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Diversidade e Inclusão

Projeto apoia pessoas com deficiência intelectual que decidem viver sozinhas

Programa de moradia independente trabalha a privacidade como um fator de desenvolvimento e amadurecimento, para que jovens e adultos construam a própria identidade e conquistem autonomia.

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Por Luiz Alexandre Souza Ventura
Atualização:

Nicolas Munhoz, de 30 anos, fez parte do grupo de quatro jovens que se mudaram para o novo imóvel na primeira semana de funcionamento do programa. Foto: Divulgação.


A primeira unidade de um novo projeto de moradia independente para jovens e adultos com deficiência intelectual funciona desde novembro do ano passado no Rio de Janeiro, no bairro do Flamengo. Criado pelo Instituto JNG com a empresa de hospedagem Uliving, o programa nasceu para dar base à transição da pessoa com deficiência intelectual à fase adulta e quebrar a crença ainda comum em muitas famílias de que seus integrantes 'especiais' não têm condições de viver sozinhos.

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"A privacidade é um fator de desenvolvimento, que mostra com nitidez a separação do outro e fortalece a construção da própria identidade", diz Flavia Poppe, diretora do Instituto JNG.

Nicolas Munhoz, de 30 anos, filho da diretora, fez parte do grupo de quatro jovens que se mudaram para o novo imóvel na primeira semana de funcionamento do programa. "Ele decidiu que era o momento de fazer essa transição", conta Flavia.

Método - A pessoa com deficiência intelectual, seus familiares e responsáveis respondem a um questionário com mais de 260 perguntas, passam por entrevistas individuais e em grupo.

"É uma avaliação prévia para determinar quais e quantos apoios a pessoa precisa. O trabalho é feito de maneira individual", explica a diretora do Instituto JNG. "Não há uma determinação sobre a pessoa ser ou não apta. O projeto abrange casos severos e considera tudo que está ao redor, mas é muito importante deixar claro que não se trata de um espaço de cuidadores", comenta.

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"Quem nos procura passa por uma jornada de acolhimento, de dois a três meses, quando a pessoa e família são abraçadas e participam de um processo estruturado que dá conforto e segurança para a pessoa com deficiência intelectual sair da casa dos pais. Nosso trabalho está em constante aprimoramento", afirma a diretora.

O programa foi inspirado em experiências de sucesso que a Flavia visitou em países como Inglaterra, Israel, Espanha e Estados Unidos. "Aqui no Brasil ainda enfrentamos muitas barreiras de acessibilidade arquitetônica", diz Flavia.


"A privacidade é um fator de desenvolvimento, que mostra com nitidez a separação do outro e fortalece a construção da própria identidade", diz Flavia Poppe, diretora do Instituto JNG. Foto: Divulgação.


A Uliving trabalha com um modelo de moradia que remete às repúblicas de universitários, o que atrai um público jovem, principalmente estudantes, mas tem muitos diferenciais, especialmente na organização e segurança, com espaços bem definidos. O pagamento mensal engloba aluguel, luz, internet, condomínio e serviços (clique aqui para consultar os preços).

"Por essa característica diversa, o acolhimento às pessoas com deficiência intelectual tem sido muito positivo. É uma geração que compreende os benefícios da inclusão e pratica isso diariamente", comenta a diretora do Instituto JNG. "É possível ter duas pessoas com deficiência intelectual no mesmo imóvel, inclusive casais", ressalta Flavia.

"O grupo piloto, no ano passado, tinha 17 famílias, em São Paulo e Rio de Janeiro. Começamos no Rio porque foi onde surgiu maior interesse", esclarece Flavia Poppe. "A deficiência intelectual é o foco do trabalho, que tem uma vocação natural para o senior living, por sua estrutura de apoio completo e abrangente", diz.

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Valores - Além do pagamento mensal à Uliving, os integrantes do programa de moradia independente para pessoas com deficiência intelectual também pagam pela estrutura de apoio. Esses valores podem variar entre R$ 4.250 e R$ 6 mil, conforme os recursos necessários. "A quantidade de moradores com deficiência intelectual no mesmo imóvel ou no mesmo prédio pode reduzir o valor individual do apoio", destaca a diretora do Instituto JNG.

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Neste primeiro momento, conta a diretora, o instituto está bancando o projeto. E busca patrocinadores, que podem bancar o gasto do morador ou pagar pela estrutura de apoio.

Flavia Poppe é economista e afirma que um modelo ideal de financiamento tem de ser tripartite, com participação do estado, da iniciativa privada e da família, de acordo com um critério de renda.

"Muitas famílias têm condições financeiras para incluir seus filhos e filhas neste tipo de programa, mas há pouco conhecimento sobre as possibilidades da pessoa com deficiência viver com independência e a importância dessa autonomia. Precisamos quebrar esse limite", destaca a diretora do Instituto JNG.


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"Nico decidiu que era o momento de fazer essa transição", conta Flavia Poppe. Foto: Divulgação.


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