PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Diversidade e Inclusão

"Emprego Apoiado cria oportunidades equivalentes para evolução profissional"

Após denunciar boicote a uma enfermeira com autismo no Hospital do Servidor Público de SP, o blog Vencer Limites convidou especialistas e autoridades que atuam pela inclusão para avaliar o caso em artigos exclusivos. O primeiro texto é assinado por Cid Torquato, secretário municipal da pessoa com deficiência de São Paulo. Em pauta, a importância da estrutura de emprego apoiado para igualdade e equidade no ambiente de trabalho.

Foto do author Luiz Alexandre Souza Ventura
Por Luiz Alexandre Souza Ventura
Atualização:

 Foto:


A falta de estrutura de emprego apoiado, para garantir a pessoas com deficiência oportunidades equivalentes de aprendizado no ambiente de trabalho, pode destruir por completo um projeto de inclusão. O que deveria ampliar acessos ao emprego, acaba por reduzir as chances de evolução profissional. Nesse processo, ficam evidentes as práticas de discriminação e exclusão.

PUBLICIDADE

Um exemplo dessa dinâmica invertida está escancarado na denúncia da enfermeira Andrea Batista da Silva, que tem autismo e relatou boicote de colegas e superiores no Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) de São Paulo. O caso foi publicado com exclusividade pelo blog Vencer Limites. A reportagem levou o Ministério Público do Trabalho em São Paulo (MPT-SP) a abrir uma investigação.

O blog Vencer Limites convidou especialistas e autoridades que atuam pela inclusão para avaliar o caso em artigos exclusivos. O primeiro texto é assinado por Cid Torquato, secretário municipal da pessoa com deficiência de São Paulo.


Publicidade

 Foto:


Caminhos para um mercado de trabalho mais inclusivo

por Cid Torquato*

Fazer uma análise sobre a participação das pessoas com deficiência no mercado de trabalho não é uma tarefa fácil. Por mais que avancemos a cada dia, a cultura da inclusão precisa estar muito mais presente. Isso porque várias dessas pessoas continuam invisíveis e acabam não conseguindo chegar até oportunidades pelas quais estudaram, mesmo quando há esforço de sobra. Ainda temos que quebrar muitos paradigmas, esclarecer dúvidas e incentivar empresas a criar políticas que integrem a todos.

Há 27 anos foi aprovada a Lei Nº 8213/1991, conhecida como Lei de Cotas, que torna obrigatória a contratação de 2% a 5% de funcionários com deficiência em empresas com mais de 100 pessoas. Porém, dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) 2016, do Ministério do Trabalho, mostram que apenas 418 mil profissionais com deficiência estão empregados em todo o Brasil, o equivalente a menos de 1% dos empregos formais de todo o Pís.

Nesse sentido, questiono: por que, em pleno século 21, pessoas com deficiência nas empresas - e nos cargos de liderança - são tão poucas? Todos precisam ter a mesma oportunidade de poder voar mais alto.

Publicidade

A cada ano tem crescido a presença de pessoas com deficiência nas universidades que, aos poucos, estão se aperfeiçoando para atender demandas dos alunos com deficiência e se tornando agentes transformadores de vidas. Porém, ao chegar ao mercado de trabalho, muitos continuam se deparando somente com cargos inferiores, que não exigem diploma, como se fossem 'tapa-buracos' de funções básicas, que raramente envolvem promoções.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Empregar uma pessoa com deficiência não deve ser uma obrigação legal a ser cumprida e nem ser apenas uma questão de responsabilidade social. Vale lembrar que todos os funcionários de uma empresa têm os mesmos direitos e deveres, que precisam de igualdade de oportunidades, com equidade, para continuarem progredindo.

Além disso, não podemos esquecer que existem deficiências visíveis e invisíveis, congênitas e adquiridas ao longo da vida, e que, em ambos os casos, elas não devem ser priorizadas durante o processo seletivo. O que tem que ser levado em consideração durante a contratação é a capacidade de cada pessoa, o que ela tem para oferecer e seu potencial, como em qualquer outro caso. Quando uma empresa parte do princípio de que o recrutamento tem que ser feito pelo tipo de deficiência, trata-se de exclusão.

Abracemos também as tecnologias, que hoje possibilitam o uso de softwares gratuitos de leitura de tela para pessoa com deficiência visual ou de tradução de conteúdo de sites para Libras, no caso de pessoas com deficiência auditiva. Várias dessas medidas, digitais ou físicas, são a prova de que acessibilizar os processos não custa caro.

Temos, ainda, que entender que a acessibilidade arquitetônica já teria que estar por toda a parte. É inaceitável que uma empresa, seja ela pública ou privada, recuse um trabalhador, usuário de cadeiras de rodas, por exemplo, por não ter uma rampa de acesso ou um banheiro amplo e preparado. A acessibilidade arquitetônica é para todos, idosos, gestantes, crianças. Quem já se lesionou e precisou de uma muleta ou cadeira de rodas por algum tempo sabe das dificuldades enfrentadas quando um local não é totalmente acessível, não?

Publicidade

Outra questão é a convivência com os demais colegas, parte complementar do processo. A inclusão deve ter mão dupla, estimulada tanto pela pessoa com deficiência quanto pelos demais, por meio do contato diário. Todo ser humano tem suas particularidades e só chegamos a uma convivência saudável quando conhecemos cada um.

Em tempos de rotinas tão atribuladas e demandas imediatas, incluir é o melhor caminho para trazer pessoas que não apenas somem ao time, mas que cresçam em suas carreiras e sejam essenciais para uma perspectiva cada vez mais humana em todas as empresas. Lutemos por isso!

*Cid Torquato é advogado, tetraplégico, e comanda a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPED) de São Paulo.


Mande mensagem, crítica ou sugestão para blogVencerLimites@gmail.com

Acompanhe o #blogVencerLimites nas redes sociais

Publicidade

YouTube


Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.