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Diversidade e Inclusão

"Nascimento prematuro é uma das principais causas de deficiências"

"Cada dia dentro do útero da mãe é importante para o desenvolvimento do bebê", alerta a diretora da ONG Prematuridade.com. Crianças que nascem antes do período recomendado de gestação podem ter paralisia cerebral ou alguma deficiência cognitiva, malformação congênita, deficiências auditivas e visuais, disfunções respiratórias, deficiências de crescimento e até distúrbios de comportamento. Novembro é o mês de luta e conscientização mundial sobre os riscos do parto prematuro.

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Foto do author Luiz Alexandre Souza Ventura
Por Luiz Alexandre Souza Ventura
Atualização:

IMAGEM 02: "Cada dia dentro do útero da mãe é importante para o desenvolvimento do bebê", alerta a diretora da ONG Prematuridade.com. Descrição #pracegover: Mulher segura bebê no Método Canguru. Crédito: Reprodução.  


Isabela veio ao mundo há três anos, às pressas, na 26ª semana de gestação. Tinha uma irmã gêmea, que não sobreviveu ao parto prematuro provocado pelo excesso de líquido amniótico na barriga da mãe, Marcia Marquezan, hoje voluntária na ONG Prematuridade.com.

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Quando nasceu, Isabela pesava 640 gramas, teve hemorragia cerebral e passou os primeiros 30 dias de vida ligada ao aparelho de respiração. A certeza de que sobreviveria veio somente no 115º dia. Perto de completar seu quarto aniversário, a menina convive com deficiências físicas, visuais e intelectuais, além de dificuldades para falar e até para engolir alimentos.

Nickollas Grecco, hoje com 11 anos, é cego. Sua deficiência foi provocada pela interrupção da gestação no quinto mês, o que impediu a formação de suas retinas. O menino pesava 500 gramas. Nickollas passou a ser reconhecido depois que ele e a mãe foram filmados em um estádio de futebol. Ela fazia a audiodescrição do jogo para o filho.

O nascimento prematuro é uma das principais causas de deficiências, segundo a Associação Brasileira da Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros (Prematuridade.com). As funções visuais são as mais atingidas, alerta a ONG, por causa da imaturidade do sistema nervoso central.

Existem, no entanto, barreiras que impedem a conscientização sobre a prematuridade. "O principal obstáculo é a desinformação das famílias", afirma Denise Suguitani, fundadora e diretora executiva Prematuridade.com. "Esse problema atinge todas as camadas da sociedade. Há um desconhecimento sobre as possíveis consequências do parto prematuro", diz. "Até mesmo poucas semanas de prematuridade podem causar danos à saúde dos bebês que irão impactar toda a família, muitas vezes de maneira irreversível", destaca.

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A diretora ressalta que, nas camadas menos favorecidas, há falta de conhecimento sobre a importância do pré-natal. "O acompanhamento da gestação é decisivo para que se possa evitar situações de risco para parto prematuro", lembra Denise. "Também existe o tabu de que 'não tem problema se nascer um pouco antes', o que não é verdade. Cada semana, cada dia dentro do útero da mãe é importante para o desenvolvimento do bebê", defende a especialista.

"Nas classes mais favorecidas existe o tabu de que cesárea é mais segura do que o parto normal ou de que não há vantagens no parto natural. Não é verdade", comenta. "O parto natural é muito mais fisiológico e vantajoso para o binômio mãe/bebê. A cesárea é uma cirurgia de grande porte. Há riscos, muitas vezes, desnecessários. Somos o país campeão em cesáreas eletivas. Grande parte não tem justificativa médica, é apenas por conveniência ou escolha", diz Denise.



Uma das proposta da ONG é ampliar o acesso à informação sobre a taxa de nascimentos prematuros, algo que vem aumentando nos últimos 20 anos. "Há progressiva utilização de tecnologias de reprodução assistida, que tem como consequência o aumento das taxas de gestações múltiplas", comenta a fundadora da Prematuridade.com.

"Mesmo assim, a taxa de mortalidade infantil registrou queda acentuada. E o percentual de sobrevivência de bebês com MBPN (Muito Baixo Peso ao Nascer) aumentou drasticamente desde a implementação de cuidados neonatais intensivos, no início da década de 1970", afirma Denise Suguitani.

A diretora diz que alternativas à reprodução assistida podem ser sugeridas a mulheres com dificuldades para engravidar, mas isso vai depender de cada caso. "Temos que avaliar os motivos pelos quais a mulher não consegue engravidar. A partir disso, junto com a equipe médica, definir qual o melhor tratamento. Em muitos casos, a única alternativa é a reprodução assistida. Em outros, muitas vezes, tratamentos hormonais", diz.

