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Diversidade e Inclusão

Ninguém resolve o problema da falta de remédios no SUS

Flagra do #blogVencerLimites em unidade paulista, que não tinha nenhuma caixa de medicamentos para doenças respiratórias crônicas, comprova problema grave na distribuição. Rede pública não consegue manter entrega regular de remédios de uso contínuo e coloca a vida de milhares de cidadãos em risco. Secretaria de Saúde de SP afirma ter planejamento para garantir abastecimento, mas destaca que precisa lidar com atrasos de fornecedores, escassez de matéria-prima e problemas logísticos.

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Por Luiz Alexandre Souza Ventura
Atualização:


A jornalista Lucia Damico vai todo mês, com data marcada, ao Ambulatório de Especialidades Médicas (AME) em Santos, no litoral sul de SP, pegar dois remédios para sua mãe, a aposentada Maria de Lourdes Damico, de 73 anos. Acometida por uma Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, ou DPOC, a idosa precisa de doses diárias de Alenia (Fumarato de Formoterol) e Spiriva (Brometo de Tiotrópio).

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Na última sexta-feira, 23/11, no entanto, Lucia voltou de mãos vazias, assim como todas as pessoas que estiveram na unidade em busca dos mesmos remédios. Não havia nenhuma caixa nas prateleiras. O #blogVencerLimites flagrou o problema e confirmou a informação com funcionários do ambulatório.

"Pediram para ligar durante a semana para saber quando poderia buscar", diz a jornalista, que tentou fazer contato na manhã desta terça-feira, 27/11. Não conseguiu porque e o telefone estava sempre ocupado. "Ainda temos estoque em casa, mas está acabando", comenta Lucia.

RESPOSTA - A Secretaria de Estado da Saúde de SP enviou nota ao #blogVencerLimites para explicar a situação. "A Coordenadoria de Assistência Farmacêutica informa que os medicamentos Alenia e Spiriva estão em processo de aquisição e foi solicitada aos fornecedores celeridade na entrega. Os pacientes do AME de Santos que usam do medicamento serão comunicados tão logo haja disponibilidade dos itens", diz a pasta.

De acordo com a secretaria, SUS (Sistema Único de Saúde) distribui mais de 1.000 tipos de medicamentos em diferentes apresentações no Estado de São Paulo. "Para atender os pacientes cadastrados no programa de Medicamentos Especializados (Alto Custo) em todo o Estado, a pasta estadual realiza planejamento periódico dos estoques, com base no consumo e mais uma margem de segurança para garantir que a unidade tenha estoque até que seja abastecida pela próxima compra", ressalta a secretaria.

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"Alguns fatores, alheios ao planejamento da pasta, podem ocasionar desabastecimentos temporários, como aumento inesperado de demanda (acima da margem de segurança prevista), atraso por parte do fornecedor, escassez de matéria-prima e problemas logísticos, entre outros", completa a nota.

NINGUÉM RESOLVE - Os constantes problemas na distribuição de medicamentos pelo SUS colocam a vida de milhares de cidadãos e risco. Por que há tanta falha nessa distribuição? Ministério da Saúde e as secretarias estaduais devem essa resposta à população.

O que é feito com o dinheiro que deveria ser usado para garantir tratamento a todos que procuram a rede pública? Cada dia sem usar medicamentos essenciais é um passo em direção ao agravamento da doença e, em muitos casos, à morte.

A situação se repete em centenas de cidades e atinge uma quantidade incontável de pessoas que convivem com diversas deficiências causadas por doenças que não têm cura, mas podem ser tratadas e controladas. Um desrespeito ao cidadão, alvo de terrorismo sistemático da Saúde pública. É inadmissível que esse cenário continue persistindo enquanto vemos tantas promessas de mudanças, mas nada de fato é resolvido.



Essa é a realidade enfrentada também por milhares de pessoas que convivem com a Esclerose Múltipla e precisam fazer uso constante de diversos medicamentos para evitar a progressão da doença e impedir o avanços de sequelas que podem se tornar permanentes. E nem mesmo uma ordem da Justiça Federal é suficiente para que a Saúde cumpra seu papel.

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Uma liminar proferida pela Justiça Federal, a pedido do Ministério Público Federal (MPF), determinou que o Ministério da Saúde deveria comprovar, até o dia 8 de novembro, o envio integral a SP de lotes de seis remédios utilizados no tratamento da Esclerose Múltipla. Essa remessa estava atrasada e deveria ter sido mandada até 20 de setembro, para ser distribuída no último trimestre deste ano.

