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Diversidade e Inclusão

O teatro sensorial e inclusivo de Thereza Piffer

Criadora do Grupo Sensus, atriz e diretora coloca pessoas com e sem deficiência em posições equivalentes, com olhos vendados, sentadas em cadeiras de rodas e guiadas por intérpretes de Libras Tátil. Com sólida carreira nos palcos e na TV, em novelas e seriados de sucesso, como 'A Grande Família' e 'Senhora do Destino', ganhou dois prêmios por sua atuação na peça 'A Partilha', de Miguel Falabella, na montagem com Arlete Salles, Suzana Vieira e Natália do Vale. Artista está de viagem marcada para o México, onde vai ministrar oficina sobre o método que desenvolveu e montar um espetáculo com atores mexicanos.

Foto do author Luiz Alexandre Souza Ventura
Por Luiz Alexandre Souza Ventura
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"Se aprendemos a alcançar o respeito entre os vários aspectos de nós mesmos, acredito que isso é potencializado na interação com as pessoas do mundo externo", diz Thereza Piffer, de 54 anos, atriz e diretora de teatro que criou há 15 anos o Grupo Sensus, companhia que constrói espetáculos para estimular os sentidos do público com literatura poética.

As montagens do Sensus colocam pessoas com e sem deficiência em equivalência, o público tem os olhos vendados, fica sentado em cadeiras de rodas, é guiado por intérpretes de Libras Tátil e todos os espetáculos são acessíveis para pessoas com deficiências visuais, físicas e auditivas.

Thereza é uma mulher com deficiência, usuária de cadeira de rodas, e criou o Sensus depois de uma longa carreira teatral, que começou quando ela tinha 15 anos. "Fiz ballet clássico desde os 4 anos porque crianças diabéticas (tipo 1) precisam fazer exercícios. Um jovem ator chamado Miguel Falabella ministrava aulas de teatro no Colégio Andrews, no Rio de Janeiro. Precisavam de uma bailarina na peça", conta.

"Aos 22 anos, não mais bailarina, depois de atuar em vários espetáculos e ganhar alguns prêmios, dividi a cena com Arlete Salles, Suzana Vieira e Natália do Vale, em 'A Partilha', escrita e dirigida pelo Falabella. Com esse espetáculo, conquistei dois prêmios como atriz, conheci todos os grandes teatros do Brasil, em várias excursões nacionais, além das longas temporadas entre Rio de Janeiro e São Paulo. Uma universidade mais do que completa", comenta Thereza.

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A artista partiu então para o teatro underground de Mario Bortolotto, mergulhou no teatro contemporâneo com a Cia. Dos Atores, fez teatro comercial, palco italiano, arena e encenou para plateias de 50 a 5 mil pessoas.

Em 2005, morando em São Paulo, com 39 anos, Thereza Piffer percebeu que precisava de algo mais, "que falasse à alma", foi quando ela o Grupo Sensus de Teatro Sensorial. "Inicialmente, vendei os olhos das pessoas por ser uma atividade que não tinha recursos para cenografia, iluminação e figurinos. Descobri que trabalhar a imaginação e a criatividade do público seria minha missão, num mundo tão obliterado de sensações", diz a diretora, que usa diversas formas de condução do público, como ficar sem enxergar, aplicar o toque, descobrir aromas e sensações para despertar "as mais recônditas emoções", explica a atriz.

"A cadeira de rodas é, e sempre foi, uma constante em minhas encenações e, a vida imita a arte, não ao contrário, hoje também sou uma cadeirante", revela a diretora.

O espetáculo mais recente do Sensus, 'Alice no Escuro', adaptação sensorial da famosa obra de Lewis Carrol, estreou no Sesc Bom Retiro, em São Paulo. O espectador entra com os olhos vendados e é conduzido pelos atores por um trajeto onde é interpretada a história.

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"Estreamos esse espetáculo dando sequência ao primeira 'infantil' feito pelo Sensus, 'O Pequeno Principe Sensorial', que circulou por Lisboa com atores, portugueses, moçambicanos, brasileiros e, no final de 2019, esteve no México, no Festival Internacional de Teatro Sensorial para a Inclusão. Essa participação rendeu convite para ir ao México no meio deste ano e ministrar uma oficina sobre o método e montar o espetáculo lá, com atores mexicanos", celebra Thereza.


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O grupo traz aos espectadores a consciência de ritmos internos, estimula pelos sentidos, com textos poéticos, imergindo o espectador na cena para autoreconhecimento e transformação.

"Tive inspiração em nomes como Sanchis Sinisterra, 'o ator colaborador', e em vários recortes dos pensamentos de Michel Foucault e Gilles Deleuze, para criar meu método de trabalho. O ator que trabalha no Sensus utiliza o corpo e a imaginação do espectador, muitas vezes, retirando um dos seus principais sentidos, a visão, como palco de sua experimentação e atuação", esclarece.

"Por isso, priorizo o respeito e a sensibilidade de cada profissional que trabalha comigo e o método que venho desenvolvendo. O trabalho do Sensus sugere que o ator e o espectador sejam criadores, seres pensantes".

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Thereza ressalta que o Sensus propõe um diálogo de imaginações entre o ator e o espectador para definir práticas artísticas contemporâneas como um espaço de resistência ao empobrecimento ético, político e subjetivo atual, tendo em vista o esvaziamento da experiência. "Quero tornar perceptível o que se encontra ativado no inconsciente".

Por meio de textos literários, trabalha a imaginação de forma ativa para encontrar imagens e dialogar com elas. "O público é chamado a interagir com os aspectos do inconsciente que pedem atenção em seu interior. Assim, conseguimos que haja uma negociação respeitosa entre as partes, consciente e inconsciente, e alcançamos uma compreensão que toca os sentimentos".


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Cardápio - Os espetáculos do Grupo Sensus estão disponíveis em um 'cardápio' para que empresas, instituições ou centro culturais contratem. "Não conseguimos ficar em cartaz por muito tempo como uma companhia de teatro convencional. Atendemos individualmente o público e as sessões normalmente têm de 50 a 60 pessoas, no máximo. Por isso, precisamos ser comprados, até porque, desta forma, conseguimos atender o público gratuitamente", diz.

Há um espetáculo do Sensus, 'Kinesis', que coloca o espectador, com e sem deficiência, em situações que somente as pessoas com deficiência enfrentam. "São textos poéticos de diversos autores, de Einstein à Neruda, e o público é induzido ultrapassar obstáculos", completa Thereza Piffer.




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