o que as escrituras e a grande tradição do cristianismo têm a dizer sobre a vida que somos chamados a viver diante de Deus", defende Esau McCaulley, que é colunista do The New York Times e participa do 'The Disrupters Podcast - Faith Changing Culture'.

FICHA TÉCNICALivro: Uma leitura negraAmazon e Mundo CristãoAutor: Esau McCaulleyEditora: Mundo CristãoISBN: 978-65-5988-009-6Páginas: 192Formato: 16x23Preço: R$ 59,90

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