O Ministério da Saúde já havia sido alvo de ordem judicial semelhante em julho, após o MPF protocolar uma ação civil pública para a regularização do envio dos lotes correspondentes ao segundo e ao terceiro trimestre deste ano.

Mesmo obrigado a resolver as pendências até 17 de agosto, o governo federal só fez isso uma semana depois do prazo, e de maneira parcial. Sendo assim, mais de 33 mil comprimidos de Fingolimode, medicamento prescrito em casos graves da doença, deixaram de ser entregues na época, apesar da determinação da Justiça.


MPF vai à Justiça para governo federal regularizar entrega de remédios pelo SUS


A Saúde paulista é uma das que sofrem constantes atrasos na entrega de medicamentos para EM pelo governo federal, conforme um estudo da associação Amigos Múltiplos pela Esclerose (AME) publicado em seu Observatório da EM.

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RESPOSTA - Em nota enviada por email ao #blogVencerLimites, o Ministério da Saúde afirma ter enviado os medicamentos Fingolimode, Glatirâmer e Natalizumabe a SP, mas não apresentou qualquer documento que confirme a informação.

"A pasta realizou a entrega de 49.208 cápsulas de Fingolimode e 44.044 seringas preenchidas de Glatirâmer, no dia 26 de setembro; e 1.732 frascos-ampolas de Natalizumabe, no dia 15 de outubro. Os quantitativos dos três medicamentos são para atender em 100% o 4º trimestre de 2018 no estado. Já o medicamento Betainterferona foi recebido pelo Estado nos dias 4, 6 e 17 de outubro", diz a pasta, que não apresenta a quantidade enviada.

"No próximo mês de dezembro já está prevista a entrega de quantitativo dos quatro medicamentos para o 1º trimestre de 2019 no estado de São Paulo", completa o Ministério da Saúde.


Cadê o remédio?

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NÚMEROS NÃO BATEM - Também em email enviado ao #blogVencerLimites, a secretaria da Saúde de SP afirma que o órgão federal entregou quantidades parciais e insuficientes.

"Para atender o trimestre foram solicitados, no total, 163.705 comprimidos dos sete tipos de medicamentos - Betainterferona 1A nas apresentações 22mcg, 30mcg e 44mcg; Betainterferona 1B 300mcg; Fingolimode 0,5mg; Golimumabe 50mg; e Natalizumabe 300mg", detalha o governo paulista. "O Ministério da Saúde aprovou quantitativos inferiores ao pedido - entre 35% e 99% do solicitado. Somente o Natalizumabe 300mg teve 100% do solicitado aprovado", confirma SP.

A secretaria de Saúde ressalta ainda que, embora a portaria federal estipulasse que a entrega total deveria ocorrer até 20 de setembro, o Ministério da Saúde ainda não efetuou o envio completo de dois remédios.

"Com relação ao Fingolimode, por exemplo, que está entre os três com maior demanda, foi entregue cerca de 45% do total solicitado, que equivale a 72% da quantidade aprovada pelo próprio MS", diz a pasta estadual.

FAZENDO AS CONTAS - Com base nas informações apresentadas pelo Ministério da Saúde e pela secretaria de Saúde de SP, o blog fez os cálculos para saber o tamanho do buraco não coberto.

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A nota da pasta federal informa o envio de 94.984 unidades dos medicamentos solicitados, mas o governo paulista solicitou 163.705 comprimidos dos sete tipos de medicamentos. Desta forma, o Ministério da Saúde deixou de entregar 68.721 unidades, aproximadamente 42% do total pedido.


Ministério culpa secretarias por atraso na distribuição de remédios


NADA RESOLVE O PROBLEMA - "É inadmissível que tenhamos de acionar, enquanto sociedade civil, tantas repartições, como o Ministério Público Federal, a Procuradoria Geral da União e as secretarias de Saúde, para que o Ministério da Saúde simplesmente cumpra o que está previsto no protocolo clínico", desabafa o superintendente da associação Amigos Múltiplos pela Esclerose (AME), Gustavo San Martin.

"O Estado de SP concentra quase 40% dos pacientes de Esclerose Múltipla em tratamento no Brasil", diz San Martin. "Se a única coisa que eu posso fazer contra uma doença crônica é me tratar, mas eu não tenho esse tratamento disponível, imagine o impacto emocional, social e no meu desempenho no trabalho com a falta desse medicamento", destaca o superintendente.


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