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Diversidade e Inclusão

Profissionais e empresas tentam encurtar a distância entre as pessoas com deficiência e o mercado de trabalho

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Por Luiz Alexandre Souza Ventura
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Curta Facebook.com/VencerLimitesSiga @LexVenturaMande mensagem para blogvencerlimites@gmail.comO que você precisa saber sobre pessoas com deficiência

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"Não somos coitadinhos", diz o estudante de educação física Mario Junior Freitas Corrêa, de 36 anos. "É fundamental que a pessoa com deficiência aceite esta condição e, a partir disso, vá em busca de suas realizações pessoais e profissionais", afirma o auxiliar rodoviário, que trabalha há pouco mais de dois meses no Grupo Águia Branca, contratado na lei de cotas, em vigor desde 24 de julho de 1991.

Ele faz parte de um grupo de profissionais considerados 'supervalorizados' pelos setores de recursos humanos das empresas, mas que ainda travam uma luta diária para provar que competência, inteligência, habilidade e disposição não são condições sufocadas por limitações físicas.

Mario Junior é uma pessoa com deficiência porque tem, no braço esquerdo, paralisia braquial obstétrica (PBO), lesão nos nervos responsáveis pelo movimento e sensibilidade de mãos, braços e dedos, adquirida no parto.

O problema não o impediu de começar a surfar aos 14 anos, além de praticar atletismo e triatlo, modalidade na qual busca uma vaga para disputar as paralimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Criado na periferia de Vitória (ES), desde menino ele viu no esporte um aliado contra a falta de emprego e o constante 'assédio' da criminalidade. "Trabalho três dias por semana, de 8h às 12h. No restante do tempo, eu treino", diz.

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 Foto: Estadão

"Hoje temos seis pessoas com deficiência que são atletas, contratadas a partir de uma parceria com uma associação de paratletas. São funcionários como todos os outros, mas o horário de trabalho foi flexibilizado em função dos treinos", afirma Valesca Falqueto, gerente de recursos rumanos da Viação Águia Branca e da Viação Salutaris, empresas dos Grupo Águia Branca. "Os paratletas nos ensinam muito porque nos fazem refletir, principalmente sobre superação", destaca a gerente.

O encontro de Mario Junior com a empresa só se realizou depois de muita busca dos dois lados. "Após terminar o ensino médio, fiquei 14 anos sem estudar porque precisava trabalhar. Durante este tempo, me dediquei ao esporte e batalhei por uma posição no mercado, mas sempre foi muito complicado. Mesmo com a lei de cotas, muitas empresas querem selecionar o 'tipo' de deficiência que serve para a vaga em questão. Se é para atendimento ao público, uma pessoa como eu, que tem o braço atrofiado, acaba sendo descartada porque isso, na visão de alguns empresários, choca o cliente", afirma.

Atitude - Em abril deste ano, a promotora de vendas Regina Venturini viu uma placa na porta de uma empresa em Jundiaí, interior de São Paulo, anunciando vagas de trabalho. Pessoa com deficiência desde 2002, quando sofreu um acidente de carro aos 26 anos de idade, ela batalhava por um emprego havia um bom tempo e já tinha enfrentado todos os tipos de obstáculos, inclusive o preconceito, nesta busca. "Não havia nada sobre vagas específicas. Encarei todas as etapas do processo de seleção habitual e só fui contratada dentro da cota porque meu currículo informa minha condição e o médico que aprovou minha admissão me perguntou se eu aceitaria ser cotista".

Hoje, ela trabalha no Grupo Astra, tem planos bem estruturados sobre seu crescimento profissional dentro da empresa e enxerga muitas possibilidades, mas sabe que sua situação é uma exceção. "Pessoas com deficiência não são supervalorizadas. É bem diferente disso. Na verdade, é muito triste, porque as oportunidades são quase sempre para funções menores e boas possibilidades praticamente não existem".

"Há muita exigência e pouca compreensão. As empresas querem experiência, formação, mas não avaliam as dificuldades que uma pessoas com deficiência enfrenta. Muitas companhias não querem 'gastar' com adaptações e existem várias que preferem apenas ignorar o assunto", afirma Regina.

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Executivos - A head hunter Fernanda Máximo, consultora da Havik, entrevistou, em um período de dois anos, mais de mil pessoas e conseguiu recolocar 600 profissionais no mercado de trabalho. "O mercado financeiro é o setor que tem as melhores políticas para a lei de cotas. Consegui preencher 80 vagas para pessoas com deficiência, em todos os tipos de função. E, atualmente, estou intermediando sete processos de seleção".

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Ela afirma que, para cargos executivos, algumas empresas chegam a oferecer salários 20% maiores às pessoas com deficiência, mas ela reconhece que o cenário é de muita dificuldade. "Muitas companhias não entendem a necessidade de criar uma estrutura para receber estes profissionais e ainda encontramos empresários que preferem pagar multa do que investir em adaptações".

Sobre a distância entre as vagas específicas nas empresas e as pessoas com deficiência, Fernanda Máximo diz ser necessário que todos busquem alternativas para esta aproximação. "Já houve situação na qual eu tive de procurar profissionais nas comunidades, em igrejas, associações comerciais de bairros, ONGs e outras instituições, porque não havia ninguém no meu cadastro que pudesse atuar na posição oferecida".

Lei de Cotas - O artigo nº 93 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, determina que a "empresa com 100 ou mais funcionários é obrigada a preencher de 2% a 5% dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas com deficiência", nas proporções:

- de 100 a 200 empregados: 2%- de 201 a 500 empregados: 3%- de 501 a 1.000: 4%- de 1.001 em diante: 5%

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A mesma lei estabelece que a "dispensa de trabalhador reabilitado ou de deficiente habilitado ao final de contrato por prazo determinado de mais de 90 dias, ou sem motivo no contrato por prazo indeterminado, só poderá ocorrer após a contratação de substituto de condição semelhante" e também que "Ministério do Trabalho e Previdência Social devem gerar estatísticas sobre o total de empregados e as vagas preenchidas por reabilitados e deficientes habilitados, fornecendo-as, quando solicitadas, aos sindicatos ou entidades representativas dos empregados".

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