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FORTALECER - Dentro dos seus pilares de atuação - sensibilização, educação e advocacy - a Prematuridade.com promove ações para tentar reduzir as taxas de nascimentos prematuro no Brasil. Entre as quais estão projetos de educação permanente e a capacitação de equipes de saúde materno-infantis em instituições públicas de saúde nas cinco regiões do Brasil.

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A ONG mantém um trabalho de sensibilização em instituições de ensino públicas e privadas nas disciplinas de saúde, além de organizar workshops, palestras e rodas de conversa em grandes empresas do setor provado. "Mantemos diálogo direto com as famílias em 12 estados, por meio dos nossos representantes e voluntários, pelas redes sociais e pelo site da associação", comenta Denise.

Um dos trabalhos de fortalecimento dessa rede de informações está ligado à Rede Mundial de Prematuridade, com a qual a ONG promove eventos. O mês de novembro tem uma agenda global, com mobilização da sociedade em geral. São atividades que integram as ações da Global Illumination Initiative, com caminhadas, encontros de pais, piqueniques, seminários e mais.

Um dos eventos do Novembro Roxo está marcado para este domingo, 11, com uma caminhada no Rio de Janeiro, Porto Alegre, Florianópolis, Santos e Recife. São Paulo recebe o mesmo evento no dia 25, com encontro na frente do MASP, na Avenida Paulista.


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"Existem inúmeras políticas públicas voltadas ao bem-estar e à qualidade de vida das pessoas com deficiência. Muitas não são postas em prática", diz Denise. "Quando se fala em políticas públicas voltadas às consequências da prematuridade, há muito para ser feito. As creches e escolas não estão preparadas para acolher crianças com déficits cognitivos, visuais, auditivos, motores, crianças com TDAH", afirma a diretora.

"Deveria haver também ambulatórios de sequência do cuidado para cada UTI neonatal poder acompanhar seus prematuros até, no mínimo, dois anos de idade. As famílias, os pais de prematuros, deveriam receber acompanhamento psicológico durante a internação do bebe e no pós-alta. Deveriam ter acesso à UTI 24h, respeitando os artigos do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), o que não acontece. Em muitos locais, onde são tratados como visitantes", completa a fundadora da Prematuridade.com.

SAIBA MAIS - Dois projetos de lei estão em trâmite no Congresso Nacional. PLS nº 742/2015, que estabelece diretrizes gerais sobre a política de atenção à prematuridade, e a PEC nº 181/2015, que estende a licença maternidade para até 240 dias em caso de nascimento prematuro.

DADOS - Bebês nascidos com peso inferior ou igual a 2.500 gramas ou idade gestacional inferior a 37 semanas completas são considerados imaturos ou prematuros. O risco é maior para bebês nascidos com 32 semanas ou menos (em alguns casos, a partir de 23 semanas de gestação), e com peso inferior a 1.500 gramas (em alguns casos, de 400 ou 500 gramas).

As taxas de sobrevivência de prematuros de 22 semanas ficam entre 2% e 15%. Poucos bebês nascidos tão prematuros conseguem sobreviver. Por isso, não há muita informação sobre possíveis sequelas para a saúde nesse grupo de bebês.

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Bebês nascidos de 23 semanas têm taxa de sobrevivência entre 15% e 40%. Com 25 semanas, 55% a 70%.

Entre 20 a 35% dos sobreviventes terão deficiências graves, como paralisia cerebral, deficiência intelectual grave, cegueira, surdez ou multiplas deficiências, o que exigirá cuidados médicos significativos.

Entre 25 a 40% poderão ter deficiências leves a moderadas, deficiência visual, paralisia cerebral leve que afeta o controle motor, asma crônica, dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

Prematuros de 26 a 28 semanas tem taxas de sobrevivência de 75% a 85%. De 10 a 25% desses bebês terão deficiência graves, 50 a 60% terão dificuldades leves, 25 a 40% terão deficiências leves a moderadas.

Entre 90% e 95% dos bebês nascidos com idade gestacional entre 29 e 32 semanas sobrevivem. Porém, de 10% a 15% deles correm risco de ter deficiências graves, 15% a 20% terão dificuldades leve a moderados.

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A taxa de sobrevivência de bebes que nascem com 33 a 36 semanas de gestação é maior que 95%. O risco para deficiências graves é praticamente o mesmo das crianças nascidas a termo (com 40 semanas de gestação). No entanto, esses bebês estão sob maior risco de paralisia cerebral leve, atraso no desenvolvimento e problemas relacionados ao período escolar.


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